"Ascensão e queda": romance de estreia!

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Contos de Wander Shirukaya

Para aqueles que querem conferir o que tenho escrito, dêem uma olhada aqui!

Tergiverso

Sensualidade em forma e conteúdo aguardando sua visita.

O híbrido e a arte

Animes, cinema e literatura

Procurando entrevistas?

Amanda Reznor, André Ricardo aguiar, Betomenezes... Confira estes e tantos mais entrevistados por Wander.

29/01/2012

Censura, ¿por qué no te callas?


Bem, pessoal. Postagem nova para discutir algo já bem conhecido. Sim, os ânimos têm se mostrado bastante sensíveis nos últimos tempos, sendo cada vez mais comuns formas de censura. Discutamo-nas agora, em especial, no campo das artes. 
Recentemente meu amigo, o escritor Roberto Denser, passou por um imbróglio devido a um conto que enviara para publicação. A recusa  do texto veio acompanhada de justificativas que, no, mínimo, nos fazem pensar um pouquinho, tais como “por conter linguagem inapropriada e apologia ao uso de entorpecentes”, ou pelo conto não ser "familiar".
É bastante comum de minha parte encontrar em regulamentos de antologias, por exemplo, certas expressões que são bastante duvidosas e parecidas com as justificativas acima descritas. Ou seja, o antologista deixa claro que não aceitará textos que "firam a moral e os bons costumes" (seja lá o que isso for), ou que tematizem assuntos extremamente polêmicos. 
Não raro ouço alguns dos prórpios antologistas/ editores serem também vítimas desse tipo de discurso. Um exemplo ocorrido no ano passado mostra que a Editora Estronho sofreu críticas ferrenhas por causa do título de uma antologia Steampunk escrita por mulheres (a saber, a coletânea se chama Steampink, já comentada aqui), sendo taxada de sexista e coisas do tipo. 
E onde quero chegar tendo citado esse pessoal todo? Parece simples, mas não é.
Ora, toda preocupação existente no sentido de combater eventuais problemas éticos ou que firam a integridade de cada um é válida, fato inegável. Entretanto, há uma tendência nos últimos tempos de fazer com que essa preocupação se amplie a níveis exorbitantes, o que faz com que coisas com as quais não estejamos tão habituados soem como ameaça em potencial, sendo então evitadas ao máximo. Com a velocidade que estas opiniões são propagadas, as pessoas desinformadas tendem a incorporar o pensamento generalizador, o que acaba fazendo com que todos fiquem com medo de se expressar. Para arte, essa generalização traz problemas gravíssimos. Um deles já tem se refletido há um bom tempo: há um medo enorme por parte do artista de ousar (neste caso mais no aspecto temático). O escritor teme ser linchado na rua por construir um personagem machista, teme virar motivo de desprezo pelas redes por ter escrito um conto em que um personagem/ narrador se posicione nazista, teme que os amigos de igreja o excomunguem por ter criado um discurso defendendo o ateísmo em uma de suas narrativas. Os artistas passam a ser vistos mais  como bruxos/ hereges do que como o que são; os acusadores, imbuídos do espírito do politicamente correto, mais se apresentam como inquisidores que pouco olham seus próprios problemas. Por outro lado, o comportamento dessas pessoas acaba se impondo e criando novas "normas para publicação". O resultado são textos, digamos assim, "inofensivos".  É evidente que um bom texto necessariamente não precisa ser de algum modo ofensivo, mas impreterivelmente ele necessitará de tensão, bem como representar as tensões do universo em que se encontra; ignorar essas tensões só tende a criar textos pouco interessantes. A situação agradaria Platão, que pregava em sua República que poesia não é voz corrente e servia para "afeminar os soldados". Por outro lado, Aristóteles já nos mostrava que "o trágico é belo" e que a arte não é a realidade, tampouco imitação desta; apenas mera representação do que nela existe. Trocando em miúdos, um personagem racista não implica necessariamente um autor racista, nem tampouco cria leitores racistas; da mesma forma, personagens "de bem", não garantem que seu "autor/leitor" não seja um criminoso ou alguém de conduta duvidosa. A lição é simples, aprendida logo cedo, mas insistentemente ocultada num discurso que generaliza de forma covarde toda expressão artística. Não gosto de me citar, mas nesse caso é inevitável: trabalho com pesquisas sobre gênero, também com assistência social, mas isso nunca me impediu de criar um personagem misógino ou homofóbico. O bom senso passa cada vez mais longe nos últimos tempos, pois pensar cansa, e precisamos descansar frente a nossos programas de TV, pois nosso dia já foi muito cansativo. Fica então a pergunta: que faremos? Calemos diante de tudo e nos contetemos com uma arte cada vez mais água-com-açúcar?
Bom, o problema está exposto, rolam os dados. As ações, vejamos o que vocês me dizem. Abraço.

