"Ascensão e queda": romance de estreia!

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Contos de Wander Shirukaya

Para aqueles que querem conferir o que tenho escrito, dêem uma olhada aqui!

Tergiverso

Sensualidade em forma e conteúdo aguardando sua visita.

O híbrido e a arte

Animes, cinema e literatura

Procurando entrevistas?

Amanda Reznor, André Ricardo aguiar, Betomenezes... Confira estes e tantos mais entrevistados por Wander.

31/12/2011

Que venha 2012!



Olá, amigos leitores deste humilde blog, os fogos já estão estourando em todas as nações para comemeorar a chegada de mais um ano. É sem pre aí que paramos para rememorar o passado e ver o que podemos tirar de proveito para os tempos vindouros. De minha parte, foi uma no muito feliz e marcado pela aceleração de atividades até então vagarosas e surgimento de novas oportunidades também. Veio ao mundo meu primeiro livro de contos, Balelas, ingressei no CAIXA BAIXA, do qual me orgulho de fazer parte e ter conhecido grandes amigos. A labuta literária não pára, segue em frente com mais contos sendo postos à frente, logo novo coletânea deles virá; também iniciei (e estou na reta final) a escrita de um romance, que quem sabe virá também a público  em 2012. Convido você a também pensar o que de bom houve nesses tempos e deixo aqui um feliz ano novo a todos que me ajudam a manter este blog com o entusiasmo de sempre. Obrigado e boas festas!


27/12/2011

Como foi o lançamento de "Balelas" em Itambé



Olá, pessoal. Aqui vai um breve relato do que foi o lançamento do meu livro de contos, Balelas, na minha "cidade natal", Itambé - PE. na última sexta, dia 23/12, na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato, fiz parte de um bate-papo sobre literatura, merdcado editorial e afins, respondendo às várias perguntas a mim direcionadas, indo desde às clássicas sobre o porquê de um pseudônimo tão esquisito e minhas influências literárias à outras pouco convencionais. É sempre bom jogar em casa; digo isso por ver presente muitos amigos e alguns parentes, pessoas com quem convivi durante muito tempo e proporcionam sempre bons momentos. Após o bate-papo, lanchinhos (pois ninguém é de ferro) e a sessão de autógrafos. Fecho esta jornada balélica de 2011 com muita alegria e vendo que, aos pouquinhos, as coisas fluem positivamente. É isso aí.


22/12/2011

Sobre "Os besouros"

Conto novo terminado. Mais um fantástico. Este, por sua vez, pendendo mais para o naturalismo/ dangerous writing/ ultra-violence (ué? não são a mesma coisa ou quase?). Os besouros tem um conflito comum em nossos dias: uma moça bêbada, um beco escuro, sete homens à procura de farra. O resultado é um violento estupro que traz consequencias inimagináveis, conforme o leitor perceberá. Mexer com os clichês do fantástico é interessante, e este conto, sendo assim, flerta com eles em muitos pontos. Não é um dos mais esquisitos que já escrevi, mas, com certeza, é um dos textos mais violentos. Vejamos o que rende em breve.


Foto: http://www.heruni.com/wp-content/uploads/2011/10/drunk_girl.jpg

19/12/2011

Lançamento de "Balelas " em Itambé!


Meus amigos de Itambé-PE, Pedras de Fogo-PB  e região, neste fim de semana, mais precisamente na Sexta, 23/12/2011, às 20:00h, haverá na Biblioteca Monteiro Lobato em Itambé - PE, o lançamento do meu livro de contos, Balelas (Mutuus-RJ, 2011). Na ocasião, teremos também um bate-papo entre escritores, poetas e professores sobre essa difícil tarefa que tem o escritor em nossos dias. A apresentação ficará por conta do Leo Podre, lendário baterista do movimento rock da cidade e grande amigo. Sintam-se todos convidados, vamos lá!


Título: Balelas
Autor: Wander Shirukaya
Número de Páginas: 104
ISBN: 978-85-64722-05-7
Fomato: 14x21
Preço: 28,00 R$


Descrição

Balelas é um livro de refinada literatura, em que a narrativa absorve diversas vozes, que, juntas, pintam um retrato sombrio de nossa sociedade. Não é uma obra simples, nem de leitura fácil, até por sua estrutura textual. São justamente as diferentes vozes que assumem o trabalho da narração e nos carregam pelas pequenas histórias, ora avançando, ora retornando, como se estivessem expressos no papel os devaneios de cada personagem. Balelas é, portanto, uma obra que provoca reflexão, que explicita as manias, os desejos mais sórdidos, as preocupações e até mesmo as loucuras de nossa sociedade - na maioria das vezes, com a predominância do ponto de vista feminino.


16/12/2011

Sexo e violência, baby! (parte VI)


Ressucitando séries que estavam no limbo deste blog, voltamos a falar sobre o uso do sexo e da violência nas artes, saindo da literatura, dos animes e da píntura para comentar um pouco do cinema. Desde nosso primeiro post sobre o assunto trabalhamos com idéia da inevitabilidade de fuga destes dois temas, dada a força com que estão presentes em nossa vivência. A aproximação da arte com o sexo e a violência só tem a contribuir para a verossimilhança, nesse sentido, enriquecendo o filme e evitando que fiquemos com aquela sensação de pudicícia exacerbada que comumente criticamos nas novelas, por exemplo. Para tanto, pegarei três filmes para a nossa observação em que a violência está permanentemente presente, mas se articula de modos distintos. 
O ano de 2002 viu nascer um filme que chocou platéias mundo afora pelo impacto de suas cenas de violência. Na verdade, os choques de Irreversível (Foto 1 - Direção: Gasparnoé) podem ser resumidas a duas: a cabeça de um dos personagens sendo esmagada por um extintor logo na primeira sequência do filme e o perturbador estupro de Alex, personagem da Monica Belucci, em que os mais sensíveis podem facilmente desistir de manter os olhos abertos. Pois bem, aqui podemos perceber que a pujança das cenas está a serviço do experimentalismo estético exposto pelo diretor, já que toda a montagem do filme por si só já amplia o desconforto do espectador propositalmente. A primeira sequência é nauseante, graças a imprevisibilidade de movimentação da câmera, movendo-se no ir e vir dos protagonistas dentro de um bar atrás do alvo. A própria montagem cria toda essa repulsa para ao decorrer do filme a desfazer, chegando a um final que beira a candura de tão suave que se apresenta. O filme, nesse sentido, pode ser visto como uma experiência na observação das diferentes impressões/ reações que pode causar ao espectador.

