"Ascensão e queda": romance de estreia!

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Contos de Wander Shirukaya

Para aqueles que querem conferir o que tenho escrito, dêem uma olhada aqui!

Tergiverso

Sensualidade em forma e conteúdo aguardando sua visita.

O híbrido e a arte

Animes, cinema e literatura

Procurando entrevistas?

Amanda Reznor, André Ricardo aguiar, Betomenezes... Confira estes e tantos mais entrevistados por Wander.

31/05/2010

Sexo e violência, baby! (parte II)


Em nosso segundo encontro para falar da influência do sexo e da violência nas artes, violo um pouco da premissa, que era de dar ênfase à música e à literatura, mostrando um exemplo que vem das artes plásticas. Para esta parte da discussão, preocupe-me em me ater ao sexo como assunto principal. Não é novidade para ninguém que o ser humano é hedonista. Talvez por natureza, talvez pelo contexto em que viva, mas é certo de que a busca desenfreada pelo prazer é o que o move sua existência (ou pelo menos parte dela). Se essa busca se der com o mínimo de dor, melhor ainda. E o que a Audrey Kawasaki faz aqui no nosso debate? É o que mostro a seguir.
Caro leitor, atenha-se a esta bela ilustração deste post e responda: o que chama atenção, o que mais chama oou o que te chamou primeiro a atenção nela? Alguns podem até falar da suavidade dos traços, raros serão aqueles que se impressionarão de cara com a pintura feita em madeira pela artista. Boa parte se apegará às diversas sugestões insinuadas pelas duas moças nuas do quadro. Dependendo de inúmeras coisas, como seu sexo, credo ou valores, o visão será diferente, mas é quase certo que as duas figuras sejam a atração. Deixem comentários dizendo se estou certo quanto a isso. O que vejo é que isto prova que a beleza estética do quadro é meio que deixada de lado para que se aprecie as duas figuras - claro que sabemos que estas são parte do quadro, e contribuem para todo o trabalho estético envolvido, mas é fato que só lembramos, grosso modo, de apreciar o todo depois de nos apegarmos à parte que me refiro aqui, talvez até pela conotação yuri sugerida pelas figuras. Sendo assim, o belo quadro consegue exemplificar como o sexo nos é fascinante. Dêem a opinião de vocês a respeito. O que mais chama a atenção neste quadro? Fiquem à vontade, o Blog do Shirukaya é de vocês.

Ficha técnica:
Audrey Kawasaki.

"Octo Girls"

Oil on wood 24x15
Venus - Roq La Rue
2006
Fonte: aqui.

30/05/2010

Prog, Indie e Fusion: primos? (parte IV)


Alguns de vocês podem não gostar, o que é até normal e saudável, mas não há como negar que o Sonic Youth foi um dos grandes nomes mais influentes da música nos anos 90. Basta observar - ou melhor, ouvir - o que outros grandes nomes, tais como Radiohead, Nirvana, The Smashing Pumpkins e Pearl Jam produziram ou produzem até hoje e fica fácil confirmar minha afirmativa primeira. Isso tudo se deve, em muito, ao experimentalismo exacerbado que aproxima a banda de outros estilos como já venho exibindo. É meio difícil rotular essa turma, especialmente quando vemos as orquestrações baseadas em feedbacks, usando um imã na guitarra, ou então quando vemos as diversas afinações estranhas de suas músicas. Não é à toa que é possível encontrar o Sonic Youth em diversos tipos de festivais. Basta, para nós brasileiros lembrarmos do Free Jazz Festival. Resumindo, temos aqui outro exemplo de como o experimentalismo une esses três segmentos musicais a que me refiro nesta série.
Para esquentar, vai um vídeo da época atual, ainda muito boa de Kim Gordon e cia. Apreciem, deixem comentários sobre o assunto. Prog, indie e fusion realmente têm a ver? Aguardo suas respostas.




28/05/2010

Acho que ouvi um ganido: por que é tão difícil achar uma letra boa? (parte V)


Bjork Punk?

Nos capítulos anteriores de nossa análise de letras e letrsitas, tomo aqui um exemplo de coisa boa, isso porque acredito não ter que mostrar o que é ruim; vocês, leitores inteligentes que são, já sabem. Figurinha carimbada na música nas duas últimas décadas, Björk é comumente vista como uma artista muito à frente de nosso tempo, seja pelo quão exóticas nos parecem suas raízes islandesas, seja pelo seu experimentalismo desenfreado, livre dos vícios da moda pop que vemos por aí. A letra que apresento e a que teço um breve comentário, é Declare independence, do álbum Volta (2007)

Declarem Independência

Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
- Justiça -
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
- Justiça -
Façam sua própria moeda
Façam seus próprios selos
Protejam sua língua
- Justiça -
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Façam sua própria bandeira
Façam sua própria bandeira
Façam sua própria bandeira
Façam sua própria bandeira
Levantem sua bandeira
Levantem sua bandeira
Levantem sua bandeira
Levantem sua bandeira
Levantem sua bandeira
Levantem sua bandeira
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Malditos colonizadores
Ignoram seu patriotismo
Tirem suas vendas
Abram seus olhos
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Com uma bandeira e um trompete
Vão para o topo
De sua montanha mais alta
E hasteiem sua bandeira (mais alto, mais alto)
Levantem sua bandeira (mais alto, mais alto)
Levantem sua bandeira (mais alto, mais alto)
Levantem sua bandeira (mais alto, mais alto)
Levantem sua bandeira (mais alto, mais alto)
Levantem sua bandeira (mais alto, mais alto)
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Declarem independência
Não deixe que eles façam isso com vocês
Levantem a bandeira

A fonte da tradução e letra original você encontra aqui.


