Lá vamos nós para mais uma discussão. Já comentamos um pouco aqui sobre as relaçãoes entre o conto e o curta-metragem, citando inclusive o assunto deste post: a fidelidade. Alerto aos paraquedistas que acham que vamos falar de questões éticas e amorosas que não é este o caso. Vamos expor apenas alguns pontos sobre o que devemeos ter na cabeça quando pensamos em "fidelidade" de uma adaptação artística.
É muito comum, ao nos depararmos com uma adaptação fílmica, por exemplo, e ao término do filme o avaliar baseando-se se ele foi "fiel" ao texto de origem. Mediante isso, criam-se duas "facções": a dos que acham que fidelidade é essencial e não deve ser quebrada nunca - na adaptação de O senhor dos Anéis (foto), famosa por ser muito fiel, ainda teve gente que reclamou (Que merda! Cadê Tom Bambadil?) . Por outro lado, temos um grupo que defende a autonomia do filme, dizendo que filme bom é aquele que se desprende ao máximo da tal fidelidade. Ora, chegamos a um impasse: quem tem razão nesta briga? Qual a importância da fidelidade?
Para nortear um pouco nossas especulações exponho que o problema geral nesta questão vem de se usar a tal fidelidade como indicador de valor, o que me parece equivocado. Nenhuma adaptação é boa só por ser fiel ao texto-fonte. O contrário também não sustenta. Até hoje no mundo da arte acredito que não se tenha critério melhor para se avaliar uma obra do que a sua forma, sendo assim muito importante que conheçamos as especificidades dos dois tipos de textos que lidamos para poder saber se realmente a adaptação foi bem composta, independente do tipo de suporte. Exemplificamos o caso com a adaptação fílmica por causa de sua maior exposição, mas também falamos de outros tipos de adaptação, pois um poema pode virar uma canção, uma canção pode virar uma série de TV, uma série pode virar jogo de videogame, ou seja, as possibilidades são muitas. Recomendo aos interessados a leitura dos estudos da Linda Hutcheon, que abrangem uma gama muito variada de adaptações com que lidamos, inclusive para jogos de RPG.
Mediante as observações aqui feitas, deixem seus comentários sobre o que acham da fidelidade nas adaptações. Em breve daremos sequência à discussão com alguns exemplos interessantes. Até mais.
11 pitacos:
o filme é uma foto. são belas, as vezes, mas são apenas um recorte. Os livros são a imensidão indomável que nunca repousa.
Seu comentario atesta o quao preconceituosos ainda somos. :(
Ambos tem sua autonomia e especificidades,por isso mesmo a literatura não é superior, pena q ainda é tão difícil ver isso.
não sei se JAIRO foi preconceituoso
eu acho a literatura superior ao cinema
o motivo é simples:
os melhores filmes que assisti não chegaram perto da emoção que senti com os melhores livros que li, estes a emoção é mais prolongada e me faz ter vontade de lê-los de vez em quando, já filmes dificilmente mais de duas vezes
a recepção de uma obra de arte varia de pessoa pra pessoa
com certeza há pessoas que preferem os filmes
isso não é preconceito é gosto
eu acho a literatura superior à música
a quem ache o contrário
isso não é preconceito é gosto
é claro que eu acho de mau gosto o gosto de muitos
aí pode ser preconceito
mas eu não abro mão de tê-lo
em relação a fidelidade:
tanto faz
pra mim o que importa é a qualidade do filme
o que vale adaptar fielmente DOM QUIXOTE e fazer merda
Credo, amigo. Mas sua opiniao tambem comprova o q se mostra neste tipo de estudo: a literatura, em especial, ainda tem um ranço incrivel de se achar "a grande arte". Talvez o problema seja os filmes q vc viu. Clro q gosto é gosto, mas afirmar a superioridade duma outra me parece como dizer que a cultura de um povo é superior a de outro. Bom vr q o debate tem rendido
a literatura não acha nada nem o cinema
e sim as pessoas
e como não dizer que uma coisa é superior a outra
se aquela me atrai, me satisfaz, me eleva mais que esta
eu também acho futebol superior a vôlei
e por que não dizer que uma cultura é superior a outra
nosso futebol claramente é melhor que o do vaticano
mas nossa indústria claramente inferior à dos EUA
mas isso não quer dizer daqui a algumas décadas não sejamos superiores na indústria e inferiores no futebol
mas pense em todas as atividades humanas
pense numa tribo
e pense na CHINA
claramente a CHINA é superior em quase todos os quesitos
inclusive culturais
mesmo porque a tribo qualquer que seja
desenvolveu muito menos quesitos
mas isso não quer dizer que essa tribo não venha a ser superior à CHINA
os MONGÓIS já provaram uma vez
assim como centenas de exemplos de povos que estavam em situação inferior e se tornaram grandes
não há mal em dizer que PERNAMBUCO é superior à PARAÍBA na maioria dos quesitos inclusive culturais, isso é a verdade
mal é achar que isso não pode ser mudado
Vc tm falado q cultura se desenvolve. Desenvolver pressupoe evolução e isso é o q faz vc achar q uma cultura é superior a outra. Bom, é seu ponto de vista, embora eu nao concorde com ele.