Baixio das bestas (2006 - Foto 2), de Cláudio Assis, tem crueza da cabeça aos pés, mas muito pouco estilizada, fato esse motivado por sua postura extremamente naturalista. A violência é exibida como forma de denúncia da violência que comumente ocorre nas nossas sociedades, aqui, em especial, à violência das cidades da zona da mata pernambucana. A montagem, portanto, é muito pouco ousada, mantendo-se o mais distante possível dos fatos, a maior parte do tempo, contribuindo para o tom quase jornalístico do filme. Destaque para a bela cena do estupro de Auxiliadora, personagem de Mariah Teixeira, no fim do filme. A moça, menor de idade que "era filha do avô", sofre abuso por parte do protagonista do filme, um típico agroboy (playboy do interior canavieiro). Pena que não se tenha escolhido a mesma crueza na cena da morte da personagem interpretada por Dira Paes, o que me parece uma suavização não condizendte com a ambientação proposta pelo filme. Mas isso deixamos para outra hora.

Destoando ainda mais, a violência em Kill Bill (2003 - Foto 3), de Tarantino, já aponta um caminho totalmente estilizado, usando e abusando dos exageros e recursos cinematográficos, o que cria um tom de paródia ou, pelo menos, de humor. A reverência ao estilo dos grandes filmes de luta orientais é flagrante; o grotesco é transformado em diversão, o que faz com que o espectador não tenha desconforto algum. A montagem apenas favorece essa perspectiva, como por exemplo na culminância das lutas A Noiva X O-ren Ishii e Noiva X Go Go Yubari (deixo essa última luta no vídeo abaixo, só como aperitivo).
Sendo assim, comentemos mais sobre o uso da violência nas artes. Tem exemplos? Contesta algo dito? A hora é agora! Até mais!



 
Relembre a série Sexo e violência, baby! Parte I - Parte II - Parte III - Parte IV - Parte V.
 

13/12/2011

Livro I; Cap. XXIII: Hildegard é forte, voltará são e salvo

Ambos esperaram como loucos o momento do duelo final. Ele havia chegado. Ambos sacaram suas espadas bastardas e puseram-se em guarda, enquanto o grupo seguia viagem, ainda olhando para trás, desconfiados. 
- Hildegard vai se sair bem, vocês vão ver - milo comentava durante a caminhada. 
E o duelo começou já com um ataque muito forte do clérigo, fazendo sua rival, Karina, afastar-se e logo apelar para seus dotes mágicos. Surge então uma espada de energia que circula e atrapalha a movimentação de Hildegard. 
- Sua mizera! Morra!
Os brados do clérigo o faziam ir para cima com tudo, como é de costume, ignorando a dor dos golpes vindos da espada mágica que o perseguia e atingindo vorazmente o peito da armadura de sua inimiga. Ela caiu no chão se afastando mais uma vez. Já em guarda:
- Venha!
O dia lindo e as poucas e curtas árvores serviram de cenário para aquele embate. Correndo com toda sua força, Hildegard desferiu um golpe fatal - isto é, seria fatal se ele não tivesse caído na tática inteligente de Karina, que com um manejo de espada conseguiu então desarmá-lo. 
- Diga adeus, idiota.
o golpe seguinte atravessou o corpo do clérigo, que balbuciou suas últimas palvaras:
- Mizera...
Hildegard caiu desacordado; minutos depois estava morto. Karina observava tudo de perto. Tendo confirmado sua morte, limpou e embainhou sua bastarda, cuidando de enterrar o corpo do rival. Horas depois, lá estava, ao pé de uma árvore, o clérigo sepultado com todas as honras e pertences. Sua espada fincada na terra, tal como uma cruz. A moça saiu andando rumo a um lugar desconhecido. 
Enquanto isso, o grupo se depara com uma região de forte neblina, onde encontram uma ponte. Dankill:
- Se não erramos o caminho, finalmente chegamos. 
- Parn...

continua...

10/12/2011

20.000 acessos! \o/



Sim, meus amigos, este blog atingiu a humilde marca de 20.000 acessos nesta semana. Pode paracer pouco (e é, na prática), mas a julgar pela especificidade do conteúdo aqui postado, pode ser visto como uma grande vitória. Este não é um blog de humor kibado de outro blog de humor, tampouco blog de downloads ou de conteúdo pornô. Logo, acredito que deva sim esboçar um sorriso de satisfação por atingir tal marca só discutindo literatura, cinema e manifestações artísticas em geral. Cada um dos seguidores que este sítio contém foi conquistada sem bajulação ou auxílio de joguinhos, todos o seguem por acharem o conteúdo interessante, o que me deixa ainda mais feliz. Espero que continue sempre sempre do agrado de vocês, pois sei que são pessoas muitos especiais e também parte deste mundinho que cultivo aqui postagem a postagem. Enfim, parabéns a nós, sigamos  com a caravana, vamo que vamo que o verbo não pode parar. Obrigado.


05/12/2011

"Balelas" em Goiana! Veja como foi!