Vejam só como uma artista que tende em toda sua obra a misturar acústico e eletrônico consegue compor algo de bom gosto e com mensagem de dar inveja a muitas bandas pseudo-punks de nossa atualidade. Ouvindo a música também sentimos essa crueza típica da urgência das bandas que gostam de ser diretas para espalhar suas mensagens. Isso fica claro também na própria letra. É fácil ver a mensagem de busca pela independência, essência da filosofia do it yourself dessas últimas décadas. Os gritos de "mais alto" na canção enfatizam tudo, como se chamando o ouvinte para participar de uma revolução e erguer-se, impor-se, hastear sua própria bandeira, fundar sua nação. É uma letra direta, mas de força semântica incrível, que abre também espaço para novas interpretações, como se espera de uma grande obra. Para não estender muito, já mostrei um detalhezinho ou outro; deixo agora espaço para os comentários. Deixo também o clipe com a canção, para aqueles que não conhecem ou não se lembram.





27/05/2010

Mais um episódio do Silêncio Interrompido

26/05/2010

Livro I; Cap. VI - Mais uma falha

Por sorte de Saruman e Dankill, os demais acabaram os encontrando no meio do caminho. Socorreram-no com algumas magias de cura e poções para restabelcer a saúde. Em seguida, os dois explicaram tudo que aconteceu, alertando para um possível embate com Dinobiú. Mais cautelosos, todos seguioram beirando as ruínas, enormes pilares e construções de pedra incompletas no alto de uma colina a poucos quilômetros da capital Astar. Depararam-se com alguns inimigos, desta vez, esqueletos de animais animados, que enfurecidos avançaram no grupo. As magias de Zephir, a besta de Milo e o Machado de Dankill não deram muita oportunidade para os inimigos, que caíram logo. Mesmo o esqueleto gigante que rondava o local acabou não sendo páreo.
- Juntos não tem pra ninguém! - falou Legolas.
Revistaram todo o local, mas não encontraram nada que pudesse ser útil. Nem uma erva medicinal, nem poção mágica nem nada do tipo que pudesse livrar o sanfoneiro Kailan daquela enfermidade. Ao cair da tarde, o cansaço já batendo, não restou muito a não ser retornar para Astar, antes que se encontrassem com o sumo-sacerdote novamente.
Anoitecia quando Judite os mandou entrar na casa de Chizuru. A maga estava com o rosto preocupado, transmitiu essa preocupação para os demais. Não precisou que Gimli ou qualquer outro perguntasse algo; ouviram logo sair da boca do doente:
- Parn...

25/05/2010

Às teclas pretas do piano*




Que bonitinha, não é? Os comentários escorriam da sala para o quarto, enquanto os longos cabelos eram presos com um laço discreto ao extremo. Em cada minúcia se sentiria a perfeição no preparo, tal como aquelas atrizes que estão prestes a entrar para a cerimônia de premiação. A saia, pronta para cumprir o dever, apertou a cintura, olhou para o espelho, do reflexo via a franja esconder-se às orelhas, o brilho dos lábios diminuindo, o dos olhos tentando aumentar. A luz foi apagada, deixou a menina correr para brilhar.

A família sentava confortavelmente, a tia batia discreta na mão do filho que arranhava o assento. Jacarandá-da-bahia, lindo, dava dó de sentar. O ambiente era bastante descontraído, muito agradável, uma cama acolhedora de sensações. Cecília, mãe dedicada, esforçava-se ao máximo para não escancarar a satisfação. No centro da sala, o piano. Antigo, mas como todo vintage que se preze, inesquecível a qualquer olho que o debruce. Eis que todos vêem a menina dos olhos chegando absorta, contemplando todo espírito do local. Na sala a cara de tia da tias, o pirralho tentando riscar o móvel, a mãe no tino de sempre, aguardando o sublime espetáculo. Vê que linda é minha filha? Precisa ver como toca, um anjo só! Linda mesmo a sua filha. Mãe, posso ir no banheiro? Que menino chato! Espera terminar a apresentação da sua prima! Faltou organizar a iluminação, mas os presentes não ousavam se queixar. Era só um detalhe perto da luz que logo encheria a saleta. Glória a Deus, todo poderoso, por me dar a dádiva de ter filha tão... Tão...