26/01/2012

Sobre "Mãos, gazes e ataduras"

Conto novo, ainda na mesma linha dos últimos. Célia, uma artista plástica bem sucedida na vida se casa com um rapaz também artista plástico, com quem conviveu durante sua formação acadêmica. O problema surge quando o marido faz uma estranha escultura que a amedronta por causa do extremo realismo. Mãos, gazes e ataduras se junta à leva de contos que exploram as vertentes do fantástico. Provavelmente estes contos formarão o novo livro que está por vir. Aguardemos.


24/01/2012

Pola Oloixarac - As teorias selvagens


Demorou, mas finalmente sai uma nova resenha aqui em meu blog. A bola da vez é a musa nerd, a escritora argentina Pola Oloixarac, que a cada dia vem ganhando mais e mais destaque e, ainda bem, por sua incontestável qualidade literária. Sendo assim, vamos ao livro. 

Em tempos em que as pessoas tendem a se afeiçoar por livros de linguagem cada vez mais simples, fluida e concisa, as 240 páginas de As teorias selvagens (Benvirá, 2011), soam mais como um suicídio ou uma afronta sem tamanho. Talvez não seja o primeiro, mas com certeza o segundo tem sua razão de ser. A primeira coisa que impressiona o leitor neste romance é a dificuldade de leitura. A linguagem segue bastante truncada por muitas páginas, aproximando-o de uma produção acadêmica/ academicista. O hermetismo é tanto que faz com que encontremos ao longo da narrativa citações, referências bibliográficas e notas de rodapé. Observemos o trechinho abaixo:

Kamtchovsky observou que a difereça talvez se apoiasse na distância entre sufixos e prefixos. Uma geração de sufixos, como exibe a morfologia de "consciência-em-si" ou "consciência-para-si", centra sua atenção naquilo que resulta, que se solta a posteriori (a sintaxe não mente) da consciência; pelo contrário, uma geração seguinte que coloca a questão da consciência nos preconceitos inerentes de seu olhar opta pelo prefixo, pela característica prévia e intrínseca da mesma capacidade de raciocínio (p. ex. autoconsciência).  (p. 43)

Entretanto, como o leitor deve perceber, a difícil leitura está vinculada ao objetivo do livro de satirizar todo um grupo de acadêmicos que tendem a viver mais oumenos daquela maneira, em especial os da Universidade de Buenos Aires (me pergunto se há diferença entre lá e aqui nas faculdades brasileiras).  Assim, o que parece um romance de tese exacerbadamente prolixo se demonstra uma comédia romântica, uma crítica a uma sociedade que muito estuda e pouco faz, a ponto de não saber lidar com a memória de um povo, com os desdobramentos causado pelos anos de chumbo e, claro, com uma simples relação amorosa. Passado então o "susto" veremos o riso surgir quando vemos os discursos super qualificados dos protagonistas, a gordinha Kamtchovsky e seu namorado Pabst beirarem o ridículo. Aos poucos, o livro vai criando folgas em sua linguagem que permitem que o riso se apresente mais forte ainda; não é preciso indicar aqui que a ironia rola solta em muitos momentos. O humor fica bem mais claro quando passamos das citações de Marx e Kant à Jenna Jameson e Michael Jackson.
O ponto forte do livro me parece ser também seu ponto fraco, sendo assim um daqueles livros do tipo ame ou deixe-o, a linguagem hermética pode tanto atrair quantpo afastar o leitor; as citações a video-games, blogs e ícones pop também podem causar impacto semelhantes. O que fica é a certeza de lermos um livro que corrobora a afirmativa de que os estreitos e fronteiras entre a cultura pop e a acadêmica tem se transmutado ou até se diluído. Convido então você, amigo que lê este blog, a visitar esta grande (e bela) escritora e dar também o seu parecer. Amplexos.