Cá estou eu para contar o que rolou de interessante no lançamento do meu livro de contos, Balelas, na cidade de Goiana _ PE, como parte das atividades da primeira edição do K.A.O.S., nova série de eventos da cidade. 
Com atraso considerável, o evento acabou se iniciando por volta das 21:30h. O público presente na Praça João Pessoa então prestigiou primeiramente a já figurinha carimbada do rock local, Prisma Orbe, recheda de blues e outras loucuras comandadas por seu líder Luziano Jardim, vulgo Mago. Já de cara participei dando uma força nos backing vocals na última música apresentada por eles, a pedrada skylabiana Você vai continuar fazendo música?
Em seguida, Philippe Wollney, grande mestre de cerimônia e cabeça do Silêncio Interrompido, apresentou meu livro, convocando todos os presentes a conferir a interessante mesa de exposição, em que o visitante podia chegar, tomar um cafezinho ou uma cachacinha enquanto batia um papo com o autor, enquanto as demais bandas se apresentavam. A idéia deu muito certo e me proporcionou a chance de fazer novos e valiosos amigos. 
Enquanto autografava livros, a banda The Blue Tomato, fazia sua apresentação. Liderada por um ícone do undergroud goianense, Rafael Urbano, a banda traz muito berro e barulho, em clara referência e reverência à era grunge de Nirvana, Soundgarden e companhia.
Por fim, One black two white, banda de hardcore melódico encerrou a noite já se formando madrugada, deixando a certeza de um grande evento. De minha parte só tenho a agradecer a acolhida de meus amigos companheiros de copo, versos e riffs. Foi uma noite muito especial que, espero, possa se repetir logo, logo. Fiquem com algumas fotos de café, vinho e Balelas
 




Fotos: acervo pessoal.

01/12/2011

Entrevistando André Ricardo Aguiar



Olá, amigos do Blog do Shirukaya! Como venho mostrando nos últimos tempos, a temporada de novas entrevistas está aberta. Depois da fofíssima Amanda Reznor e do escritor de nome não-suave Betomenezes, chegou a vez de conferirmos o que tem a dizer o grande (sim, grande mesmo, tem mais de 1,80m) escritor paraibano André Ricardo Aguiar. Assunto? Literatura, políticas públicas, música, poesia...



Wander Shirukaya – Fale um pouco sobre você.

André Ricardo Aguiar - Todo dia aprendo uma nova maneira de falar de mim através do que leio. É um pouco como fuga, reconheço, porque não tem nada mais fugidio do que essa coisa do biográfico abstrato, onde não consigo delimitar fatos, ocorridos, coisa que seja digna de nota. Sei que minha vivência sempre foi norteada por leituras. E ter nascido numa cidade do interior me trouxe uma carga de memória afetiva. Digo, uma paisagem humana como cédula de identidade: o rio, o mato, os caminhos de terra, pasto, boi, etc. Mas foi na cidade maior que me criei e, se posso falar em urbano, que fique valendo. Me criei com bibliotecas mais do que com contato familiar. A família grande também vira abstração. O círculo restrito é que conta: pai, mãe, irmãos pequenos. Este os seres do meu afeto e dou crédito ao meu pai pelo gosto literário. Divergimos muito depois. Me eduquei com Zé Lins, frequentei Dostoievski e Kafka, Borges, Cortázar. Tenho esta coisa da mistura de leituras. Meu enquadramento é por escotilha: vejo o que tenho a frente, incorporo, sigo um rumo, abandono ou me perco – e depois dou a volta e recomeço. Uma curiosidade cética pela vida, um composto de crença e provocação. Só me sinto bem quando estou criando – e isso porque considero o ato de leitor como participação, como cozimento de futuras colheitas. No mais, sou um cara normal – conceito falho, vá lá, mas é por onde me sustento. Sou comunicativo a pouca distância. De longe, pareço sisudo, mas é uma timidez de escudo. Puxar uma prosa comigo é o movimento mais bem-vindo do mundo.


Wander – Você trabalha com literatura não somente como escritor, mas também com projetos culturais através da Funjope. Como você lida com essa situação? É difícil conciliar ambas as atividades? Que semelhanças e diferenças elas tem entre si?

André - Lido como qualquer atividade humana. A questão é que trabalhar com literatura na esfera pública é bem diferente de trabalhar na esfera privada. Mas de certa forma, ambas são complementares. Se tudo na vida fosse apenas lidar sem experiência humana, cairíamos num fosso nada prático. Gosto mesmo da possibilidade de estar com meus pares, ou criando modos de disseminar práticas culturais. Isto proporciona, entre outras coisas, intercâmbios importantes, como a experiência de outras feiras literárias e com a observação de modelos estruturais para garantir o sucesso de eventos deste porte. Por outro lado, tudo é tempo. Precisamos abrir sempre espaços só nossos para garantir que a balança fique equilibrada. Eu tenho fases e nem sempre tenho tempo para me dedicar como quero à literatura. No entanto, vejo com bons olhos a falta de tempo. Alguma coisa trabalha na surdina. Sempre haverá o momento de colocar tudo no papel ou na tela. As semelhanças ou diferenças se misturam. O trabalho com literatura só ganha quando as fronteiras se encontram.


Wander – Os últimos tempos em nosso país mostram que a relação que temos com questões éticas dentro da literatura. Tendo você também se voltado ao público infanto-juvenil, como você tem percebido o uso de questões polêmicas, a violência, o sexo, por exemplo, neste tipo de literatura?

André - Não acredito em censura prévia em literatura. Acredito em controle e em discriminação. Para o público infanto-juvenil, a própria literatura ao longo da vida de um leitor deve indicar esclarecimento para escolher o que é passível de ser absorvido de forma consciente. Não sei se percebo bem, não consigo ler de tudo – e por extensão, saber o que andam fazendo por aí. Sei que bons autores sabem lidar com temas polêmicos sem perder a mão.
 

