03/04/2012

Desencapetando o riso (parte III)

É sempre bom respeitar os mais velhos?


Vamos nessa para mais uma postagem da série sobre riso, humor e comédia nas artes. Hoje mostraremos algumas palavras sobre a comum idéia de que existem coisas que são intocáveis e que jamais devem ser satirizadas/ parodiadas/ canonizadas. Já falamos na postagem anterior um pouco sobre isso, mostrando que algumas mudanças históricas por que passamos criou uma "demonização" do riso em si. Essa demonização se propaga até hoje, criando um repúdio enorme ao humor. A questão mais específica aqui é: um cânone é intocável?
Nos útlimos tempos a grande autora inglesa Jane Austen tem "sofrido" maus bocados nas linhas de novos escritores que dispuseram-se a parodiar suas obras. Os mashups têm se tornado muito famosos, mas comumente têm sido rechaçados pelas nobres academias de letras e por muitos intelectuais que vinculam essas obras à subliteratura. Estaria eu dizendo que estas novas obras são novos cânones? Evidente que não; basta observar direitinho que, por comporem uma linha de aceitação mais direta (e rentável), muitas vezes a qualidade literária que tanto prezamos é deixada de lado. Bom, não nos importa agora avalia-los. O que tento mostrar é que essas obras de humor paródico necessariamente não implicam obras ruins. Para exemplificar, por que não observar o que a tão parodiada Jane Austen pensa? Bom, como ela já não está entre nós, resta-nos entender um pouco de seu pensamento através de seus próprios escritos.
Katherine Morland, a protagonista de A abadia de Northanger, vive numa cidadezinha pequena onde pouco se tem pra fazer além de ler os livros da estante dos pais. Essa prática cria uma leitora viciada em romances góticos, tão viciada a ponto de fazer com que ela viva fantasiando uma aventura envolvendo todos os clichês deste tipo de história. Um conhecedor da lira ferina da autora perceberá logo a marionete que a protagonista vira em suas mãos. Tudo isso para quê? Para parodiar os romances góticos que tanto dominavam a sua época!
Assim, o que veremos neste romance é uma chuva de frustrações que tem a intenção de fazer com que o leitor ria. Sendo a ironia de Austen tão sutil quanto conhecemos, isso pode não ficar tão claro à primeira vista. Mas uma vez percebida, prepare-se para o riso. Pouco importará se Katherine terá um final feliz com seu par amoroso; a graça em ver uma mocinha descobrindo a vida adulta se metendo em confusões por sua imaginação fértil já se incrustrará no leitor. E quanto a questão que levantamos aqui? Ora, será que, se Austen, uma das escritoras mais respeitadas por sua qualidade e importância, parodiava toda uma tradição literária do séc. XIX, por que um escritor contemporâneo não pode fazer o mesmo com uma de suas obras? No fim das contas, os aspectos temáticos pouco importam, pois qualquer julgamento passaria apenas pelo gosto do leitor, a qualidade literária só será comprovada avaliando-se os procedimentos estéticos utilizado por aquele que "ousa" satirizar o cânone. 
E então, o que me dizem? A seção de comentários é de todos vocês! No mais, deixo um videozinho de uma pouco conhecida adaptação fílmica do livro, só para deixar vocês instigados. Amplexos.




 Confira também a parte 1 e a parte 2.






















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