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01/03/2016

Shortinho? Por que não?


Nos últimos dias uma polêmica teve grande repercussão: alunas de um colégio de Porto Alegre protestaram pelo uso de shortinhos no ambiente escolar. Como ficar se comunicando através de memes pelo facebook não parece ser algo prolífico, discutamos um pouco a reivindicação delas.


SHORTINHO DEVERIA SER PERMITIDO HÁ MUITO TEMPO

Ao ler a manchete sobre a manifestação, chamou-me a atenção uma primeira coisa: ela se deu no extremo sul do país, ou seja, um lugar de clima predominantemente frio. À primeira vista, o protesto sequer faria sentido. Mas só à primeira vista. O clima de nosso país é relativamente alto, chegando a sensações térmicas altamente desconfortáveis em algumas épocas do ano. A maior parte do tempo, vestimentas pesadas como são boa parte dos uniformes escolares são muito ruins. Como vocês devem saber, atuo também como professor, e na escola onde trabalho não raro questiono a diretoria sobre o porquê de, em pleno Nordeste, os alunos (e professores e demais funcionários) terem de ir obrigatoriamente de calça comprida ou saia abaixo do joelho (para moças evangélicas). Vez ou outra, é comum que, num ambiente desses, algum aluno desses passe mal pelo calor. De um modo geral, a direção desconversa, a discussão fica uma outra hora. Dado o clima de nosso país, sempre me pareceu bobagem impedir um aluno de ir com short, bermuda, saia ou blusas sem mangas. Caso o problema fosse a falta de um uniforme específico que facilitasse a identificação dos alunos, por que não confeccionar uniformes mais "flexíveis"? Da mesma forma que muitas escolas proporcionam jaquetas para o clima frio, não me pareceria absurdo oferecer shorts/ bermudas em épocas mais quentes. 
Oh, wait! Esquecemos de algo muito importante para nossa discussão: apesar de o calor ser um bom argumento para a permissão do shortinho, não é exatamente essa a justificativa das alunas em questão. Há algo maior nesse debate.

DISCUTAMOS GÊNERO NAS ESCOLAS

Sejamos sinceros: muitas justificativas para a proibição de shortinhos são machistas. Certa vez, em reunião de pais, uma das pautas pedia que instruíssemos os pais a não permitir que suas filhas viessem com roupas ditas inadequadas à aula, pois, "os menininhos estão em fase de crescimento, hormônios em ebulição" e "não queremos que eles mexam com as nossas meninas"; É preferível à direção da escola pedir que as meninas se cubram do que instruir os meninos a respeitar o espaço das suas colegas. Trocando em miúdos (e presumindo que essa seja a realidade de boa parte de nossas escolas), continuamos difundindo aquilo que os estudos feministas definem como "cultura de estupro": a mulher não pode dar motivos para que seja molestada. quando isso acontece, ela é dita culpada e o homem apenas está seguindo seu instinto. Francamente: que somos atraídos por alguém é verdade, temos nossos instintos (ou pulsões, se preferir um termo mais freudiano). Entretanto, não nos resumimos a felinos ou qualquer outro animal. Podemos (e temos a obrigação) de raciocinar e refletir sobre o que é ético e/ou moral no contexto em que vivemos. Se isso  não é verdade, então estaríamos ainda na barbárie. Sendo assim, dizer que o homem assedia a mulher "por instinto" é um argumento invalido. 
A manifestação das alunas gaúchas é bastante pertinente por mostrar como somos toleráveis com tantos comportamentos diferentes quando vêm de homens, mas os rechaçamos se vistos em mulheres. Fica bem claro que se fossem os meninos que se manifestassem para usar bermudas ou shorts nas escolas, o argumento do calor de que falei mais acima estaria na boca de boa parte das pessoas, que lhes dariam apoio incondicional. Como se trata de meninas protestando, falamos que "estão protestando pelo direito à pouca vergonha" ou que "mesmo a educação do jeito que está, elas preferem protestar por causa da porra de um shortinho" (mesmo que esqueçamos dos protestos em ocupações de escolas em São Paulo e em Goiás). Isso mostra como uma manifestação por algo tão simples pode escancarar a todos os nossos preconceitos e nosso esforço na manutenção de um contexto desfavorável às mulheres.
Questões como essas poderiam ser evitadas se discutíssemos mais questões de gênero nas escolas. O grande problema é que a maior parte das pessoas (e isso inclui os professores e gestores) é incipiente no assunto, deixando essa tarefa a cargo de uns pouco entusiastas que ainda tenham boa fé de esclarecer o alunado. Por outro lado, boa parte dos leigos se informa de maneira altamente deturpada, acabando por acreditar que discutir gênero é o mesmo que "ensinar putaria nas escolas" (como se alguém precisasse ir à escola pra aprender putaria, né?). É importante falarmos sobre gênero para que cada um de nós reconheça suas diferenças e, através do respeito dessas diferenças possa ainda assim proporcionar um ambiente mais igualitário. 