Wander – A que projetos você tem se dedicado ultimamente? Que podemos esperar do autor para os próximos meses?

André - Literatura infantil e poesia. Mas o engraçado é que são trabalhos já feitos há algum tempo e que senti necessidade de dar um ponto final. Fechamento de etapas, por assim dizer. Dois livros infantis estão prontos para serem editados por uma boa editora. Ao mesmo tempo, penso e publicar meus poemas de alguns anos pra cá. O livro A idade das chuvas já é um trabalho de resgate de uma década de poesia. Ainda não tenho uma linha a seguir, vou apenas vivendo e o ato da escrita vai junto, no compasso meio improvisado. Agora, na hora de colocar no papel, organizo, sopeso, estabeleço um plano. Sou meio cismado com a coisa solta. Estou como o Fernando Pessoa: O que em mim sente, está pensando. Tenho meus contos – e a frequência no Clube do Conto serve como termômetro para o que eu experimento, embora nem isso eu tenha mais tempo, experimentar. Quem sabe daqui a um tempo eu veja isto mais claramente?


Wander – O que te agrada na música? Quais os seus artistas preferidos? Eles te influenciam na literatura de alguma forma?

André - O que me agrada na música é exatamente a noção feliz de que não dá para viver sem ela. A coisa sensorial é muito forte. Que arte pode ser mais completa que esta? Um dia destes alguém falou – ou li no facebook – que os músicos só podem ser felizes. Eles criam em estado permanente. Porque tudo é som. Não teorizo, claro, sobre a música. Sei que um tipo de música me atrai pela construção, como o jazz. Outras, quero apenas ir cantando junto. Como no chuveiro, lugar ideal (risos).
Artistas preferidos são muitos. Não me prendo a poucos. A música eu vou descobrindo e adicionando à minha vida. Gosto deste caráter de descoberta. Aí paro e fico umas fases em um artista, em outro. Mas gosto sempre dos que me dizem por mais tempo, até uma vida inteira. Como não ser assim com os compositores clássicos? Beethoven, Mozart, Bach, Vivaldi. Beatles, blues, rock, Chico... são muitos e eu não vou dizer mais, ou a lista não termina. Não vejo uma relação clara da influência da música na minha literatura. Mas um estado de espírito propenso a gostar de música, tem elementos que vão ajudar na hora da escrita. Assim penso.


Wander – Você está de blog novo (http://quaseincendios.blogspot.com/), mas vez ou outra firma ter problemas em manter páginas de internet. Há alguma razão em especial? Qual sua relação com a internet?
André - Uso a internet para quase tudo. Tenho uma relação quase tripla: criação – divulgação – intercâmbio. Já fui beneficiado por ter acesso a editoras. Por criar livros nascidos de blogs. Para dar visibilidade ao meu trabalho. Enfim, a razão por não manter blogs é que vejo uma tendência a descontinuidade ainda. Não sou disciplinado em alimentar regularmente um blog de forma indefinida. Invejo quem o faça. Talvez com um projeto em equipe eu consiga. Mas o blog individual não me estimula ainda.
Wander – O que tem lido ultimamente? Algo que nos recomendaria em especial?
André - Tenho lido muita coisa. Aliás, sou leitor voraz, daquele que corre o risco de perder o controle. Leio de tudo e todo dia sinto vontade de ler mais. O problema é o tempo. Mas eu tenho uma mochila-biblioteca que não sai de perto de mim. Posso ler em ocasiões rápidas e tediosas como fila de banco ou no ônibus. Por isso curto tanto a narrativa breve, os diários, etc. Li recentemente (e recomendo) os poemas da Wislawa Szymborska, editado pela Companhia das Letras. É o que mais estou recomendando por aí. Também o Diário Selvagem do José Carlos Oliveira, indicação que o escritor Miguel Sanches me passou. Recomendo o novo livro do Ricardo Piglia, um ficcionista que namora o gênero policial de uma maneira inovadora. Chama-se Alvo Noturno. Gosto muito desses aspectos lúdicos da literatura, dessa transfiguração de universos, mas também bebo dos temas clássicos. Tanto que estou relendo Dom Quixote, pela Editora 34.

Wander – Discorra um pouco sobre a literatura paraibana contemporânea, de que você faz parte. Tem gostado do que vê? O que há de bom acontecendo?
André - A nova literatura paraibana ainda está um corpo em movimento, e o estar inserido nela não me torna um observador confiável. Vejo o que me cai às mãos, acompanho os novos grupos, vejo aqui e ali talentos que vão se consolidar daqui a anos. Tenho gostado em parte. Como sabemos, ainda é cedo, há esse fenômeno dos talentos ainda em busca de um foco – e é por isso que é tão saudável a formação de grupos. Não que acredite na descoberta do ovo em pé. Mas a meu ver, temos tanta sede de novidades que meio que nos viramos nas condições mais precárias – embora, internet, o lance midiático, e tanta coisa aí dando sopa está criando uma geração literária mais aparelhada. Até em termo de brigas, há muito o que discutir. Melhor assim do que a modorra e o autoconfinamento. Acho que muita coisa boa está acontecendo. Eventos, lançamentos, troca de experiências. Faço parte do Clube do Conto, que é uma linha, sou amigo do pessoal do Caixa Baixa e da Revista Blecaute, que é outra linha, e na qualidade de gestor de uma divisão de literatura, tanto olho como crítico quanto simpatizante. E claro, também, um olhar para os equívocos também.

Wander – Deixe uma mensagem aos leitores deste blog.

André - A mensagem que eu deixo é que, a exemplo do gosto que tive em responder às perguntas, sempre terei uma postura de curioso. O importante é essa vontade de ler o mundo, mas de uma forma viva, participante. Acho que qualquer manifestação é válida. Fico então feliz por participar de uma forma ou de outra para algo nosso, e nem por isso menos universal.

