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24/04/2017

Do que eu falo quando falo em fantástico - PT1




A literatura fantástica está comigo há muito tempo. Tornei-me, inclusive, pesquisador desse tipo de história e, como consequência, o fantástico vira e mexe aparece em minha prosa. Entretanto, costumo perceber que muitas pessoas ainda se perdem frente ao fantástico, talvez pela diversidade de manifestações apresentadas nas artes ou mesmo pela diversidade de percepções dos mais variados artistas frente ao tema. Com base nisso, uma vez pensando em lançar uma coletânea de contos do tipo, resolvi devanear um pouco sobre o que entendo sobre isso, tanto para meu próprio estudo como para a reflexão do leitor que também seja entusiasta do assunto.

São vários os autores que estudaram o fantástico. Dentre eles, costumo priorizar dois por causa de suas linhas de pensamento distintas. Tzvetan Todorov, talvez o teórico mais conhecido sobre o assunto, acreditava que o fantástico fosse um gênero em que os personagens se deparam com algo que desafia as leis do real, projetam seu desconforto (muitas vezes associado a medo) aos leitores e a narrativa termina sem que se possa adotar uma explicação para o fenômeno. Por outro lado, Irene Bessière parte da mesma ideia de inexplicabilidade frente a um evento que rompe as normas da realidade, porém o tratando mais como um recurso narrativo como outro qualquer e não necessariamente um gênero. Outros estudiosos têm se debruçado sobre o assunto, mas é fato que eles sempre se amparam a ambas as perspectivas apresentadas. Sendo assim, recomendo uma lida nos dois citados para quem desejar mais se aprofundar sobre o tema.
Algumas pessoas não têm interesse tão forte a ponto de estudar teoria, o que requer muito conhecimento prévio e dedicação. Talvez essas pessoas se deliciem com leituras um pouco menos densas, como o depoimento de autores sobre sua visão sobre o fantástico. Apesar de definições bastante imprecisas, podem servir de ponto de partida mais prazeroso. Vale uma lida o artigo curtinho de Julio Cortázar, “Do sentimento do fantástico”, em seu famoso Valise de cronópio. Metafórico como sempre, o autor comenta o fantástico a partir da história de um cachorrinho que olha fixamente algo numa parede. Algo que nós não sabemos o que é. Gosto da metáfora por apresentar bem  a base da narrativa fantástica: falar sobre o que não sabemos o que é. Assim, temos uma narrativa que se ampara em dilemas, paradoxos e mistérios. Mas espere um momento, pensará o leitor, se a base do fantástico é não compreender o que acontece, o grande dilema da literatura brasileira (se Bentinho é ou não corno)  poderia ser tratado como um evento fantástico? Na verdade não, pois ainda precisamos de um elemento que surja na narrativa que seja capaz de desafiar a realidade, ou como costuma dizer David Roas, que seja capaz de desafiar a nossa noção de realidade, já que em tempos de pós-modernidade se torna impossível concebê-la como uma só.  Agora o que parecia difícil se torna ainda mais, já que o leitor deve concluir que se o fantástico se move através da nossa percepção do real, talvez o que seja fantástico para mim não o seja para quem vive em outra região ou outra época. Falando num português mais prolixo, o fantástico depende de nossa percepção do real tanto de forma sincrônica quanto diacrônica. Vejamos um exemplo: no século XIX, era possível encontrar artigos científicos relatando a combustão espontânea, ou seja, casos em que pessoas beberam todas e acabaram por isso pegando fogo sozinhas. Com os avanços nas pesquisas, hoje sabemos que isso tudo não aconteceu e muitos casos que pipocam por aí são facilmente desmascarados. Ou seja, hoje tal evento seria um acontecimento fantástico para nós, mas não desafiaria a realidade de séculos atrás.  O leitor então pode concluir que o fantástico é um gênero/recurso interdependente não só de sua estrutura, mas também da nossa relação com ele e o contexto em que ele se encontra - tal como ocorre com o erotismo, acredito eu.
Tendo introduzido estas primeiras noções sobre o tema, continuo o que tiro da minha visão sobre esses tão variados estudos e narrativas.
Até lá.


PS: Sim, o título deste artigo é inspirado em Haruki Murakami. 
PS2: Referências serão colocadas no final da série de postagens. 

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