Dava pra sentir no último fio de cabelo a tranqüilidade com que a garota alongava os dedos, fitando as teclas do piano. Estas, por sua vez, choravam, criavam infindáveis marolas com as lágrimas. Marolas de um pesar que alegrava. Que canção linda! A tia só seguia as palavras de Cecília, que bem sabia quão bela era a tragédia. Dó menor. E a frieza que a música exigia exalava da garota. Uma frieza compassada, respirada em cada intervalo, causando calafrios na platéia, quase nenhum erro.

Quase.

No meio de um trecho tão complexo era de se perdoar que uma nota saísse lugar, ainda mais sem a partitura para a ajuda. A mãe parece ter sido a única a notar, fez meio que um aplauso forçado para disfarçar. Bravo, minha filha! Excelente! A tia aplaudiu em seguida, enquanto o menino fugiu sem ser notado, em busca da felicidade. Os olhos de Cecília, nadando entre marolas sutis como as teclas, orgulhavam-se, enquanto os dedos da menininha concentrados despencavam sobre o piano.

Chega um trecho alegre, bem mais difícil, conduzindo as emoções dos ouvintes. A cara de tia agora era de fã incondicional. Bravo! Esta menina é maravilhosa! Não sabia de nada, mas o entusiasmo contido de Cecília merecia ser manifestado, nem se tivesse que ser por outra pessoa. E descem e sobem escalas com uma desenvoltura assombrosa, quase não se vê o rosto da pianista, debruçada sobre o piano para não perder a concentração, tão grande essa que fazia sorrir às teclas, ao menos às brancas. A mãe rezava baixinho em agradecimento e proteção, especialmente enquanto a canção entrava na parte mais difícil, onde tinha de imbuir-se de um ódio que fervilhasse para culminar nos taciturnos interlúdios do começo, encerrando sua representação. Torço por você, minha filha.

As teclas, felizes, cantarolavam veloz uma melodia que deixava a todos sem ação, criava uma catatonia, uma catarse interna, um infinito de apenas 13 segundos. Eis então o tropeço. Visível. Audível. Perdoável. Com desenvoltura, o mais rápido possível, a canção foi retomada, uma bela frase encerrou a obra de arte. A mãe aplaude, menos contida que anteriormente, com lágrimas nos olhos. A tia segue os passos, eufórica ajoelha seus aplausos em reverencia à apresentação, apesar do pequeno lapso. Tudo acaba bem, o pirralho volta para a sala e pergunta do lanche, dando os parabéns à prima. A menina via os olhos de todos. Felizes. Todos se dirigiam para a cozinha. Cecília aplaudia já comedida, olhava fixamente a filha. A mocinha agradecia com um sorriso, enquanto fitava os olhos da mãe; olhos de palmatória.

24/05/2010

Anos 00: o que houve? (parte VII)


Continuando a mostrar o que realmente houve de significativo na década de 2000, para mostrar diferentes vertentes musicais, não podia esquecer de falar do heavy metal. É verdade que o segmento, com a difusão do new metal na segunda metade dos anos 90, acabou pedendo muito de sua qualidade, sendo vítima até de certa aversão por parte dos headbangers que vieram de tempos mais distantes. Não nos convém aqui discutir o motivo exato dessa baixa, ela serve apenas para observamos que quando tudo parecia seguir mesmo esse rumo de um rock mais para as massas, eis que algumas bandas chamam a responsabilidade, meio que sem querer, e acabam mostrando como se faz boa música. Uma dessas bandas - falarei de outras em breve - é o Tool. Até hoje a banda se faz em cima de um experimentalismo excessivo, que mistura inúmeros elementos para criar uma música deveras envolvente, mas que por outro lado não é fácil de ser absorvida. A banda nasceu lá atrás, ainda nos anos 90, onde apenas ficou conhecida para aqueles escavadores de pérolas preciosas no mundo da música. A mistura, de rock, teorias de Jung, Thelema, sexo (claro), bem como a complexidade de seus clipes e outras coisinhas mais colocaram a banda numa situação de prestígio. Apesar disso, a consagração só veio em 2001, quando se pensava que nada de bom se produziria no heavy metal do Séc. XXI, com o excelente Lateralus. Não, meus caros, a consagração não se fez tornando a música mais acessível; pelo contrário. A música se tornou ainda mais complexa e o álbum conceitual teve o mérito de por o ouvinte numa espécie de transe. Infindáveis mensagens subliminares escondidas nas músicas e nas estranhíssimas vinhetas aguçaram ainda mais a curiosidade dos ouvintes. O álbum se tornou sucesso de crítica e público e seu excêntrico vocalista, Maynard James Keenan, se tornou uma das grandes vozes do metal. Recomendo essa obra de arte a todos aqueles que acreditam no poder que a música tem de transcender a simples experiência da audição, e também auqeles que estão cansado das fórmulas impostas pela mídia aos artistas contemporâneos. Apreciem, vocês estão diante de uma daquelas obras que não se tem como negar a qualidade. No mais, deixo um clipe para mostrar a beleza e complexidade da banda. Espero que gostem.