Wander - Obrigado.

Fotos cedidas pelo entrevistado. 

28/11/2011

Lançamento de "Balelas" em Goiana - PE

Amigos, é com prazer que convido todos vocês para comparecerem ao K.A.O.S., evento de música e literatura a acontecer em Goiana - PE, conforme especificado no cartaz acima. Na ocasião estarei lançando o meu livro, Balelas, no local. A apresentação dele será do poeta-amigo Philippe Wollney, do Silêncio Interrompido. Compareçam todos!

"Balelas é um livro de refinada literatura, em que a narrativa absorve diversas vozes, que, juntas, pintam um retrato sombrio de nossa sociedade. Não é uma obra simples, nem de leitura fácil, até por sua estrutura textual. São justamente as diferentes vozes que assumem o trabalho da narração e nos carregam pelas pequenas histórias, ora avançando, ora retornando, como se estivessem expressos no papel os devaneios de cada personagem. Balelas é, portanto, uma obra que provoca reflexão, que explicita as manias, os desejos mais sórdidos, as preocupações e até mesmo as loucuras de nossa sociedade - na maioria das vezes, com a predominância do ponto de vista feminino".

25/11/2011

A dança das abelhas






Sei que muita coisa que eu fiz eu não quis
Sei de muita coisa que eu quis que eu não fiz”.
Marcos Valle, “Vinte e seis anos de vida normal”.




Se soubesse que tudo ia acabar assim, teria sumido há mais tempo. Será que me acham logo? Um trago forte no cigarro se vai; interior se faz paisagem, campos brilhando em verde, sol, margaridas e dentes-de-leão. Melissa, a menina do papai, nem de longe é mais menina. Cedo ou tarde vão me encontrar. A mãe dela deve estar aflita, afoita, Melzinha do céu, onde é que você tá? Por que não perguntou antes, mãe? Aqui é minha nova família.

É muito fácil achar que isso é rito de passagem. Passagem de quê? Existem crianças assim, tão velhas? Pois saibam que a Melissa não é criança só por que deixou de trabalhar, ela bem sabe que o preço é alto por sobrevoar as pedras e buscar vôos cada vez mais amplos. Moça, por favor, não pode fumar aqui. Demorou pra alguém me encher o saco. No que atirei os restos e cinzas pela janela, a estrada se fez mais lerda. Caralho! A Mel é moça sem sorte mesmo, nem no início de nova jornada com seu rebento ela tem sorte. O ônibus no acostamento; todos descendo pra quem sabe um pouco de ar. 

Desci um pequeno morro de beleza rasteira, um ou outro espinho de planta chata picando as panturrilhas, nada perante outras picadas já levadas. Nem sinto dor. Ali sim era possível um cigarro; tremendo um pouco – nervosismo, vou ser pega? Olhando o belo corpo de três meses, desnorteio e deixo cair o maço. E a Mel despenca quando ao se abaixar pra recolher, sente o pólen das margaridas beijando seu nariz. 

E deitada entre as flores sinto o corpo formigar, olho o sol com olhos bem apertados, dia seco e sem vento me lembrando que nada é pra sempre. Minha fuga, até quando? E ela ouve a voz da mãe e do pai em línguas de choro, Mel, Melissa, cadê você, minha filha?! Tem abelhas zanzando por aqui. Elas se balançam indiferentes, eu posso ver, mesmo deitada. Duas aqui perto do meu punho, circulando uma margarida, nem sei se vagarosas ou velozes, dançam. É um chamado, não? Elas trabalham felizes, mas como ter certeza da felicidade sem sorriso? A Mel sempre sorria, mas não sabia que ela era tão infeliz, deve estar chorando a minha mãe. Sinto um espirro entalando aqui, por dentro do nariz. As abelhas. Mãe, você queria que eu fosse uma abelha, né? Operária, humilde, cuidando de flor, zangão e rainha, um mel de mulher? A Melzinha não conseguiu, prendeu-se cedo, amadureceu tarde – isso se amadureceu. A Mel quer ser abelha pra quê? Talvez repare algo, talvez conforte mais que as picadas que levei; elas não parecem reclamar, ainda por cima dançam. E dançam bem, flertam comigo, circulando as margaridas enquanto os dentes-de-leão aguardam. Não parecem reclamar. Mas por que não posso ser assim? Por que não consigo? Você não ligava e agora quer nossa ajuda, a mãe da Mel deve pensar quando ela voltar. As abelhas dançando, sol forte, olho que vê entre um matagal de cílios. Isso é a verdade, meu Deus? Ah, mãe, volto ou não? O pólen engasgando, espirro.

Me levanto um pouco tonta, andando em círculos, mas me sentindo mais leve; e a Mel sobrevoa com o olhar a paisagem, nenhum ônibus – será que foi embora? A Mel vislumbra o campo e suas flores, vento da tarde chegando, entre margaridas. A Mel deixa de manha, voando pra o trabalho.




Texto para a reunião do Clube do Conto de 07/10/2011. Tema: “pólen”.
Foto: http://stcmmrrbpp1311.files.wordpress.com/2011/10/girl-in-field.jpg

23/11/2011

Entrevistando Betomenezes


Olá, amigos  que acompanham este blog. Hoje trago para vocês mais uma entrevista. Estava ontem aqui curtindo meu 100 Broken windows do Idlewild com miojo e, nesse ínterim, entrevistei via chat o amigo e escritor Roberto Menezes. Confiramos então o que rolou desta conversa com direito a Tarantino, Emicida, Física e Literatura Paraibana. 