18/01/2012

Como foi o Sarau de 1 ano do CAIXA BAIXA



Bem, pessoal, aqui vamos com uma pequena cobertura do que rolou no sarau de comemoração de um ano do Núcleo Literário CAIXA BAIXA, no Bar do Elvis, em João Pessoa - PB. O veso e a prosa correram soltos pelo público que compareceu em bom número. tivemos muita diversão, com direito à música, joelhos machucados e versões engraçada dos poemas tanto dos escritores do grupo quanto de escritores amigos, tais como Lau Siqueira e Águia Mendes. Várias apresentações foram filmadas, o que significa que logo mais teremos pela net alguns bons vídeos editados. Aproveito a postagem para agradecer a todos que lá fizeram a alegria da literatura da jovem Paraíba. Vamos que vamos!






Fotos: (1) eu recitando; (2) Letícia Palmeira, gustavo Limeira e eu fazendo um bate-papo divertido para o público; (3) movimentação dos presentes; (4) André Aguiar recitando clássicos da litPB.

14/01/2012

Sarau do CAIXA BAIXA hoje!


Precisa dizer mais? Nos vemos lá. Breve tem matéria sobre o evento neste mesmo canal.

09/01/2012

Sobre "Ensaios"

Uma moça vai ao cinema na primeira sessão da quarta-feira, quase ninguém no local. Ela se preocupa mais com o balde de pipoca do que com o filme, de tão chato e tedioso que estava. As coisas então só pioram com o fim da sessão. Ela, ao sair da sala, se vê imersa no cenário do filme a que assistia, no papel da protagonista. omeça então a busca de Carolina por libertar-se do acontecimento absurdo. Ensaios é o primeiro conto escrito do ano, já chegando com um marco no meu ofício, pois é o conto mais longo que já escrevi (sou contista de poucas laudas). A narrativa é mais uma de minhas experiências com o fantástico, elemento que venho estudando nos últimos tempos. Por ser muito longo, dificilmente apresentarei este conto por aqui, infelizmente. 

05/01/2012

Vinho Lilás *


A penumbra das nove horas, sala encoberta, obscurecida, onde cintilava apenas uma tentativa de luz vinda de duas velas, já aos desmanches, borbotões de parafina em cima da mesa. As cortinas sopravam um vento chocho que mal se fazia vento, esquentava mais do que aliviava o verão-crepúsculo.  A mesa posta para dois, pratos vazios aguardando, algumas travessas aconchegando alimentos finos; a toalha, uma renda belga, chamava bastante atenção, o branco em choque com o escuro do mogno do móvel e com a treva da espera. Há uns cravos, pequenos cravos arranjados num também pequeno vaso, a sombra deles tremulando enorme na penumbra. O vinho. Tinto. Suave. Um Tawny aberto, duas taças, uma sobre a mesa, cheia, porém intacta; a outra debatendo-se no entremeio lábio-dente, deixando pingar algumas gotas finas, lilases, sobre as pernas.
 
Tudo foi muito rápido, encontros, viagens, abusos, músicas, Jeff Buckley no último volume. Alianças, véu e grinalda. Dinheiro, estabilidade, famílias de posses, conseqüentemente, empregos promissores. Beleza. E com B maiúsculo.

Mas, depois, tédio.

Os bolsos da calça e do terno revirados, ligações estranhas em horários inoportunos. Ócio, hipóteses e conjeturas. Relação tensa, discussão, discussão, discussão. Entre tanto fervor, uma gota d’água.