"a literatura não acha nada nem o cinema
e sim as pessoas" - foiq o que quis dizer, usando de metonimia.
eu entendi mas quis frescar
apesar de não saber que era metonímia
essa questão de evolução da arte é complicada
mas eu acho que evolui sim no início
eu não sou criacionista
e como acredito que as linguagens evoluíram a arte também
imagine como tu escrevia mal quando começaste e quanto evoluíste
possivelmente vais chegar num ponto do qual não passarás
acho que as artes mais antigas já chegaram no ponto de qualidade do qual não podemos passar apenas igualar
até o cinema que é recente já chegou
mas imagine aquela tribo que nunca viu cinema tu não acha que se as pessoas dela forem apresentadas ao cinema hoje elas demorarão, isso porque irão estudar, aprender, evoluir, pra chegar no nível dum cinema como o nosso
Mas aih a questao nao eh de evolução, apenas transformação. Se fosse pela seu pensamento, a lingua neolatina mais evoluida seria o frances, pois foi a q mais mudou. Para mim, isso nao faz muito sentido.
Achar q a arte mais recente deve "alcançar" as mais antigas é desrespeitar suas especificidades (chamavam Virginia Woolf de doida qdo ela usava esse discurso q to usando), mas ela ja percebia que sao coisas relativas, nao superiores/inferiores.
Permita-me abordar a questão por outro ponto de vista. Todos os que aqui comentaram, incluindo Jairo e Joedson, já devem ter assistido "A última tentação de Cristo", e gostado. Porém, nos Evangelhos, temos uma visão bem limitada desse Cristo, se compararmos com o Cristo do filme. O resultado? A Bíblia é literatura, mas tem suas limitações.
Na literatura temos uma coisa chamada linearidade. É impossível ter uma visão global do todo centrando-se em uma palavra de cada vez. A construção do todo é lenta? No cinema, porém, temos uma globalidade, a visão é na totalidade em casa cena, o que dispensa descrições.
Eu, por exemplo, sempre achei as adaptações de Guerra nas Estrelas para outras mídias (literatura, games, quadrinhos) mais fracas. As adaptações dos super-heróis da Marvel para o cinema não convencem (apesar de considerar X-Men: Primeira Classe, e o Hulk com E.Norton, filmes fantásticos).
Quanto ao Senhor dos Anéis, considero a adaptação de Peter Jackson tão boa quanto o livro. No livro, temos uma trama distinta, um modo de construir diferente do cinema. Tom Bombadil seria peso morto na película, assim como a ausência de Arwen e a menor presença de Eowyn seria complicado, sendo elas duas personagens complexas demais para ficarem de fora.
No livro, Tolkien era racista, sexista e xenófobo (praticamente um Monteiro Lobato inglês), algo que Peter Jackson tomou o cuidado de eliminar quando filmou a saga.
Por fim, não vejo nenhuma superioridade de uma arte sobre outra. Cada qual tem seus próprios limites e suas próprias potencialidades. O que funciona em uma não funciona necessariamente em outra. A linguagem da literatura nem sempre é adaptável para o cinema (basta ver fiascos mal feitos como Brás Cubas, O Guia do Mochileiro das Galáxias e Flush). E muito do cinema não é algo adaptável para a literatura (como nos casos de Guerra nas Estrelas e Alien).
O que quero dizer com isso? Bom, não dá para traduzir um livro em pinturas sem perder alguma coisa, não se adapta de quadrinhos para música, ou de contos populares para dança, sem, com isso, perder-se algo no processo. O bom adaptador, porém, vendo que algo será perdido, faz por onde preencher as lacunas criativas que restaram de acordo com as leis inerentes à própria arte para a qual está adaptando.
Bom, basicamente é essa minha opinião.
Sua opiniao é como a minha e é exatamente com esse tipo de pensamento q deveriamos vr as coisas, não achando q literatura eh superior por ser mais velha ou q o cinema é superior por ser mais difundido.
Agora, ponto lenha na fogueira, essa linearidade e globalidade a q vc se refere tm suas controversias, não?
Amplexos, manolos!
Tem sim, Wander. A poesia concreta é literatura global, por exemplo. Uma fita de cetim desehada é pintuda linear. Não são regras, mas apenas características gerais (e não totais).
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