Wander Shirukaya - Como é de praxe, sempre peço a meus entrevistados para fazer uma breve apresentação. Fale um pouco de você.
Roberto Menezes - Meu nome é Roberto Menezes, me chame se quiser de Betomenezes. Sou paraibano de Tibiri, escrevo e sou professor universitário.

Wander - Sei que é professor de física. Como é transitar entre o mundo dos cálculos e a literatura? A sua atuação nas exatas influencia de alguma forma em sua literatura?
Betomenezes - São duas coisas completamente distintas. Na minha cabeça, coisas separadas. Porém, há coisas que considero importante para o estudo da física e a escrita: a primeira é a busca de soluções criativas para situações diversas; a segunda coisa é o uso indispensável da técnica que só se consegue com a prática.

Wander - Interessante. Então suas influências se baseiam mais na literatura mesmo. Que escritores você citaria como referência da sua prosa?
Betomenezes - Eu não colocaria esta pergunta assim. Não posso colocar nenhum escritor como referência a minha prosa, pois nunca procurei conscientemente por essa referência. O que acontece é a influência do que eu leio, do que eu escuto, do que eu vejo, vai somando à escrita sem estilo, que eu de maneira consciente vou aceitando ou não. Mas indo a sua pergunta: Stephen king foi o meu grande primeiro influenciador, José Lins e suas novelas não nordestinas, Saramago e seus últimos romances escorrendo estética. É dificil descrever nomes assim, de uma tacada só... Ronaldo Monte, André Ricardo Aguiar, Valéria Rezende, Geraldo Maciel, Dora Limeira são pessoas escrevem pra caramba.

Wander - Você está com livro na boca do forno, o Despoemas, que traz contos fortemente influenciados pela poesia. Seus romances anteriores, O gosto amargo de qualquer coisa e Pirilampos Cegos também, mas, acredito, de modo diferente. Como você vê a poesia em sua obra e qual sua relação com a poesia em si?
Betomenezes - A poesia, demorei a perceber isso, não é simplesmente um monte de versos empilhados, fazendo graça pra gringo ver. A poesia é um recurso crucial em um poema, apesar de ter muitos poemas por aí sem poesia alguma. Os meus livros, principalmente Despoemas, tentam inserir elementos usados em poemas na prosa, sem deixar se esvair o ato de contar. Há quem escreva romances como oleiro, há quem escreva como poetas. Como eu digo: tirando a poesia, o resto é olaria. 

Wander -  Despoemas também é uma compilação de adaptações. Como foi adaptar poemas de grandes escritores paraibanos? O que você acha que a boa adaptação deve conter?
Betomenezes - Eu nunca pensei realmente sobre adaptar um texto, eu simplesmente fui lendo os poemas e procurando um enredo que coubesse o poema. Era a minha interpretação dos poemas, bem mais que adaptação. 

Wander - A intersemiose entre gêneros anda cada vez mais em evidência. A que você atribui esta situação?
Betomenezes - Eu acho que é a tarantinização das artes.

Wander - Tarantinização [risos]? Tell me more!
Betomenezes - Eu acho que é a tarantinização das artes, onde a influência não se busca nas mesmas fontes... Um escritor não é feito apenas de ler clássicos, ele tem que saber o nome da mais nova sub-celebridade da semana passada, tem que saber o nome do padroeiro de Teresina, tem que saber o barato que dá a pedra de crack, tem que saber as letras das músicas que enlouquecem os marmanjos e as meninas. Quando se vai escrever, os clássicos serão sempre os clássicos, mas a maneira de dizer é outra, é um mash-up disso tudo. 

Wander - Além de lançar livro novo logo mais, você acaba de ser congratulado com o Prêmio José Lins do Rego. Fale um pouco sobre sua gratificação em receber tal prêmio e sobre o livro premiado.
Betomenezes - Fico muito feliz, ainda estou digerindo a notícia, foi um livro que me deu muito trabalho. É um livro de 70 páginas em A4 em um único parágrafo, todo em caixa baixa, escrito em segunda pessoa, bem ao estilo Caio Fernando Abreu, porém a choradeira da narradora serve para além do simples chororô, conta uma narrativa. Esta narrativa se passa em João Pessoa e entre os vários temas, aborda a política canina e ex-esposa ferina.

Wander - O que você tem lido ultimamente? Que recomendaria a quem nos lê agora?
Betomenezes - Ultimamente, 80% do que leio é de amigos que me passam textos ou coisa assim, faço parte do Clube do Conto e do CAIXA BAIXA, logo tenho material bastante para me entreter por muito tempo. Fora isso, li o último de Saramago, Caim, e vou começar a ler Levantado do Chão. Contudo confesso que não sou um leitor veloz, eu estudo muito os livros que leio. Levei 3 meses pra ler Caim, seis pra ler O Cu de Judas. Quando leio sou mais que leitor, eu releio frases inteiras pra comprovar o motivo de este cara ser tão bom, em suma, leio como escritor.

Wander - E quanto à música? Qual sua relação com ela? O que anda ouvindo e recomenda?
Betomenezes - Eu gosto muito de música. Já participei de banda e rock pra mim é a melhor coisa que tem pra descarregar as preocupações. Gosto de letras boas, mas não é uma exigência, a música vai além de letra. Mas quem escreve hoje (e não é rock) letra boa são duas pessoas Siba e Emicida.

Wander - Anteriormente você citou o Clube do Conto e o CAIXA BAIXA, dois movimentos literários paraibanos. Como você tem visto a "cena" literária da Paraíba?
Betomenezes - Eu acho que a cena literária paraibana está começando a ir além dos poetas, o Clube do Conto veio desde 2004 pra trazer a prosa com mais intensidade ao cenário paraibano. Não digo que isso não acontecia, mas não com tanta intensidade, hoje existem muitos contistas espalhados pela Paraíba inteira. Estes com influências e estilos diversos, não se restringindo a João Pessoa. O CAIXA BAIXA é um movimento de jovens escritores que se dividem entre os diversos estilos literários, geralmente executando vários, que é o que o mais interessante.

