03/02/2010

As mulheres do Wander (parte II)




I like the peace in the back seat...


Depois de comentar um pouquinho as mulheres fatais de meus textos, proponho-me a expor uma leva de mulheres dos contos que não tem vez, muitas vezes assumindo uma posição de submissão diante do contexto onde estão inseridas. Muitas vezes, isso parace não as incomodar - às vezes até parecendo um prazer (bdsm?). A verdade que digo a respeito é que elas são a minha maneira de representar uma mulher comtemporânea ainda apegada às regras misóginas de nossa herança histórica. Como era de se esperar num mundo que preza cada vez mais o determinismo em sua construção, essas mulheres já nasceram no meio de um mundo onde a mulher jamais deve se dar ao luxo de errar, gozar, levantar a voz; elas podem até ser felizes, mas desde que não peturbem a paz dos arredores, movida pela fúria cotidiana (outra coisa a se discutir em breve).


"Ela aparou-se na sombra, acariciou a barriga, murmurava num dialeto infantil, levantava o rosto para a brisa que convidava para o verão. Não, agora não. Ele vai chegar lá, já, já. Vem de longe, o atraso dá pra agüentar. Pára um senhor, muito suado, boné do Corinthians. Quanto é? Vinte e cinco, moça. Tem de todo sabor? Tem de todo sabor. Um de limão. Seu troco, obrigado. Ela pegou sem responder, talvez nem tivesse dado conta. Olhava o povo que ia e vinha por perto. Calma, meu filho, papai já vem."



O trecho acima faz parte do conto Barcarola, que conta a espera esmeraldina de uma moça grávida pelo rapaz que nunca vem. São horas parada num dia quente, aconteça o que acontecer, ela se sente feliz e espera o amado, na certeza de sua vinda. Tenho outro conto, Um anoitecer em 26, que lida com a mesma sensação: a personagem principal é empregada, mas tem um caso de amor com o patrão e vive com ele na esperança de que largue a legítima esposa e a ponha em seu lugar, mesmo ela sendo quem/ o que é.
Em Às teclas pretas do piano, mostro como toda essa coisa vem logo cedo, de berço. A mãe, preocupada em manter a pose da família, insiste para que a filhinha querida, criancinha ainda, faça uma performance ao piano de dar inveja a muitos acadêmicos da música clássica. Só no fim nos damos conta que não é bem prazer que fazem a pobre criança verte as lágrimas do fim.
Logo mais, exporei uma nova vertente das mulheres em meus contos: as mulheres da liberdade.



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