Eu ficaria muito feliz se conseguisse reduzir o que sinto numa fotografia. Ali ainda não seria o caso, talvez chegasse perto. Mais pra esquerda, mãe! Junta esse aí que eu não sei o nome! Calma! Não empurra!
Faria um dia daqueles, a explosão de fotossensibilidade se agrupando numa harmonia de arrancar suspiro, pouco sol, o suficiente para o brilho natural de uma captação bem feita. A grama sorriria, as flores nem se incomodariam com o câncer de pele carregado no canteiro dos hospitais. Até as rachaduras das paredes ao longe parecendo dizer xis. Sorririam mais que felizes. Diga xis! Não! Não! Calma! Mais pra cá! Você tá cobrindo a Marta, cara! Vai pra trás porque você é mais alto.
Ele se importaria? Estaria apenas centrado numa boa foto, com a turma toda reunida, não repararia em algumas pessoas insignificantes. Droga! Mesmo assim acharia bom, seria um deleite, as coisas caminhariam para um final feliz. Pára de se mexer! Desculpa! E a música lá no fundo, é linda, né? E cantaria com aquele inglês horrível da minha escola. Todo mundo me mandaria parar, se irritariam por não entender minha felicidade. Ele olharia para os lados, desconversaria, afinal, não seria de sua conta, não é verdade? Um fotógrafo com boa fama pela cidade. Ele consegue fotografar até sua alma, as dondocas da alta falando quando de cara com o resultado. Um dia eu conseguiria... Seus resultados, incríveis. Estou emocionada com essa foto! Quando você vem tirar mais? Escuta, eu tenho uma filha linda, ela quer ver se tem jeito pra modelo, tá até de regime, você não quer fotografá-la? Ele repararia nessas, mas não na sua foto mais importante. Eu o faria, com certeza.
Eu teria a chance do perdão, nunca mais reclamaria, ele me amaria outra vez. A praça, os gritos... Por que será que as pessoas não conseguem enxergar coisas assim? Eu quero a família, a paz, o amor, a ordem e o progresso – meus ditos comuns àquela época. O vento da tarde ampliaria a beleza da fotografia, meus cabelos voariam brilhantes, atiraria meu lenço que me sufocava o pescoço às alturas. Diga xis! E os arredores diriam. As estátuas da praça, os muros caindo, as grades esfaceladas de tanto sacudir se envergariam em forma de um largo sorriso. Vocês tão se mexendo demais! Assim a foto vai ficar ruim! Aproveita a posição do sol, a luz tá perfeita! Os policiais passando se esconderiam, as cáries se ergueriam para ficar bem na foto, eu nem se fala... A praça os gritos, a turma, ele lá...
Seria bom se prender totalmente nessa foto... Pra que meus erros se guardassem lá, para que não me massacrassem tanto... Quem mandou dizer o que não devia? Isso não é papel de uma mãe, ainda mais naquelas circunstâncias. Sai da direita, mãe! Assim você não vai sair na foto! Olha, lá vai, hein? Prontos? Lá vai!
- Xiiiiiiiiiiiiiiiiisss!!!
Flash!
Seria tudo uma maravilha, mas isso é só uma hipótese. Se eu soubesse ao menos onde você foi parar esses anos todos...
Faria um dia daqueles, a explosão de fotossensibilidade se agrupando numa harmonia de arrancar suspiro, pouco sol, o suficiente para o brilho natural de uma captação bem feita. A grama sorriria, as flores nem se incomodariam com o câncer de pele carregado no canteiro dos hospitais. Até as rachaduras das paredes ao longe parecendo dizer xis. Sorririam mais que felizes. Diga xis! Não! Não! Calma! Mais pra cá! Você tá cobrindo a Marta, cara! Vai pra trás porque você é mais alto.