Wander - O que podemos esperar de seus projetos futuros e quais são eles?
Betomenezes - Eu tenho um cacetada de conto pronto, faltando lapidação. Um romance escrito procurando quem publique, três em construção, e um monte na fila. Espero que daqui pro final de 2019 eu tenha escrito a continuação de Crônicas de uma Morte Anunciada 2, em castellano.

Wander - Deixe uma mensagem aos leitores do blog.
Betomenezes - Que tipo de mensagem [risos]? Não leia porque dizem que é legal ler, leia o que você gosta de ler.

Wander - Obrigado
Betomenezes - De nada.



21/11/2011

Sobre "Vinho lilás"

Contos, contos e mais contos! Prova de que a "corda no pescoço", isto é, a sobrecarga de tempo, podem sim fazer bem e estimular a criatividade de alguma maneira. Conto escrito para participação na reunião do Clube do Conto desta semana, Vinho lilás é mais uma adaptação. Desta vez a canção adaptada é um clássico do cenário indie, a balada Lilac Wine, do espetacular Jeff Buckley. Sendo assim, temos a história de de alguém que chora e sofre pela confusão interna que vive. A moça aguarda o esposo para um jantar de reconciliação, o tempo passa, quando ela, já desgostosa e embrigada, se dapara com ele abrindo a porta. E agora? Bom, a música deve dar pistas do que se sucede. Então, deixo vocês com ela. Abraços.





16/11/2011

Sobre "Batucada"

A produção contística? Vai muito  bem, obrigado. Mais uma prova disso é Batucada, texto que comento um pouco a partir de agora. As minhas incursões sobre o fantástico continuam, mas, como de praxe, é preciso novas buscar novas formas de tornar a coisa mais legal e diversificada. Como comentar o narrador deste conto condicionaria demais o leitor a seguir minha linha de pensamento, mostro coisas diferentes. Temos uma garotinha, muito triste, que ao presenciar um espancamento de sua mãe por parte de seu pai, tranca-se no quarto com seu pequeno xilofone, tocando-o o mais alto possível para não ter de ouvir os gritos e pancadas. Como se vê pelo enredo, o conto é muito pesado, violento e transmite uma sensação de incômodo muito grande, uma vez que que retrata um problema muito grave de nossos dias: a violência doméstica/ familiar. Camélia, a menininha, é muito pequena e indefesa, impossibilitada de fazer algo pela mãe. o foco é mostrar a agonia dela  diante daquela rotina que, bem sabemos, não é desejada à criança alguma em nossa sociedade. Vejamos o que virá então logo mais. Bye!


13/11/2011

Steampink

Boa tarde, pessoal. Atendendo a pedidos, eis aqui meu primeiro excercício no campo da resenha/ crítica literária. Para iniciar a empreitada, discorro algumas palavras sobre Steampink, antologia de contos steampunk escritos exclusivamentes por mulheres. 
Antes de mais nada, cabe aqui explicar um pouco sobre os critérios de avaliação em que me ampararei, evitando assim uma leitura excessivamente impressionista, o que, a meu ver, não seria muito proveitosa. Ao comentar os textos a seguir, tomo como prioridade a forma (sim, sou aristotélico), isto é, que procedimentos estéticos foram utillizados pelas autoras para construir suas narrativas. Isso não implica dizer que desprezarei o conteúdo, até porque, os bons entendedores da crítica sabem que isso seria impossível, bem desastroso, já que o próprio conteúdo pode determinar a forma. Também não darei nota ao livro ou aos contos por achar isso uma medida muito determinista e rotuladora. Cabe ao leitor desta resenha interpretar o texto e levantar suas próprias especificidades a posteriori. Sendo assim, mão à obra!

Sobre o processo de edição
A Estronho é uma editora muito recente no mercado, mas que já chama muito a atenção por sua proposta de encher os olhos do leitor com livros não só aprazíveis no campo da leitura. Isso é visto com facilidade em Steampink (Belo Horizonte: Estronho, 2011). Tanto capa e diagramação estão muito bem feitas, cumprindo o papel de cativar quem se depare com ele, convidando posteriormente a ler seus 13 contos. O livro traz cuidado esmeradíssimo, inclusive no interior. Não tive dificuldades para ler, mas achei o tamanho da fonte um pouco pequeno, o que pode, acredito, causar algum entrave a quem tiver eventuais probleminhas de visão. A revisão deixou muito a desejar, infelizmente. Digo "infelizmente" por gostar e reconhecer o empenho da editora em propagar a Literatura Fantástica, mas é fato que que em absolutamente todas as narrativas percebi falhas nesse sentido, fato devidamente confirmado e comentado pela editora aqui, corroborando sua humildade em reconhecer e evoluir com seus lapsos. 
No mais, a organizadora Tatiana Ruiz pôs a mão na massa para selecionar 13 narrativas que compusessem um panorama da produção steampunk brasileira de autoria feminina. Romeu Martins, do Conselho Steampunk assinou em baixo a proposta através de seu prefácio. E quanto aos conto? Bom, vamos a eles.