MOMENTO OPORTUNO PARA A DISCUSSÃO

A polêmica vem em boa hora. Discutir sobre uso de shorts, saias, blusas de alcinha, bermudas e camisetas regatas é importante. Também serve para uma roda de alunos e professores para testemunharmos suas vivências e entender quais são suas reivindicações. e quando elas têm a ver com questões de gênero, acredito ser muito cruel de nossa parte agir como aqueles prefeitos que protelam pagamentos. É impressionante ainda o número de evasão escolar por causa de uma escola que falha em seu papel de inclusão. Evidente que não falha só por isso (basta observarmos a superlotação e falta de estrutura), mas não podemos simplesmente empurrar com a barriga. Isso seria, em grande parte, falhar com sua função de professor. É comum que, ao fazer a chamada em sala de aula (leciono para crianças entre 10- 16 anos), alguém responda "Fulana não vem mais. Casou". Ora, e casar seria motivo para abandonar os estudos? "O namorado/marido não deixa ela vir mais não". Ou seja, o namorado/ marido sabe das coisas, sabe que a escola permite o assédio e perpetua o machismo que ele mesmo, do alto de seu cinismo, faz questão de difundir, alegando que não tem culpa, pois já foi criado assim e não tem como mudar.  Se nós, professores e gestores, continuamos cegos a isso, podemos ter certeza que não entendemos muita coisa de pedagogia.
Nem de shortinho.


PS: estou ciente de que o colégio onde aconteceu a manifestação das alunas é privado e, por isso, pode muito bem recomendar o tipo de roupa que lhe aprouver. Entretanto, isso em nada fere a discussão, pois serve tanto para a revisão das normas de cada uma das instituições privadas como para as públicas.


13/02/2016

Considerações sobre racismo, linguagem e sociedade







A nossa maneira de lidar com com questões sociais importantes têm sido bastante afetada com a popularização das redes sociais e graças ao seu caráter ironicamente tendencioso ao comportamento antissocial. Pretendo explicar melhor esse ponto em postagens futuras, mas para nos situarmos aqui, a ideia de que falo é que a nossa superexposição às redes sociais acaba fazendo com que nossa visão de mundo seja deturpada, ampliando sensações de estresse e até mesmo de paranoia.
Nos últimos tempos temos vistos vários casos que requerem bastante cautela na análise a fim de evitar equívocos e prejulgamentos. Como vimos, artistas negros promoveram um boicote ao Oscar pela falta de indicação de artistas de sua etnia. Outro caso mais recente, já aqui no nosso pais, causou polêmica: um pai e uma mãe vestiram uma fantasia de Abu em seu filhinho negro para o carnaval, recebendo uma enxurrada de comentários maldosos e até ameaças. O que a repercussão desses eventos nos ensina? O de sempre: a preocupação em construir séquito ainda mais importante do que, de fato, estudar maneiras de minimizar o preconceito. Portanto, vamos aqui tentar aprofundar um pouco essas questões. Por praticidade, focaremos mais a questão do racismo, mas o que é dito aqui pode ser muito bem aplicado em outras formas de discriminação: machismo, homofobia; escolha a que achar melhor, apenas atento às devidas especificidades de cada um.


1 AD HOMINEM NUNCA MAIS

Não adianta: enquanto nos apegarmos aos autores do que aos seus argumentos, perpetuamos os mesmo preconceitos contra os quais lutamos. Nesse artigo você encontrará algumas críticas a como temos lutado contra o racismo. Se lhes dissesse que o autor dele é branco, provavelmente seria rechaçado com mais facilidade; talvez nem lido, compartilhado apenas com um #nojo #fascista ou coisa do tipo.Mas não é o caso. Quem vos fala é um negro. E isso, para nossa discussão, não deveria ser relevante. Sendo assim, vamos nos ater sempre às ideias e esqueçamos posturas que diminuam a consistência das nossas reflexões.


