Chega! É hoje! Sem muito luxo, arrumou-se. Prendeu os cabelos – se não fosse pelas tinturas da vida eles já estariam um pouco prateados. Deixa pra lá. Nunca parecia ter a idade que tem. Quanto? Não se pergunta a idade de uma dama, muito menos se ela for comprometida. Quê? Comprometida, pelo menos se tudo der certo. É hoje!
Depois de uma bela caminhada, chega. Chega desvairada. Chega! Coração na lágrima, lágrima na mão, a tarde iluminada, propícia para o ato. Quer saber o que eu vim fazer? Olho carregado, verde, fixo, senta junto dele, puxa da bolsa o prêmio. Ele paralisado. Sei que não devia fazer isso, mas por todos estes anos eu carreguei isso em mim. Isso o quê? Culpa, angústia, pesar mais pesado a cada segundo, a cada fração passada ao passar dos seus passos frente a minha casa. Eu nervosa. Será que estou mesmo dizendo essas coisas? Dói. Mas é preciso, porque quando eu te via eu me agüentava, mas ver o que tenho aqui não me deixa em paz. E eu caio. Caí. Hoje mais do que nunca.
Sempre se cruzavam à distância; é a primeira vez em anos tão próximos. Chega o peito pulula, pula empurrando o coração pro céu, junto ao sem número de ações misturadas, buscando um fim onde o amarelo sorriso se abrisse. Ferver, tremer, olhar, arfar. Fugir? Parar, pensar, respirar, prosseguir, falar, tremer, gaguejar, mostrar, parar, esquecer, chorar, querer morrer, desejar, acalmar, acordar, ignorar, mostrar.
É isso, mostrar.
Era um retrato lindo. A moldura estava muito carcomida, a foto num misto de sépia e ocre, sei lá. Minha vista dói. A cabeça dela doía. Ânimo! Lembra? Não lembrava. Uma palavra pra confirmar, apenas? Ele não quer me falar. Olha, eu sei que o que eu fiz foi sem perdão. Essa foto é hoje a nossa única lembrança. A Julinha tinha morrido, nem quis dizer da existência dela para ele, a raiva não deixava. Castigo, esse aborto, só pode ser. Mas ele soube, por terceiros, nunca disse nada, nem na frieza de agora. Alguém de longe vê, estranha a aflição da mulher. Deus me livre de me meter nessas coisas! Chora. Tinha tudo, mas por um erro tudo foi por água abaixo. Os pássaros cantam aos arredores, quem sabe para desentalar a pobre, engasgada nas ações possíveis: Lamentar, chorar, desculpar-se, implorar, sussurrar, se surrar, rever, reviver, remoer, sofrer, entender, partir. Partir? Redargüir, discernir, distinguir, diferir-se, cingir, impor, antepor, por tudo quanto é ação para fora, pra ver se a indiferença passa, a passos menos compassados, se a passividade dele pára. Não vai. A quem eu quero enganar? Ele não quer me responder, nem com um gesto, um olhar, está irredutível. É o fim, conforme-se.
Chega! Tarde demais! Estava arrebentando por dentro de amargura, de arrependimentos, afogada no choro interno. Grito. Grita. Por que nossas vidas tomaram esse rumo? Por um erro apenas meu mundo esses anos todos foi te ver passar longe, ignorando. Por deus, até a filha que vinha você ignorou! Mesmo assim, mesmo nesse eterno nó em que vivia ela ainda o amava. Adeus. Que bobagem a dela; ele nunca se importara, não ia ser agora depois de tantos anos que o faria. Com os gritos, os pássaros se assustaram, deixaram pra lá a paisagem verdejante e ensolarada. Alguém resolve intervir. O coveiro veio num ato de pura gentileza. Você está atrapalhando meu trabalho, dona. Caiu. Em si. Ela deixou o retrato entre os cravos, levantou-se da lápide, as mãos marcadas de tanto esmurrar. Foi puxada, foi embora. Eu te amo, eu te amo, eu te amo.
Depois de uma bela caminhada, chega. Chega desvairada. Chega! Coração na lágrima, lágrima na mão, a tarde iluminada, propícia para o ato. Quer saber o que eu vim fazer? Olho carregado, verde, fixo, senta junto dele, puxa da bolsa o prêmio. Ele paralisado. Sei que não devia fazer isso, mas por todos estes anos eu carreguei isso em mim. Isso o quê? Culpa, angústia, pesar mais pesado a cada segundo, a cada fração passada ao passar dos seus passos frente a minha casa. Eu nervosa. Será que estou mesmo dizendo essas coisas? Dói. Mas é preciso, porque quando eu te via eu me agüentava, mas ver o que tenho aqui não me deixa em paz. E eu caio. Caí. Hoje mais do que nunca.