Modernizando o passado

A expressão deste subtítulo cai como luva aos pressupostos da temática steampunk. Além disso, ela mostra que muitas autoras se destacaram pelo saudável caminho de remeter/dialogar/reverenciar as tradições literárias. Isso notadamente enriquece suas narrativas e abre mais possibilidades de leitura. Exemplo clássico disso é "O pena e o imperador", da Nikelen Witter, que deixa clara a influência machadiana tanto no conteúdo, já que o enredo nos apresenta um cientista reflete sobre a composição ou existência da alma humana, partindo de seus procedimentos científicos (difícil comentar sem entregar o ouro), quanto na forma, em que narra apontando leves intrusões: "É mais fácil acreditar na conversa que o Pena teve com o padre Onório e este contava sempre que tomava um cálice a mais de vinho da Eucaristia[...]" (pg. 132). Já em dois contos "primos", Ha-Mazan, da Lidia Zuin, e "Homérica Pirataria", da Dana Guedes, ambos contos retratando o mundo das nevagações audaciosas, percebi um pouco da sombra de um dos maiores capitães de todos os tempos (não, não é o Jack Sparrow, amigo: Ahab. O famoso personagem de Moby Dick é famoso por sua obsessão doentia em vencer a lendária baleia branca. De forma similar, os protagonistas dos dois contos aqui comentados agem de modo parecido. Os contos então sustentam um ar heróico, grandioso. O que muda é a forma: enquanto em "Homérica Pirataria" vemos certa reverência não só a Mellville, mas às história de pirata que lemos desde a infância, "Ha-Mazan" ousa por trazer uma tripulação totalmente composta por mulheres inescrupulosas e também por brincar com a focalização, uma vez que o leitor pode perceber que ela se aterna entre as figuras da capitã Izobelle e de sua "escudeira" Yamka. 
Se os dois contos supracitados dialogam de modo mais velado com a tradição, em "O poeta, a donzela insolente e o livro do tempo", da This Gomez, ela está escancarada em cada linha, tanto que vemos a ficcionalização de dados biográficos do mestre Álvares de Azevedo na composição da narrativa. De final muito bem arranjado, o conto também é feliz em evitar descrições exacerbadas e cansativas situando o leitor da maneira mais prgmática possível: "Itaboraí, Março de 1852" (pg. 50). A amiga (a quem já entrevistei aqui) Amanda Reznor parece ter optado pelo mesmo recurso, voltando-se apenas para uma narrativa mais suave, o que comprova seu tino para a literatura infanto-juvenil. Talvez o leitor se pergunte se os corvos mecânicos que são lubrificados com sangue de "A dama dos corvos" sejam realmente suaves. A meu ver sim, pois a violência está muito estilizada, o que a suaviza. O fato de termos corvos lubrificados com sangue em sua temática é algo inverossímil, o que contribui para a inquietação típica do texto fantástico, apenas. Além do mais, os corvos nao compoem o cerne da narrativa, que busca uma versão alternativa para o surgimento do gramofone. 
Diálogo interessante de se vertambém pode ser visto no conto da organizadora da antologia, Tatiana Ruiz. "Sem mais finais felizes" adapta uma das histórias mais adaptadas de todos os tempos, a de Chapeuzinho Vermelho, para o cenário do vapor.



Incursões estéticas interessantes


Durante a leitura de Steampink o leitor também se deparará com contos que ganham muito a partir da forma mesmo. Em "Sonha o corvo um sonho negro", da Leona Volpe, a narração faz com que uma típica história-de-amor-água-com-açúcar  se torne algo legal de acompanhar, já que o tempo todo a narração parece ser em segunda pessoa, forma narrativa arcaica e muito pouco usada, evitada, por ser considerada pouco verossímil. Entretanto, vejam que disse que parece. Na verdade a narradora dá essa impressão propositalmente: "Você voltou seus olhos negros para os meus e sorriu através deles, erguendo-se de sua poltrona vermelho-fogo, e subindo as escadarias de mármore claro [...]" (pg. 104). Vemos que há uma narradora que o tempo todo se volta para um "você", o que traz a impressão interessate de narração em segunda pessoa em boa parte do conto. Elucidar mais esse fato sem entregar o fim se torna difícil.
Em minha opinião, o melhor conto da leva "O terceiro reinado" da Georgette Sillen, tse encaixa facilmente ao que o Todorov diria ser o fantástico puro, ou seja, aquele conto que te perturba através de um evento insólito, adverso e sem resolução ao final da narrativa. As portas para a perplexidade e para a especulação se abrem nesta história ambientada no Rio de Janeiro oitocentista  e embasada em elementos políticos, que abrem mais interpretações ao conto. O final é como manda o figurino da literatura fantástica, sem dúvida prova da competência da autora. 


Nem todo vapor esquenta

Nem tudo são flores, alguns contos me passaram má  impressão, especialmente por serem excessivamente carregados. O que quero dizer com isso? Que alguns contos, tais como "A arma", da Lívia Pereira, "As irmãs taylor" da Verônica Freitas e "Escrito no tempo", da Lyra Collodel, para citar alguns, apresentam excessos tanto no conteúdo quanto na forma. No enredo isso faz com que o leitor se perca facilmente (no mau sentido) por causa da trama embolada. Isso talvez funcionaria numa narrativa mais longa, uma novela ou possível romance, onde se teria mais tempo/ espaço para destrinchar as coisas, mas se há uma coisa que o velho Poe disse e é verdade é que um conto pode até pecar pela falta, mas nunca pelo excesso. Na forma isso está bem claro, dada a quantidade de adjetivos parecidos/ repetidos que podiam ser facilmente cortados da narrativa. Talvez isso transpareça certa incipiência por parte destas autoras, fato que também não as põe como ruins, apenas não acertaram a mão desta vez. Convido o leitor a ver se tenho razão nesse sentido. 

Conclusão

Steampink trem seus defeitos, mas é indubitávelmente um bom livro, traz diferentes formas de ver um estilo que está começando a se propagar em terras tupiniquins, o que pode servir tanto de cartão de visita quanto a convite a novos escritores descobrirem seu gênero preferido. A produção do livro o faz bastante encantador, desde a sua capa. Alguns contos se apresentam como verdadeiros achados, o que trará imenso prazer ao leitor ávido por sangue novo. Fica então o convite a quem interessar, desbravem o mundo que a autoras de Steampink lhe apresentam.



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