O determinismo pode não ser a pedra fundamental de nossa existência, mas com certeza não podemos negar a força com que ele nos força a seguir como se tudo estivesse premeditado. Por mais que nos esforcemos, vemos um mundo cada vez mais nos impondo a filosofia do "deixa a vida me levar", o que comprova todo o poder dessa fúria de que tanto falo aqui. Em O laço, vemos um grande exemplo disso, já que neste conto todo o conflito é gerado pelo determinismo do contexto. A moça que vive uma vida amarga no orfanato e descobre o amor quando finalmente encontra uma família que a adote, o que traz para si uma infelicidade ainda maior. O fato de ter nascido em um orfanato faz com que todo o seu drama só aumente, mesmo que à primeira vista o leitor pense que a sua dadoção significaria sua felicidade. Segue um trecho que já consegue ilustrar o que digo:
"Foi num dia doze, que eu me lembre, que a felicidade me bateu a porta. Não tive nem tempo de arrumar o laço; Dona Luzia me puxou pra sala, lá tava uma mulher quarentona, bem apanhada. Riu de mim, não por causa do laço torto, mas porque tinha me achado bonita. Que linda você é, meu anjo! Como é comum de pet shop, sorri. Oi, senhora. Meu nome é Beatriz. Que linda! Me admira que esteja aqui ainda. Tem doze anos? Não, nove. E vinha me visitar sempre, eu gostava dela. Vinha ela e o marido, um homem alto, ranzinza. Mas não tinha do que reclamar, senão meus olhos verdes nunca iam ver o lado de fora. No dia que ela me buscou eu senti que o laço tava quase no lugar. Deve ser bom sinal. Era não. Porque naquele dia conheci Davi, o filho da minha mãe. O meu porto..."
"Foi num dia doze, que eu me lembre, que a felicidade me bateu a porta. Não tive nem tempo de arrumar o laço; Dona Luzia me puxou pra sala, lá tava uma mulher quarentona, bem apanhada. Riu de mim, não por causa do laço torto, mas porque tinha me achado bonita. Que linda você é, meu anjo! Como é comum de pet shop, sorri. Oi, senhora. Meu nome é Beatriz. Que linda! Me admira que esteja aqui ainda. Tem doze anos? Não, nove. E vinha me visitar sempre, eu gostava dela. Vinha ela e o marido, um homem alto, ranzinza. Mas não tinha do que reclamar, senão meus olhos verdes nunca iam ver o lado de fora. No dia que ela me buscou eu senti que o laço tava quase no lugar. Deve ser bom sinal. Era não. Porque naquele dia conheci Davi, o filho da minha mãe. O meu porto..."
4 pitacos:
gostei, mas acho que só vive no "deixa a vida me levar" quem quer. as pessoas inteligentes tem uma opinião formada e conseguem fazer a vida delas o mais afastado possivel do "segue como pode" ;)
Exatamente, meu caro Locke. A idéia é essa.
Esse negócio de "deixar a vida te levar" me soa como comodismo!
Muito legal o visual do seu blog.
www.todososouvidos.blogspot.com
concordo com se deixar a vida te levar é uma forma de lutar pelas coisas que deseja. as vezes é preciso batalhar pelos seus desejos.
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