Então, telefonemas. Vazio. Mensagem de reconciliação, no ensejo de que ele chegue para o jantar. Sete. Oito. Nove. Nada. Sete, oito, nove vinhos, coração espremido nas mãos, sangrando um lilás turvo. Os olhos bem abertos, vista fechada. A porta. Será ele? Abraço, beijo, soco, faca? Vinho. A garrafa. Atirada ao ar, chocando-se contra a porta fechada. Perplexidade, confusão, lágrimas lilases, borbotões de parafina escorrendo. Tato à penumbra. A procura, a espera. Onde?

Onde?

(…)

O barulho de um desabar no chão, gritos desesperados. Os joelhos avermelhados, a boca entre mordidas, penitências, gole seco no vinho, pernas trêmulas, fazendo uma sombra pouca na penumbra. Uma penumbra decaída, decadente, da vida poetizada em reveses que só provam que para o amor ainda não estou pronta.


*adaptação da canção “Lilac Wine”, de Jeff Buckley, para apresentação em reunião do Clube do Conto de 19/11/2011. Tema: “Vinho”. Publicado pela primeira vez no Blog do CAIXA BAIXA.
 
Foto: http://luxuryunplugged.com/wp-content/blogs.dir/77/files/2008/04/istock_000004889034xsmall.jpg

03/01/2012

A fidelidade em debate (parte III)



Feliz 2012 a todos! Como as coisas não param nem se o mundo acabar, vamos a mais uma postagem aqui neste blog. Para começar o ano bem, eu acho, continuo com a série de discussões sobre adaptações nos mais variados segmentos artísticos, no intento de problematizar um pouco as famosas afirmações de que "adaptação boa é aquele que é fiel" ou "adaptação boa é a que não é fiel ao texto de origem (doravante chamado texto-fonte, não importando qual a expressão artítica empregada em sua composição".
Para já começar bem, trago algo um tanto incomum: em Mardock Scramble (foto 1) temos a adaptação da série de romances de Tow Ubukata para mangá e, como de praxe no japão, para o anime (em uma série de OVA, para ser mais específico). O destaque aqui não vai apenas para a dificuldade de transposição/ edição do enredo, mas da renderização de personagens e cenários. Como não há atores, o desenvolvimento da ambientação sci-fi/ cyberpunk do série fica por conta da equipe de ilustradores, o que já traz grandes problemas ao ato de adaptar, pois sua produção depende de um grupo muito extenso, tal como no cinema, mas com foco na recriação de tudo em computação gráfica.  


E o que dizer quando a adaptação busca o tom de paródia, como em As patricinhas de Beverly Hills (foto 2)? A paródia buscará outro tipo estilização com relação ao texto-fonte, descarcterizando qualquer premissa deste segundo. Entretanto, o filme foi grande sucesso, tal como o texto fonte, Emma, da Jane Austen. Cá entre nós, o feito não é muito simples, pois o humor, ainda infelizmente, é muito mal visto no mundo das artes - não me aterei aos motivos aqui, pois isto daria uma bíblia de comentários. 



Por fim, pensemos agora o exemplo de Amor em quatro atos (foto 3), que adapta canções do velho Chico (Buarque, não é o Rio São Francisco) para o formato da TV. A combinação, para início de conversa, é bastante incomum, da música, uma obra de curta duração que condesa em breves versos relação com arranjos sonoros diversos, com a TV, que, além de depender de equipes maiores em sua composição, está presa a diversos parâmetros impostos à TV, por exemplo, a censura, a aceitação do público comom àquele segmento, etc. Reparemos que uma música, apesar das diversas relações entre a letra (que nem sempre existe) e os fatores rítmicos/ melódicos/ harmônicos envolvidos, é muito mais curta (em duração física mesmo) do que o de um capítulo de série de TV, geralmente contando meia hora (a não ser que a canção seja um épico progressivo, rs.). Sendo assim, o diretor tem que desdobrar a canção em uma narrativa, o que, de cara, já o tornaria "infiel" ao texto-fonte, já que uma letra/ poema tende a não ser narrativa. Assim, cabe ao diretor fazer recortes e tentar recriar/ dialogar com a ambientação do texto-fonte de outra forma, desprendendo-se ainda mais da noção de que a qualidade está necessariamente vinculada à fidelidade.
E então mais exemplos? Comentários? Sugestões? Vocês com a palavra! 



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