Põe um aparelho no seu dente,
Coloca a argola na orelha,
Depois põe esse piercing na tua língua,
Injeta silicone no teu peito,
Faz uma porção de tatuagem,
Encosta na tua pele ferro quente,
Imprime no teu corpo uma palavra,
E põe um parafuso na cabeça.
Faz uma trepanação no cérebro,
Puxa, corta, rasga e aperta.
O teu sexo, o teu sexo.
Faz um pieling, põe um marca-passo,
Se mutila todo e fica vesgo,
Introduz um córneo na tua testa
E põe um parafuso na cabeça.
Põe um parafuso na cabeça, põe um parafuso na cabeça....
Rogério Skylab, Parafuso na cabeça.
Grandes amigos, visitantes deste blog, retomo agora uma série que estava um pouco esquecida, em que mostramos exemplos de boas letras de música e discutimos por que razão não se tem seguido tanto estes exemplos na hora de compor. E para mostrar que o underground também tem seu valor, trago um divertido e controverso artista: Rogério Skylab.
Bom, observando a letra, e ao nos ampararmos meramente na biografia do artista, tido como louco de carteirinha por muitos, logo esta letra se apresenta tola, simplória, também cheia de elementos grotescos que tanto chamam atenção em sua carreira. Entretanto, acreditar que é uma mera canção seria um erro, dissolvido ao analisar um pouquinho mais as possibilidades semânticas empregadas nesta letra. Pegando a frase do refrão, por exemplo, já fica fácil tomar outro rumo. Ora, não se trata apenas de falar em pôr piercings, mais de ajustarmos nosso parafusos soltos. Veja que as sugestões do eu-lírico são atitudes extremas tomadas pela sociedade caótica, o uso de silicone, mutilações, tatuagens em demasia... Não seria hora de pormos um parafuso em nossas cabeças? Que tal imprimir palavras em os que sejam significativas, tais como sabedoria, juízo, consciência? Esta idéia impplícita na música não me parece tão difícil de ser percebida. Sendo assim, dá para ver que essa (e outras) possibilidade de leitura contribui para uma desautomatização da linguagem, para usar um termo mais técnico, o que faz com que a sua experiência diante do texto seja, entre outras coisas de maior impacto, garantindo-lhe os padrões de qualidade estética instaurados ao longo de nossos tempos.
E, como, sempre, diante de bons exemplos, nos perguntamos porque tanta coisa ruim? Não que a arte precise de esforço ao máximo, mas será mesmo que precisamos nos contentar com tão pouco quanto nos oferem as canções das rádios? Eis a questão, meus caros. Comentem, sugestões de canções para observar também seria uma boa pedida.
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