23/05/2010

Sobre "O silêncio de Lucy"


Sim, mais um conto chega à conclusão. O silêncio de Lucy segue a linha do horror, do fantástico, com uma história inusitada e intrigante. A narradora é a empregada de muitos anos da família, presencia a morte de todos os familiares da pequena Lucy, um após o outro. O que chama a atenção é que nenhum de seus familiares fora assassinado: eles simplesmente se suicidaram, com pouco ou sem nenhum motivo aparente. A garotinha sofre de um ranstorno estranho, e por isto não parece interagir com o mundo, vivendo sozinha a maior parte do tempo, rabiscando folhas de papel com gizes e lápis de cor. Otávia, a empregada, sente medo; vive buscando a razão, o que culmina num final mais estranho ainda. A garotinha Lucy? Bom, um dia saberão o que acontece com ela.

22/05/2010

Cortázar em curta-metragem

O grande Julio Cortázar fez história na literatura universal, não só por escrever grandes contos, mas também por contribuir com folga para a definição do que verdadeiramente pode ser chamado de conto. O que vemos a seguir é uma adaptação de seu clássico Casa Tomada para o cinema. O curta-metragem homônimo (Delamort Producciones) está em espanhol, mas pela pouca quantidade de diálogos não prejudicará o entendimento de quem passar por aqui e não cohnhecer a língua. Comentem, meus amios, pois estão diante de uma obra-prima da Literatura Fantástica.

21/05/2010

A fúria cotidiana (parte III)


O determinismo pode não ser a pedra fundamental de nossa existência, mas com certeza não podemos negar a força com que ele nos força a seguir como se tudo estivesse premeditado. Por mais que nos esforcemos, vemos um mundo cada vez mais nos impondo a filosofia do "deixa a vida me levar", o que comprova todo o poder dessa fúria de que tanto falo aqui. Em O laço, vemos um grande exemplo disso, já que neste conto todo o conflito é gerado pelo determinismo do contexto. A moça que vive uma vida amarga no orfanato e descobre o amor quando finalmente encontra uma família que a adote, o que traz para si uma infelicidade ainda maior. O fato de ter nascido em um orfanato faz com que todo o seu drama só aumente, mesmo que à primeira vista o leitor pense que a sua dadoção significaria sua felicidade. Segue um trecho que já consegue ilustrar o que digo:

"Foi num dia doze, que eu me lembre, que a felicidade me bateu a porta. Não tive nem tempo de arrumar o laço; Dona Luzia me puxou pra sala, lá tava uma mulher quarentona, bem apanhada. Riu de mim, não por causa do laço torto, mas porque tinha me achado bonita. Que linda você é, meu anjo! Como é comum de pet shop, sorri. Oi, senhora. Meu nome é Beatriz. Que linda! Me admira que esteja aqui ainda. Tem doze anos? Não, nove. E vinha me visitar sempre, eu gostava dela. Vinha ela e o marido, um homem alto, ranzinza. Mas não tinha do que reclamar, senão meus olhos verdes nunca iam ver o lado de fora. No dia que ela me buscou eu senti que o laço tava quase no lugar. Deve ser bom sinal. Era não. Porque naquele dia conheci Davi, o filho da minha mãe. O meu porto..."


20/05/2010

Sexo e violência, baby! (parte I)


A afirmativa que puxa o carro de nossa nova discussão aqui não é nova - dá até para chamar de pré-histórica, dado o tempo que é utilizada: sexo e violência despertam um fascínio sem igual ao ser humano. Vemos isso em tudo: trabalho, rua, festas, igrejas... Na internet sem fala, já que juntando os dois elementos citados estamos diante de mais da metade desse todo virtual a que temos acesso hoje em dia. As razões para essa atração e seus impactos são variadas, estudadas por sociólogos, filósofos e psicanalistas em geral. É óbvio que as pessoas que conseguem perceber esse nosso elo agridoce tentam usá-las da melhor maneira conveniente - o que nem sempre significa que é uma maneira ética ou justa. Esta aí a publicidade que não me deixa mentir. Entretanto, não é para a propaganda mal feita que apontaremos nossos neurônios; vamos falar, como já é de costume aqui, das artes, em especial da música e da literatura. Espero que gostem dessa nova série de posts que aqui surge, e se se sentirem à vontade, já podem postar uma primeira impressão concernente ao assunto na nossa seção de comentários.

18/05/2010

Arte: a morte é o começo? (parte IV)