2 SAUSSURE, BENVENISTE E PRECONCEITO

Para entender como funciona o racismo (ou qualquer forma de discriminação, como já propomos), é necessário entender como funciona o discurso, a linguagem. O discurso é dinâmico, sofre influência de todos os elementos a seu redor, e, por este motivo, não tem como ser estudado estaticamente. Isso seria o mesmo do que descontextualizar por completo uma situação e julgá-la sem observar a complexidade que ela possui. Ferdinand Saussure, conhecido "pai da linguística", mostrou que o signo linguístico (ou palavra, se preferir) é formada de significante (a imagem acústica, ou seja, o conjunto de sons e letras que nos remetem a determinado conceito) e significado (o conceito, a ideia por trás do significante). Para exemplificar, a palavra cadeira tem nessa sequência gráfica e sonora seu significante, mas seu significado é a ideia que nos vem à mente quando nos deparamos com ele. Como dá para prever, a quantidade de significados pode ser maior (cadeira pode ser um assento ou uma nádega avantajada, ou uma disciplina da nossa faculdade) O que tiramos de lição aqui? Que graças ao uso criativo que fazemos da nossa linguagem, um signo linguístico pode ter inúmeros significados.
Sendo assim, o que definiria expressões como "a coisa tá preta" (foto2)? Simples: seu contexto. Em outras palavras dizer que a coisa "tá preta não" é racismo, mas pode ser usada em algum contexto específico para discriminar alguém - aí sim caracterizando o preconceito.
Entender por que as palavras per se não são ofensivas requer entender todos os mecanismos de composição de um contexto. Recomendo uma olhada aprofundada nos conceitos de enunciação e enunciado, propostos por Emíle Benveniste. Como falamos aqui de forma mais lacônica, um aprofundamento pode ser muito útil e encontrado aqui.


Um enunciado pode ser uma frase, uma cena, uma imagem, uma situação, qualquer coisa que transmita uma mensagem. Entretanto, todo enunciado só pode ser compreendido perfeitamente ao observarmos o processo de enunciação, ou seja, seu contexto. Lembra da Viviany Beleboni (foto 3)? Por que sua performance foi acusada de "cristofóbica"? Por que seus acusadores a julgaram desprezando todo e qualquer contextualização, como se só a "afronta a cruz" importasse quando na verdade a atriz transexual dialoga com o símbolo da cruz para sugerir que pessoas marginalizadas, como ela e Cristo, sofrem/ sofreram pelo julgamento de quem detém o poder.
E você? se sente ofendido por causa de um buraco negro ter esse nome? Deveria pensar duas vezes, pois você também está desprezando o contexto. Buraco Negro (e energia escura também) são termos da Física a não ser que alguém desvirtue seu significado criando um outro contexto, eles não são símbolos de racismo. Vale lembrar que a palavra negro não se refere exclusivamente à etnia.
Ou seja, para caracterizar uma situação ou enunciado como discriminador, é imperativo não desprezar tudo que compõe a enunciação: quem é o sujeito da enunciação? Onde ele estava? Quando? Com quem? Em que circunstâncias? Como dá para reparar, o assunto é complexo, e são várias as apurações, tal como um delegado ferrenho ou jornalista competente e sem preguiça, que temos de fazer. E como dá pra prever, ninguém que passar tirar a bunda da cadeira ou gastar mais que um like para averiguar o enunciado por completo. Por causa disso, é fácil perceber como as pessoas perdem mais tempo julgando umas às outras em linchamentos virtuais (ou até presenciais), em vez de dar ao assunto a devida seriedade que ele exige.


