16/12/2011

Sexo e violência, baby! (parte VI)


Ressucitando séries que estavam no limbo deste blog, voltamos a falar sobre o uso do sexo e da violência nas artes, saindo da literatura, dos animes e da píntura para comentar um pouco do cinema. Desde nosso primeiro post sobre o assunto trabalhamos com idéia da inevitabilidade de fuga destes dois temas, dada a força com que estão presentes em nossa vivência. A aproximação da arte com o sexo e a violência só tem a contribuir para a verossimilhança, nesse sentido, enriquecendo o filme e evitando que fiquemos com aquela sensação de pudicícia exacerbada que comumente criticamos nas novelas, por exemplo. Para tanto, pegarei três filmes para a nossa observação em que a violência está permanentemente presente, mas se articula de modos distintos. 
O ano de 2002 viu nascer um filme que chocou platéias mundo afora pelo impacto de suas cenas de violência. Na verdade, os choques de Irreversível (Foto 1 - Direção: Gasparnoé) podem ser resumidas a duas: a cabeça de um dos personagens sendo esmagada por um extintor logo na primeira sequência do filme e o perturbador estupro de Alex, personagem da Monica Belucci, em que os mais sensíveis podem facilmente desistir de manter os olhos abertos. Pois bem, aqui podemos perceber que a pujança das cenas está a serviço do experimentalismo estético exposto pelo diretor, já que toda a montagem do filme por si só já amplia o desconforto do espectador propositalmente. A primeira sequência é nauseante, graças a imprevisibilidade de movimentação da câmera, movendo-se no ir e vir dos protagonistas dentro de um bar atrás do alvo. A própria montagem cria toda essa repulsa para ao decorrer do filme a desfazer, chegando a um final que beira a candura de tão suave que se apresenta. O filme, nesse sentido, pode ser visto como uma experiência na observação das diferentes impressões/ reações que pode causar ao espectador.

Baixio das bestas (2006 - Foto 2), de Cláudio Assis, tem crueza da cabeça aos pés, mas muito pouco estilizada, fato esse motivado por sua postura extremamente naturalista. A violência é exibida como forma de denúncia da violência que comumente ocorre nas nossas sociedades, aqui, em especial, à violência das cidades da zona da mata pernambucana. A montagem, portanto, é muito pouco ousada, mantendo-se o mais distante possível dos fatos, a maior parte do tempo, contribuindo para o tom quase jornalístico do filme. Destaque para a bela cena do estupro de Auxiliadora, personagem de Mariah Teixeira, no fim do filme. A moça, menor de idade que "era filha do avô", sofre abuso por parte do protagonista do filme, um típico agroboy (playboy do interior canavieiro). Pena que não se tenha escolhido a mesma crueza na cena da morte da personagem interpretada por Dira Paes, o que me parece uma suavização não condizendte com a ambientação proposta pelo filme. Mas isso deixamos para outra hora.

Destoando ainda mais, a violência em Kill Bill (2003 - Foto 3), de Tarantino, já aponta um caminho totalmente estilizado, usando e abusando dos exageros e recursos cinematográficos, o que cria um tom de paródia ou, pelo menos, de humor. A reverência ao estilo dos grandes filmes de luta orientais é flagrante; o grotesco é transformado em diversão, o que faz com que o espectador não tenha desconforto algum. A montagem apenas favorece essa perspectiva, como por exemplo na culminância das lutas A Noiva X O-ren Ishii e Noiva X Go Go Yubari (deixo essa última luta no vídeo abaixo, só como aperitivo).
Sendo assim, comentemos mais sobre o uso da violência nas artes. Tem exemplos? Contesta algo dito? A hora é agora! Até mais!



 
Relembre a série Sexo e violência, baby! Parte I - Parte II - Parte III - Parte IV - Parte V.
 

4 pitacos:

Adorei o texto. Principalmente porque não enumera apenas as cenas isoladas porque quando a violência é estética, não gratuita, ela é parte de um conjunto, está em toda parte dentro da construção do filme. Sou fã de "gore", "exploitation", gêneros que brincando com a gratuidade da violência no cinema, fazem até um exercício de estética, transformando a falta de necessidade de explicação em um estilo. Não sei se faz muito sentido mas é assim que eu penso.
Aproveitando para falar em gratuidade da violência, indico Violência Gratuita de Haneke. São duas versões, as duas dirigidas por ele próprio. Muito bom.

Esse filme é genial e a Monica Bellucci é uma grande atriz. Muito boa também a cena do esmagamento de crânio com estintor de incêndio.

Oops... Eu quis dizer "extintor".

poesiadapodridao.blogspot.com

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