Sim, meus amigos: Dio is dead. A perda é grande para o mundo dor rock, que esta semana se cobre de tristeza, morreu em paz, como foi divulgado na mídia, deixando os fãs inconsoláveis. O pesar é grande, e, cá entre nós , vem bem a calhar sobre o tema que tratamos por estes tempos aqui no blog. O luto coletivo se dissemina com rapidez e todos sentem pela morte de um grande artista que também sabia o significado do Rock'n'roll (até quem não conhecia). A partir do que discutimos nos outros posts desta série, podemos nos perguntar qual o próximo passo agora. O número de donwloads dos discos do Dio, do Rainbow e do Sabbath vai aumentar consideravelmente por um tempo; várias homenagens serão prestadas somente agora, pois o morto já não pode vê-las e comentá-las. Algumas coletâneas serão lançadas na praça? Virão tributos, com direito a covers feitas por grandes bandas? Acho que a resposta a isso tudo virá logo; é triste, mas não dá para negar que por causa desta cultura do luto que temos a morte serve também para uma divulgação. A morte foi simples, se considerarmos as mortes trágicas que costumamos ouvir por aí, com muito sangue, lágrimas e tragédia, mas tem um impacto também. Esse impacto, logo, logo se mostrará, como é com a morte de todo artista, independente de sua qualidade. Enfim, aguardemos um best of. Aos mais jovens, fica aqui a notícia da morte do grande Ronnie James Dio, e a boa oportunidade de eles conhecerem esse artista que tem muito a oferecer.



17/05/2010

Livro I; Cap. V - O sumo-sacerdote das trevas

Não adiantou muita coisa os conselhos do Halfling Milo, pois Dankill, o bárbaro, e Saruman, o feiticeiro, apressaram-se na frente, sem esperar pelos demais. Alguns escaravelhos vencidos no meio do caminho de mata um tanto aberta e eles chegam a uma pequena trilha. Não seria nada demais se não tivessem se deparado com aquele estranho ser que rumava não se sabia para onde.
Era muito velho, mas de postura ereta; tinha uma barba completamente branca e era calvo. Muitas vezes a dupla a impressão de não ver nada em seus olhos, nem a íris, por sinal. Vestia-se com uma longa roupa de religioso, preta ao extremo. Perguntou de imediato o que faziam aqueles dois nas redondezas.
- Saia daí, velho, não queremos conversa.
- Não posso deixa-los passar. Como se atrevem a me levantar a voz?
O feiticeiro log se impos, chamando para o combate:
- Se tenta nos impedir, então será desruído.
Meio que com uma cara de "Ora, não me faça rir", o senhorandou em frente, como se ignorasse o combate. Ao ser atacado, logo dispárou uma mágica nos seus adversários.
Uma energia cinzenta negativa criou-se nas mãos deles e se expandiu em círculo nos arredores. As poucas flores do meio do caminho murcharam, um pássaro caiu ao chão. Caíram também Saruman e Dankill, sem chances de reação.
- Da próxima vez, tentem não se aproximar destas ruínas, seus idiotas - falou baixinho Dinobiú, que foi embora, enquanto a dupla agonizava.

16/05/2010

Entrevistando Léo (Mr. Torture/ Hon_day)

Fazia um bom tempo que não passava ninguém por aqui para ser entrevistado. Quebrando o marasmo, bati um papo via e-mail com Leonardo, guitarrista das bandas Mr. Torture e Hon_day e figurinha carimbada da cena rock de Santa Rita - PB. Confira a discussão:


Wander - Apresente-se aos leitores aqui do blog e que ainda não te conhecem.

Léo - Ok, vamos lá ... Me chamam de Léo, sou guitarrista, amante de música, gosto de heavy metal,blues, mpb e erudito. Sou solteiro, moro com meus pais, cachorro e irmã; estou sempre tocando ou compondo, gosto de cantar também e minha maior influência como guitarrista é o Yngwie Malmsteen.

Wander - Soube que você está com projeto novo na praça. Do que se trata?

Léo - Sim. Na verdade, é bem antigo, desde a época do Mr Torture eu já fazia músicas que não se encaixavam com banda; a idéia do Mr Torture sempre foi ser cover. Depois que conheci Halley [vocalista] mostrei o material e ele se interessou. Montamos a parceria e começamos a trabalhar; hoje o projeto está vindo à tona. Se chama Hon_day. Esse nome foi tirado do filme A múmia vamos trabalhar com temas egípicios, se inspirando também no Powerslave do Iron Maiden. Estamos em estúdio no momento. Estou muito animado com esse projeto; talvez eu cante até uma faixa na demo. Pra quem quiser conhecer tá aí o link do primeiro protótipo que gravamos:
http://www.myband.com.br/hon_day/. Ainda faltam ajustes.


Wander - Como ficará a Mr. Torture depois do surgimento desta nova banda?

Léo - isso todo mundo pergunta. A banda continua, mas passei a liderança pra Wictor [vocalista da Mr. Torture], por enquanto não posso ensaiar, mas quando eu estiver livre voltaremos. A formação é quase a mesma; o único que saiu foi o baterista.

Wander - Como anda a cena rock de Santa Rita, a sua cidade?

Léo - shows quase não tem, mas tem muitas bandas se dedicando a gravar demos e cds. Digamos que tem uma cena boa por aqui ainda.


Wander - Como lida com desqualificação do artista pelas pessoas ignorantes?

Léo - Eu não costumo lidar com esse tipo de pessoas mas na maioria das vezes elas são sempre "ignoradas".

Wander - O que tem ouvido e lido ultimamente? O que recomenda ao pessoal do blog?