3 SE AS PALAVRAS ISOLADAS NÃO TEM SIGNIFICADO, ENTÃO NÃO EXISTE RACISMO?

Claro que existe. O ponto não é este. Nos comportamos como crianças no caça-palavras à procura do racismo, mas esquecemos das coisas de que falamos aqui. Um enunciado isolado não têm significado. Comentá-lo sem noção de toda a enunciação é mais problemático, pois deturpa seu primeiro significado, trazendo  um novo à discussão. Por exemplo, quando nos deparamos com uma fotografia em um jornal, ela já traz um significado. A partir do momento que compartilho a foto acompanhada de um comentário, eu estou alterando seu significado, estou criando um novo contexto. Talvez por isso a foto da criança fantasiada de Abu (não coloco a foto aqui para preservar a imagem da criança) tenha parecido ofensiva a algumas pessoas. Entretanto, ao que me parece, o contexto não representava uma situação de opressão, visto que os pais não a fantasiaram na intenção de lhe causar vexame, humilhação pública. Pelo contexto, todos parecem se divertir, é um ambiente lúdico. Talvez os pais possam ter sido um pouco imprudentes, já que estavam em local público e poderiam ser mal interpretados (e acredito que foram mesmo), mas isso está longe de caracterizar aquele contexto como racista e de depreciação da figura da criança. Sendo assim, reforçamos a ideia de que, caso não tenhamos noção de todo o contexto de uma cena ou mensagem, se torna impossível concebê-lo como discriminatório. Dois negros que se conhecem e são amigos, por exemplo, podem fazer piadas que, ouvidas em outra circunstância, poderiam ser facilmente tidas como ofensivas. Entretanto, isso não acontece, pois o discurso é consensual, tal como quando "rimos da nossa desgraça", ironizamos e satirizamos o contexto, e no fundo não concordamos com ele. As mesmas piadas proferidas por um branco que não conhece o negro já se mostraria ofensiva, pois não há relação consensual entre ambos, tal como quando nos ofende ser alvo de piadas de qualquer pessoa com quem não tenhamos intimidade. O mesmo vale para piadas homofóbicas, machistas, etc. O consenso entre os participantes daquele contexto elimina a discriminação. Sendo assim, a piada (ou qualquer forma de expressão), funciona como uma faca: pode ser usada em nosso benefício para preparar alimentos ou para ferir o meu semelhante. Todavia, se alguém comete um crime, por que insistimos em tentar punir a faca?

4 POR QUE RESISTIMOS TANTO EM ADMITIR QUANDO SOMOS RACISTAS?

Porque racismo é crime, e ninguém quer ser preso. Poderíamos parar nessa afirmação, mas vamos dar mais pano para a manga. Como dissemos, a palavra é dinâmica e, por isso, pode ter mais de um significado. E quando pensamos em racismo, geralmente o que nos vem à mente primeiro é a abordagem jurídica da coisa, ou seja, estamos falando do crime de racismo. Olhando por esse prisma, admitir um comportamento racista seria confessar e requerer a própria reclusão. Isso explica porque tantas pessoas vivem se escondendo em chavões para não parecerem más (e para não aprovarem uma possível lei de criminalização da homofobia, por exemplo), tais como "afff, vocês vêem racismo em tudo", "o mundo anda muito chato" "calma, foi só uma piada". Porém, a palavra não tem apenas o significado jurídico, mas também social, sociológico. Por esse lado, o racismo não é necessariamente crime, embora possa ser usado como motivação tal. Por exemplo, uma pessoa que acha que negros são todos vagabundos está sendo racista, mas não necessariamente criminosa. Por outro lado ela pode usar esse ponto de vista para querer "justificar" uma atitude criminosa de fato, tal como impedir uma pessoa de ir e vir (expulsá-la de um shopping, por exemplo) por sua diferença étnica. 


5 ANALISAR COM CALMA E DISCERNIMENTO SEMPRE

Como vemos, o assunto é complexo e graças ao dinamismo da linguagem, necessita de que observemos cuidadosamente caso a caso, evitando a deturpação de contextos. Parece difícil e cansativo, não é? Mas quem disse quer seria fácil lutar contra a discriminação?
Oportunamente, podemos discutir novos tópicos sobre o tema. Até lá!




01/01/2016

2016: o que vem por aí




Saudações, amigos! Sei que o blog anda meio parado. Tive  muitos problemas que me desmotivaram a tocar as coisas aqui, mas nesse início de ano tentarei aparecer um pouco mais. Para começar, um resumo do que ando fazendo e que pode se concluir esse ano.
Livros novos?
Com certeza! Tem um livro de contos prontinho, faltando pequenos retoques. Trata-se de uma coletânea de contos fantásticos.
Estou escrevendo (e já em fase bem avançada) um novo romance. Parece que depois de Ascensão e queda o gênero me pegou de jeito. Entretanto, o foco não é mais a música, mas sim questões sobre gênero e sexualidade. Para que gostam de explicações mais pedantes, seria "uma problematização do espectro de gênero a partir de um contexto distópico" (risos) não sei se fica pronto esse ano, mas caminha bem.
No campo da crítica literária, depois do lançamento de Diacronia: ensaios sobre ficção científica no fim do ano passado. Eu e João Matias de Oliveira devemos elaborar uma nova coletânea, agora voltada a estudos sobre o terror. 
Há também um novo projeto para contos, mas ainda está muito raso, assim que conseguir consistência, comento algo sobre ele. 
Aguardem aí que esse ano temos muita coisa boa.

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