Ele se importaria? Estaria apenas centrado numa boa foto, com a turma toda reunida, não repararia em algumas pessoas insignificantes. Droga! Mesmo assim acharia bom, seria um deleite, as coisas caminhariam para um final feliz. Pára de se mexer! Desculpa! E a música lá no fundo, é linda, né? E cantaria com aquele inglês horrível da minha escola. Todo mundo me mandaria parar, se irritariam por não entender minha felicidade. Ele olharia para os lados, desconversaria, afinal, não seria de sua conta, não é verdade? Um fotógrafo com boa fama pela cidade. Ele consegue fotografar até sua alma, as dondocas da alta falando quando de cara com o resultado. Um dia eu conseguiria... Seus resultados, incríveis. Estou emocionada com essa foto! Quando você vem tirar mais? Escuta, eu tenho uma filha linda, ela quer ver se tem jeito pra modelo, tá até de regime, você não quer fotografá-la? Ele repararia nessas, mas não na sua foto mais importante. Eu o faria, com certeza.
Eu teria a chance do perdão, nunca mais reclamaria, ele me amaria outra vez. A praça, os gritos... Por que será que as pessoas não conseguem enxergar coisas assim? Eu quero a família, a paz, o amor, a ordem e o progresso – meus ditos comuns àquela época. O vento da tarde ampliaria a beleza da fotografia, meus cabelos voariam brilhantes, atiraria meu lenço que me sufocava o pescoço às alturas. Diga xis! E os arredores diriam. As estátuas da praça, os muros caindo, as grades esfaceladas de tanto sacudir se envergariam em forma de um largo sorriso. Vocês tão se mexendo demais! Assim a foto vai ficar ruim! Aproveita a posição do sol, a luz tá perfeita! Os policiais passando se esconderiam, as cáries se ergueriam para ficar bem na foto, eu nem se fala... A praça os gritos, a turma, ele lá...
Seria bom se prender totalmente nessa foto... Pra que meus erros se guardassem lá, para que não me massacrassem tanto... Quem mandou dizer o que não devia? Isso não é papel de uma mãe, ainda mais naquelas circunstâncias. Sai da direita, mãe! Assim você não vai sair na foto! Olha, lá vai, hein? Prontos? Lá vai!
- Xiiiiiiiiiiiiiiiiisss!!!
Flash!
Seria tudo uma maravilha, mas isso é só uma hipótese. Se eu soubesse ao menos onde você foi parar esses anos todos...
[Wander Shirukaya]
* publicado pela primeira vez no Blog do Silêncio Interrompido.
Foto: http://www.turnandgo.com/frontrange/samples/Family.jpg
Foto: http://www.turnandgo.com/frontrange/samples/Family.jpg
22 pitacos:
Meu Deus do céu, que texto é esse??? Ainda to engatinhando nesse negócio de blog, e sinceramente fico surpreso quando vejo coisa de tanta qualidade, como o que eu acabei de ler agora!!! Que bom que existem pessoas talentosas, que usam essa ferramenta com inteligência!!!
Sensacional!
http://estacaoprimeiradosamba.blogspot.com/
Agradecido, Sr. Sandro. Volte sempre.
Muito bom mesmo, o cara ai de cima falou tudo, está de parabéns...
aliás, acabei de ler seu comentario no meu blog, não iria dar calote, mais como eu entro em um monte de comu, eu abro um monte de blog só de uma vez, e vou comentando em todos depois de divulgar o meu...
abraços, excelente o seu blog
Falando um pouco de mim, kkkkk .... Não sou fotogênico e odeio tirar fotos!
Bom, percebe-se pelo avatar do meu comentário. heheheheh (Salve Hommer!)
Texto sensacional!
Acho que descobri pq odeio fotos familiares...
Ah, nao comentei antes pq tava dando erro.
Abraço!
É.. uma fotografia pode significarmt coisa
Detesto sair em fotos sejam elas familiares ou não!
gostei muito do texto, parabens =]
Bom o texto.