Léo - Humm... Não sou muito de ler, mas estava lendo o livro de Revelações da Bíblia pra terminar composições. Li também
Eldorado... Estou ouvindo Yngwie Malmstten, Wasp, Iron Maiden, Steve Ray Vaughan e outras coisas mais... Recomendo ouvir Yngwie Malmsteen + Philarmonic Orchestra of Japan. Ouçam tambem Bach, Beethoven, Vivaldi e Mozart.

Wander - Deixe uma mensagem para nossos leitores.

Léo - Amem a sua música e acredite nela; continue sendo a exceção à regra e não aceite o que não é justo. Se você é instrumentista, continue treinando suas 6 horas por dia. Não corte seus cabelos, não se esqueça da sua cerveja e ouçam a demo da Hon_day. HEAVY METAL IS THE LAW!!!\m/




15/05/2010

Música e assistência social


Bem sabemos que arte não tem como prioridade as causas sociais (pelo menos acho que todos sabem disso), porém é inegável o uso da arte como ferramenta na hora de se fazer algo pelo bem-estar social do próximo. Sendo hoje o dia do Assistente Social, este post serve de homenagem a todos os que dão sentido ao altruísmo, bem como aos estudos das medidas que devem ser prioritárias. Para relacionar com o universo deste blog, falo um pouco de música aqui; saliento minha tristeza ao ver um artista esquecer-se do tratamento estético de sua obra para seguir apenas obras sociais, assim como me entristeço com o inverso. O que me deixa feliz, de verdade mesmo, é quando posso ver que as que duas coisas andam com maestria e se completam, tal como vemos comumente nos dias de hoje - aqui no Brasil, inclusive, temos um exemplo notório na banda O Rappa. Sendo assim, parabenizo a esses músicos que se confundem com assistentes sociais, bem como em especial aos assistentes sociais dedicados à arte de fazer o bem. Hoje sorriam, pois o mundo é de vocês. Vivemos num caos que se amplia cada vez mais, talvez sem volta. Acredito que olhar para a causa social, politica e humanitária é a chave para que ao menos retardemos a barbárie iminente. E o assistente social é um grande guerreiro nesta batalha de todos nós.
Parabéns ao assistente social.

14/05/2010

Mais vídeos antigos.

Este é para relembrar os tempos em que a cidade de Itambé conseguia por na praça (literalmente) produção alternativa. O vídeo mostra a finada banda Soul Sick, liderada pela cantora Jany Ryoko (já entrevistada aqui e iniciante à época) na 2ª Festa da Itambé Rock, tocando a cover Nemo, dos finlandeses do Nightwish. Apreciem.


13/05/2010

A importância da verossimilhança (parte I)


Bom, qualquer pessoa que goste um pouquinho de literatura e artes em geral certamente conhece o assunto dessa nova série de posts: a verossimilhança.
O que discutiremos aqui é algo me parece bastante interessante. Em tempos que a novela põe todos da Índia e na Índia falando português fluentemente, pergunto-me até onde é necessário se importar com a verossimilhança, uma vez que creio ser unânime que ela seja muito importante. Peguei esse exemplo, apesar de que não gosto nem um pouco de novelas, por este mostrar bem o que quero expor para vocês aqui no blog: até que ponto a verossimilhança (ou a falta dela) influi em nossa apreciação de um filme, romance, escultura, etc? Considerando que o propósito maior das novelas não é estético, creio que a inverossimilhança que sugeri no começo do post é perdoável, bem como, em muitas obras das que, digamos assim, são voltadas para arte em si, acontecem coisas parecidas; alguns casos chamam muito a atenção e acabam por quebrar aquele sentimento de verdade que tanto te prende à obra, outros de certa forma contribuem com o processo de criação e criando elementos que destoem propositadamente da realidade, sem ferir a inteligência daquele que a aprecia. Dadas as proporções nos casos vistos, percebo o óbvio: a verossimilhança, por ela mesma, é incapaz de garantir a qualidade da obra; o que o fará será a maneira como o artista lida com ela.
Logo mais posto mais coisas para fomentar o debate. Comentem, se possível.

Foto:Juniana Paes, caracterizada como sua personagem Maya - pode até não ser verossímil no idioma, mas até que a danada parece indiana! ;P
http://colunistas.ig.com.br/mauriciostycer/files/2009/02/caminho-das-indias-3.jpg

10/05/2010

Prog, Indie e Fusion: primos? (parte III)


Peguei um dos grandes artistas que tem a ver com a idéia da experimentação de que falamos, que, se repararmos bem, pode se enquadrar não somente ao fusion onde geralmente é mais citado, mas também ao rock progressivo ou ao indie rock: estou falando do grande Frank Zappa (foto).
Ele sempre foi conhecido como louco, dada a dificuldade e ao experimentalismo de sua obra. Fica fácil ao ouvirmos ver que minhas ponderações comparando os três estilos citados não são (tão) absurdas. Aqui vemos o experimental ao extremo; a linguagem dos instrumentos é explorada em detalhes. Para exemplificar, como já é de costume, deixo um vídeozinho - se bem que este está mais para rock do que para o fusion, mas posto outro depois. Ouçam e opinem.