Sempre se cruzavam à distância; é a primeira vez em anos tão próximos. Chega o peito pulula, pula empurrando o coração pro céu, junto ao sem número de ações misturadas, buscando um fim onde o amarelo sorriso se abrisse. Ferver, tremer, olhar, arfar. Fugir? Parar, pensar, respirar, prosseguir, falar, tremer, gaguejar, mostrar, parar, esquecer, chorar, querer morrer, desejar, acalmar, acordar, ignorar, mostrar.
É isso, mostrar.
Era um retrato lindo. A moldura estava muito carcomida, a foto num misto de sépia e ocre, sei lá. Minha vista dói. A cabeça dela doía. Ânimo! Lembra? Não lembrava. Uma palavra pra confirmar, apenas? Ele não quer me falar. Olha, eu sei que o que eu fiz foi sem perdão. Essa foto é hoje a nossa única lembrança. A Julinha tinha morrido, nem quis dizer da existência dela para ele, a raiva não deixava. Castigo, esse aborto, só pode ser. Mas ele soube, por terceiros, nunca disse nada, nem na frieza de agora. Alguém de longe vê, estranha a aflição da mulher. Deus me livre de me meter nessas coisas! Chora. Tinha tudo, mas por um erro tudo foi por água abaixo. Os pássaros cantam aos arredores, quem sabe para desentalar a pobre, engasgada nas ações possíveis: Lamentar, chorar, desculpar-se, implorar, sussurrar, se surrar, rever, reviver, remoer, sofrer, entender, partir. Partir? Redargüir, discernir, distinguir, diferir-se, cingir, impor, antepor, por tudo quanto é ação para fora, pra ver se a indiferença passa, a passos menos compassados, se a passividade dele pára. Não vai. A quem eu quero enganar? Ele não quer me responder, nem com um gesto, um olhar, está irredutível. É o fim, conforme-se.
Chega! Tarde demais! Estava arrebentando por dentro de amargura, de arrependimentos, afogada no choro interno. Grito. Grita. Por que nossas vidas tomaram esse rumo? Por um erro apenas meu mundo esses anos todos foi te ver passar longe, ignorando. Por deus, até a filha que vinha você ignorou! Mesmo assim, mesmo nesse eterno nó em que vivia ela ainda o amava. Adeus. Que bobagem a dela; ele nunca se importara, não ia ser agora depois de tantos anos que o faria. Com os gritos, os pássaros se assustaram, deixaram pra lá a paisagem verdejante e ensolarada. Alguém resolve intervir. O coveiro veio num ato de pura gentileza. Você está atrapalhando meu trabalho, dona. Caiu. Em si. Ela deixou o retrato entre os cravos, levantou-se da lápide, as mãos marcadas de tanto esmurrar. Foi puxada, foi embora. Eu te amo, eu te amo, eu te amo.
Wander Shirukaya
* postado pela primeira vez em 2008, no Blog do Silêncio Interrompido
Foto: http://www.aaawindowcleaning.com/images/woman_looking_through_window.jpg
* postado pela primeira vez em 2008, no Blog do Silêncio Interrompido
Foto: http://www.aaawindowcleaning.com/images/woman_looking_through_window.jpg
2 pitacos:
Quer dizer que meu blog merece 6? rs. Gostaria apenas de esclarecer. Eu mudei tudo do blog, e deixei de lado as postagens antigas, se tivesse reparado um pouco mais ia perceber isso. Mas eu me atentei ao seu blog, tem uma proposta interessante. Vou ler o que tiver por aqui e quem sabe cultivar uma amizade(ou parceria).
Só pra constar: esse é o endereço das postagens antiga: www.intimidadeestranhos.blogspot.com
Quanto ao novo: www.bsproducao.blogspot.com
Esse texto é lindo,realmente..é aquele que te prende do começo ao fim..incrivel como histórias mais dolorosas é que faz uma boa história e que em certas vezes bate até com histórias de pessoas que estçao vivendo entre nós e até na familia,não é mesmo?
Eu adorei,particurlamente! excelente texto,blog.
Espero que a criatividade flua cada vez pra vc. Está indo super bem no sentido de blogueiro.
Beijos.
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