23/11/2011

Entrevistando Betomenezes


Olá, amigos  que acompanham este blog. Hoje trago para vocês mais uma entrevista. Estava ontem aqui curtindo meu 100 Broken windows do Idlewild com miojo e, nesse ínterim, entrevistei via chat o amigo e escritor Roberto Menezes. Confiramos então o que rolou desta conversa com direito a Tarantino, Emicida, Física e Literatura Paraibana. 

Wander Shirukaya - Como é de praxe, sempre peço a meus entrevistados para fazer uma breve apresentação. Fale um pouco de você.
Roberto Menezes - Meu nome é Roberto Menezes, me chame se quiser de Betomenezes. Sou paraibano de Tibiri, escrevo e sou professor universitário.

Wander - Sei que é professor de física. Como é transitar entre o mundo dos cálculos e a literatura? A sua atuação nas exatas influencia de alguma forma em sua literatura?
Betomenezes - São duas coisas completamente distintas. Na minha cabeça, coisas separadas. Porém, há coisas que considero importante para o estudo da física e a escrita: a primeira é a busca de soluções criativas para situações diversas; a segunda coisa é o uso indispensável da técnica que só se consegue com a prática.

Wander - Interessante. Então suas influências se baseiam mais na literatura mesmo. Que escritores você citaria como referência da sua prosa?
Betomenezes - Eu não colocaria esta pergunta assim. Não posso colocar nenhum escritor como referência a minha prosa, pois nunca procurei conscientemente por essa referência. O que acontece é a influência do que eu leio, do que eu escuto, do que eu vejo, vai somando à escrita sem estilo, que eu de maneira consciente vou aceitando ou não. Mas indo a sua pergunta: Stephen king foi o meu grande primeiro influenciador, José Lins e suas novelas não nordestinas, Saramago e seus últimos romances escorrendo estética. É dificil descrever nomes assim, de uma tacada só... Ronaldo Monte, André Ricardo Aguiar, Valéria Rezende, Geraldo Maciel, Dora Limeira são pessoas escrevem pra caramba.

Wander - Você está com livro na boca do forno, o Despoemas, que traz contos fortemente influenciados pela poesia. Seus romances anteriores, O gosto amargo de qualquer coisa e Pirilampos Cegos também, mas, acredito, de modo diferente. Como você vê a poesia em sua obra e qual sua relação com a poesia em si?
Betomenezes - A poesia, demorei a perceber isso, não é simplesmente um monte de versos empilhados, fazendo graça pra gringo ver. A poesia é um recurso crucial em um poema, apesar de ter muitos poemas por aí sem poesia alguma. Os meus livros, principalmente Despoemas, tentam inserir elementos usados em poemas na prosa, sem deixar se esvair o ato de contar. Há quem escreva romances como oleiro, há quem escreva como poetas. Como eu digo: tirando a poesia, o resto é olaria. 

Wander -  Despoemas também é uma compilação de adaptações. Como foi adaptar poemas de grandes escritores paraibanos? O que você acha que a boa adaptação deve conter?
Betomenezes - Eu nunca pensei realmente sobre adaptar um texto, eu simplesmente fui lendo os poemas e procurando um enredo que coubesse o poema. Era a minha interpretação dos poemas, bem mais que adaptação. 

Wander - A intersemiose entre gêneros anda cada vez mais em evidência. A que você atribui esta situação?
Betomenezes - Eu acho que é a tarantinização das artes.

Wander - Tarantinização [risos]? Tell me more!
Betomenezes - Eu acho que é a tarantinização das artes, onde a influência não se busca nas mesmas fontes... Um escritor não é feito apenas de ler clássicos, ele tem que saber o nome da mais nova sub-celebridade da semana passada, tem que saber o nome do padroeiro de Teresina, tem que saber o barato que dá a pedra de crack, tem que saber as letras das músicas que enlouquecem os marmanjos e as meninas. Quando se vai escrever, os clássicos serão sempre os clássicos, mas a maneira de dizer é outra, é um mash-up disso tudo. 

Wander - Além de lançar livro novo logo mais, você acaba de ser congratulado com o Prêmio José Lins do Rego. Fale um pouco sobre sua gratificação em receber tal prêmio e sobre o livro premiado.
Betomenezes - Fico muito feliz, ainda estou digerindo a notícia, foi um livro que me deu muito trabalho. É um livro de 70 páginas em A4 em um único parágrafo, todo em caixa baixa, escrito em segunda pessoa, bem ao estilo Caio Fernando Abreu, porém a choradeira da narradora serve para além do simples chororô, conta uma narrativa. Esta narrativa se passa em João Pessoa e entre os vários temas, aborda a política canina e ex-esposa ferina.

Wander - O que você tem lido ultimamente? Que recomendaria a quem nos lê agora?
Betomenezes - Ultimamente, 80% do que leio é de amigos que me passam textos ou coisa assim, faço parte do Clube do Conto e do CAIXA BAIXA, logo tenho material bastante para me entreter por muito tempo. Fora isso, li o último de Saramago, Caim, e vou começar a ler Levantado do Chão. Contudo confesso que não sou um leitor veloz, eu estudo muito os livros que leio. Levei 3 meses pra ler Caim, seis pra ler O Cu de Judas. Quando leio sou mais que leitor, eu releio frases inteiras pra comprovar o motivo de este cara ser tão bom, em suma, leio como escritor.

Wander - E quanto à música? Qual sua relação com ela? O que anda ouvindo e recomenda?
Betomenezes - Eu gosto muito de música. Já participei de banda e rock pra mim é a melhor coisa que tem pra descarregar as preocupações. Gosto de letras boas, mas não é uma exigência, a música vai além de letra. Mas quem escreve hoje (e não é rock) letra boa são duas pessoas Siba e Emicida.

Wander - Anteriormente você citou o Clube do Conto e o CAIXA BAIXA, dois movimentos literários paraibanos. Como você tem visto a "cena" literária da Paraíba?
Betomenezes - Eu acho que a cena literária paraibana está começando a ir além dos poetas, o Clube do Conto veio desde 2004 pra trazer a prosa com mais intensidade ao cenário paraibano. Não digo que isso não acontecia, mas não com tanta intensidade, hoje existem muitos contistas espalhados pela Paraíba inteira. Estes com influências e estilos diversos, não se restringindo a João Pessoa. O CAIXA BAIXA é um movimento de jovens escritores que se dividem entre os diversos estilos literários, geralmente executando vários, que é o que o mais interessante.

Wander - O que podemos esperar de seus projetos futuros e quais são eles?
Betomenezes - Eu tenho um cacetada de conto pronto, faltando lapidação. Um romance escrito procurando quem publique, três em construção, e um monte na fila. Espero que daqui pro final de 2019 eu tenha escrito a continuação de Crônicas de uma Morte Anunciada 2, em castellano.

Wander - Deixe uma mensagem aos leitores do blog.
Betomenezes - Que tipo de mensagem [risos]? Não leia porque dizem que é legal ler, leia o que você gosta de ler.

Wander - Obrigado
Betomenezes - De nada.



3 pitacos:

Perfeita a entrevista. Vi os e-mails a respeito do concurso e aproveito para dizer "parabéns, Betomenezes".

"A poesia é um recurso crucial em um poema, apesar de ter muito poemas por aí sem poesia alguma".

Verdade dita.

E eu irei ao lançamento do livro.


Um abraço.

Eita, eu repeti a palavra COISA umas 50 vezes. Que coisa!

Ler como escritor... Acho que todos fazemos isso. Uma ótima entrevista. Mais uma vez parabéns a Beto pelo prêmio.

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