09/05/2010

A filosofia do futebol



Como hoje é domingo, deixo algo leve para vocês, mas nem por isso menos interessante: apreciem o início da carreira de Sócrates no futebol.

07/05/2010

As mulheres do Wander (parte final)

I've got no distance left to run ♫


Um último de grupo de mulheres que surgem nos meus contos é o de garotas, que devido à diversas causas, não conseguem sair de um dilema, impasse ou mesmo uma bifurcação. Estas mulheres divididas, muitas vezes dão origem a alguma das demais d que falei nos posts anteriores, porém têm uma aura toda especial, pois têm na divisão, na idecisão, sua mola propulsora, quem sabe até a razão da vida; elas buscam um sentido para tudo aquilo que lhes ocorre, mas se apresentam inertes, ou se frustram devido à demora em resolver esta inércia. Em Quando o outono chegar, conto mais recente de minha autoria, a personagem vive uma situação de divisão que se desdobra mesmo nas palavras do texto. O próprio outono é razão de divisão, e nos sugere uma situação de falência de um pensamento para que outro floresça após o período de tédio e frustração causado por ele (inverno?). Ela tem de decidir se atende o pedido do pai em leito de morte. É humano negar um pedido de um pai? É humano negar um pedido de um pai aós a negação total dos pedidos do filho para este? Eis a questão do texto. Que caminho seguir: crueldade ou piedade?

Bom, este post termina uma série que fala sobre minhas personagens femininas, mas se alguém se interessar, pode perguntar o que quiser e oportunamente responderei.
Abraços.

06/05/2010

Acho que ouvi um ganido: por que é tão difícil achar uma letra boa? (parte IV)


Matutando com meus pensamentos mirabolantes, continuava eu a procurar boas explicações para a enxurrada de letras ruins que encontramos nas músicas. Falei sobre a falta de sabedoria daqueles que as escrevem, mas não falei de outro fator importantíssimo: a cara-de-pau.
Bem, e a que se deve a Akiyama Mio (foto) neste post? Explico: ela é personagem do meigo - e bom - anime K-on!, em que um grupo de mocinhas se juntam para montar uma banda no clube de música da escola. Mio é a baixista, e em certo episódio, se torna encarregada de montar as letras para as composições da banda. Evidentemente, nem ela mesma espera grande coisa de suas letras, creio que por ser incipiente no assunto. Porém, sua professora, Yamanako Sawako, que deveria dar o exemplo e apontar suas falhas, fez algo inacreditável: teve a cara-de-pau de tecer inúmeros elogios à "belíssima" letra, no intento de tirar proveito da situação para si mesma. Saindo do mundo do anime a trazendo a situação para nosso contexto, me pergunto se isso não é exatamente o que fazem os produtores musicais, bem como os músicos menos compromissados com a fina arte. A que resposta chegamos então? Pense bem quantos artistas têm consciência da má qualidade de suas letras e se vêem posando de mestres da música para ganhar prestígio, dinheiro, mulheres, etc. Muitas vezes a desculpa é aquela de sempre, que se ouvia na jovem-guarda e se ouve até hoje: "tocamos o que o povo quer ouvir". Será que o povo quer mesmo ou fora condicionado a isso? Sim, meus amigos, isso justifica a cara-de-pau destes artistas, importante é manter as aparências, uma vez que aquele inteligente que sabe tudo de marketing, também sabe que só aparência salva, essência em nosso mundo não tem vez.

Este mês tem recital em Goiana


Goiana neste dia 29 contará com mais um evento organizado pela trupe do Silêncio Interrompido. Provavelmente eu estarei lá. Se assim acontecer, farei uma matéria sobre o que rolou.

04/05/2010

Livro I; Cap. IV - A estranha enfermidade

- Sinto muito, meus amigos, mas o feitiço é poderoso demais, é impossível de cancelar, ao menos para mim.
- Chizuru, então o que faremos?
- É uma pena, nosso amigo está morto, falou o arqueiro.
- Pelo poder desse encantamento, creio que só uma pessoa poderia ser a autora disso - falou Chizuru.
- O tal clérigo dos arredores? Dinobiú Zinda?
A maga confirmou a indagação de Zephir com um leve aceno. Um silêncio se fez por instantes; depois ela sugeriu que o grupo ienvestigasse as redondezas, nas ruínas do Antigo Templo de Nami, em busca de pistas para estas suspeitas.
- Nós? - Zephir falou. - Bem, se ele é um sacerdote tão poderoso nós teríamos alguma chance? Pode ao menos nos acompanhar?
Chizuru nega:
- Infelizmente não posso deixar Astar. Desde a fuga da princesa Renata, eu o guerreiro que mora perto do lago, Jaken, fazemos a defesa da cidade. Ela fica muito próxima das ruínas; qualquer descuido implicaria num ataque fulminante. Além do mais, Jaken já está fora em outra missão. Alguém deve ficar e proteger a cidade.
Sendo assim, Gimli, Dankill, Legolas, Milo e Zephir decidem se preparar para seguir rumo às ruínas. Milo sugere que apenas circundem o local, sem se aproximar do Antigo Templo, pois um encontro com Dinobiú seria desastroso.
Encheram as mochilas com alguma ração, um pouco de água e materiais para a aventura. O bardo continuava deitado, ardendo numa estranha e interminável febre.

continua...