Nunca parei pensar em como a foto é um assunto tão discutivel
Foto ... prefira que não existissem ... brinks .
www.bombatech.blogspot.com
foto ajuda mais só é 30% da lembrança, o resto tudo é editado, principalmente a memória de momentos unicos.
mt bom o texto! as fotografias nos transportam para aquele tempo q ficou para tras
Belo e criativo texto, usando com estilo, humor e bom toque de sensibilidade um tema muito atual e que dá brechas a amplas reflexões. Parabéns!
O texto é bom, mas não sei exatamente qual é minha reação (ainda) a ele, o que, penso eu ser um elogio. "O maior respeito que um escritor pode ter a seus leitores é não escrever nada que eles esperam." Goethe
Talvez precise ler mais de uma vez para compreender bem seus signos. Levou-me para a época mais feliz do meu passado, ou pelo menos ao que acredito ser a mais feliz, pois distorcida pelas lentes do presente. E deu a vontade de procurar nos meus arquivos por uma foto representativa daquele tento, que sei de antemão não possuir.
Mas de qualquer forma, mesmo precisando de uma releitura por minha parte, parabéns pelo texto e pelo blog!
Fernando, ler mais de uma vez é extremamente necessário para se tirar os grandes significados de uma obra. E. A. Poe dizia que conto so se devia ler uma vez, acho q ele estava bem errado quanto aisso.
Fique a vontade para reaparecer em meu blog e obrigado pelo elogio.
^^
Meu caro Wander, conseguir captar tudo que é uma fotografia, uma fotografia diz tudo sem se quer emitir um som, tem muitos mais mistérios que um video, amei o conto ^^
Oi. Bom dia. Meu muito obrigada por seu comentário lá no meu blog. Eu, francamente, n ão esperava que você voltasse mais. Tem palavra, hein! Cumpre o que promete e eu adoro pessoas assim.
Fiquei encantada com a sua interpretação do texto. Interessantíssima. Adoro leitores capazes de fazer uma interpretação tão profundo e que vãoalém das intenções dopróprio autor. Achei bárbaro quando você interpreta a rapidez a dinamicidade do texto como forma de guardar alguma relação com a rapidinha, o sexo rápido, a experiência fugaz vivida pela personagem. Apesar de não ter sido essa a minnha intenção, achei a interpretação brilhante. Sai do senso-comum.
Meu muito obrigada, tá. Abraços.
Fabíola
Oi. Boa noite. Wando, venho aqui lhe agradecer pela atenção que você dispensou ao meu blog. Sei que, num ambiente tão hostil como é a blogsfera, difiícil encontrar alguém que faça isso. Fico, deveras, grata por você ter colocado o meu blog em sua lista. Isso me rendeu algumas visitas a mais em meu blog como a da Geisiara, por exemplo. É pé quente o seu blog, hein! rrssrrs. Eu fico muito grata, tá. Não é puxasaquismo. É gratidão. Meu blog é muito importante para mim e eu sei o quanto é complicado encontrar alguém que, através de um gesto de simpatia, queira, de alguma forma ajudar, ainda que incoscientemente.
Sem falsa linsonja, acho o seu blog interessante. Por isso que fiz aquele comentário que você achou grande demais. É um blog interessante.
Fabíola( Blog Pensamento Flutuante)
Wandinho, Poe estaria errado se tivesse dito isso sobre o gênero romance. Um bom conto deve ser sim, lido de uma só sentada! Tradução aliás infeliz. Ele não disse que conto só se deveria ler uma vez, disse que deveria ser lido em "one sitting reading". Por mais que haja leitores que demorem mais lendo, ou se entretam enquanto leem, um bom conto nos traga, absorve de uma vez!Agora há bons contos e contos ruins. Estes nunca absorvem!
Melhor ainda, assim fica mais forte meu ponto d vista citado acima.
Abração, obg pela informação.
^^
Postar um comentário