03/05/2010

Horacio Quiroga - "El hijo"

Breve abrirei aqui uma nova séie de posts, estes voltados para falar de adaptações fílmicas, em especial no que tange à relação entre o conto literário e o curta-metragem. Para abrir, deixo aqui uma bela adaptação de El hijo, texto do grande mestre do conto (ou deveria dizer da selva?) Horacio Quiroga. Poucos o conhecem por aqui no Brasil; tenho estudado um pouco de sua obra e vi que esta dá pano pra manga em muitos de nossos assuntos levantados. Sendo assim, falarei mais vezes dele. Por hora, deixo vocês com a adaptação de Alejandro Ortega para o conto supracitado. Está dividido em três partes, mas as dispus em ordem mais aprazível. Enjoy!






02/05/2010

Erros e arrependimentos *




Chega! É hoje! Sem muito luxo, arrumou-se. Prendeu os cabelos – se não fosse pelas tinturas da vida eles já estariam um pouco prateados. Deixa pra lá. Nunca parecia ter a idade que tem. Quanto? Não se pergunta a idade de uma dama, muito menos se ela for comprometida. Quê? Comprometida, pelo menos se tudo der certo. É hoje!

Depois de uma bela caminhada, chega. Chega desvairada. Chega! Coração na lágrima, lágrima na mão, a tarde iluminada, propícia para o ato. Quer saber o que eu vim fazer? Olho carregado, verde, fixo, senta junto dele, puxa da bolsa o prêmio. Ele paralisado. Sei que não devia fazer isso, mas por todos estes anos eu carreguei isso em mim. Isso o quê? Culpa, angústia, pesar mais pesado a cada segundo, a cada fração passada ao passar dos seus passos frente a minha casa. Eu nervosa. Será que estou mesmo dizendo essas coisas? Dói. Mas é preciso, porque quando eu te via eu me agüentava, mas ver o que tenho aqui não me deixa em paz. E eu caio. Caí. Hoje mais do que nunca.

Sempre se cruzavam à distância; é a primeira vez em anos tão próximos. Chega o peito pulula, pula empurrando o coração pro céu, junto ao sem número de ações misturadas, buscando um fim onde o amarelo sorriso se abrisse. Ferver, tremer, olhar, arfar. Fugir? Parar, pensar, respirar, prosseguir, falar, tremer, gaguejar, mostrar, parar, esquecer, chorar, querer morrer, desejar, acalmar, acordar, ignorar, mostrar.

É isso, mostrar.

Era um retrato lindo. A moldura estava muito carcomida, a foto num misto de sépia e ocre, sei lá. Minha vista dói. A cabeça dela doía. Ânimo! Lembra? Não lembrava. Uma palavra pra confirmar, apenas? Ele não quer me falar. Olha, eu sei que o que eu fiz foi sem perdão. Essa foto é hoje a nossa única lembrança. A Julinha tinha morrido, nem quis dizer da existência dela para ele, a raiva não deixava. Castigo, esse aborto, só pode ser. Mas ele soube, por terceiros, nunca disse nada, nem na frieza de agora. Alguém de longe vê, estranha a aflição da mulher. Deus me livre de me meter nessas coisas! Chora. Tinha tudo, mas por um erro tudo foi por água abaixo. Os pássaros cantam aos arredores, quem sabe para desentalar a pobre, engasgada nas ações possíveis: Lamentar, chorar, desculpar-se, implorar, sussurrar, se surrar, rever, reviver, remoer, sofrer, entender, partir. Partir? Redargüir, discernir, distinguir, diferir-se, cingir, impor, antepor, por tudo quanto é ação para fora, pra ver se a indiferença passa, a passos menos compassados, se a passividade dele pára. Não vai. A quem eu quero enganar? Ele não quer me responder, nem com um gesto, um olhar, está irredutível. É o fim, conforme-se.

Chega! Tarde demais! Estava arrebentando por dentro de amargura, de arrependimentos, afogada no choro interno. Grito. Grita. Por que nossas vidas tomaram esse rumo? Por um erro apenas meu mundo esses anos todos foi te ver passar longe, ignorando. Por deus, até a filha que vinha você ignorou! Mesmo assim, mesmo nesse eterno nó em que vivia ela ainda o amava. Adeus. Que bobagem a dela; ele nunca se importara, não ia ser agora depois de tantos anos que o faria. Com os gritos, os pássaros se assustaram, deixaram pra lá a paisagem verdejante e ensolarada. Alguém resolve intervir. O coveiro veio num ato de pura gentileza. Você está atrapalhando meu trabalho, dona. Caiu. Em si. Ela deixou o retrato entre os cravos, levantou-se da lápide, as mãos marcadas de tanto esmurrar. Foi puxada, foi embora. Eu te amo, eu te amo, eu te amo.


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