06/03/2017

Entrevistando Anna Apolinário




 
Conversei esta semana com a paraibana Anna Apolinário, que lançou recentemente Zarabatana (Patuá, 2016), seu terceiro livro. Batemos um papo sobre poesia, feminismo e muito mais. Confiram!  


Wander Shirukaya - Há pouco tempo você lançou Zarabatana, seu terceiro livro de poemas, em uma editora de circulação nacional. Como tem sido essa experiência e como vem sendo a repercussão do novo trabalho?


Anna Apolinário - Zarabatana é resultado de um minucioso processo de amadurecimento na escrita, costumo pensar num livro como um filho amado e esperado, e este, em particular, veio de uma forma muito especial, quase ritualística. Fiquei bem satisfeita com o trabalho de edição da Patuá, da capa ao colofão, é um livro cheio de detalhes que o tornam uma experiência literária singular. A obra tem sido bem acolhida e tem conquistado seus leitores, é um processo a longo prazo, e espero continuar colhendo os bons frutos deste trabalho.

Wander - Percebo (não sei se é equívoco meu) que muitas autoras da contemporaneidade tem escolhido o corpo como um dos temas de sua poesia, acredito que a sua também siga em partes essa tendência. Por que a questão do corpo se apresenta tão importante na sua poesia, na poesia de outras escritoras de sua geração?

Anna - Corpo, vida, amor, metalinguagem, são temas muito trabalhados em literatura, por homens e mulheres. Cada autor trabalha conforme sua subjetividade, seu arcabouço linguístico. Gosto de tratar dos temas de uma maneira diferente do que já foi feito, tanto já foi escrito, e se for para fazê-lo, que seja algo minimamente novo, esse é sempre o grande desafio. E o corpo, naturalmente, está presente em minha obra, no Zarabatana, por exemplo, os poemas exalam uma força corpórea, incisiva, carnal, visceral, ali tudo incandesce, é sinestésico, numa espécie de grimório, que evoca/invoca poderes ancestrais do sagrado feminino e da poiesis. Acredito que o uso dos temas nas obras, tem sempre uma intencionalidade, é uma maneira de fortalecimento do discurso. Mulheres, hoje, escrevem sobre o que quiser, e é bonito observar que muitas escritoras desenvolveram seu estilo, e o afirmam sem medo em seus textos.

Wander - Em tempos que o discurso feminista ganha mais espaço, como tem sido a vida de uma autora em um meio que privilegia a produção artística masculina? Já se sentiu discriminada em alguma ocasião nesse meio?

Anna - O meio literário é predominantemente machista, isso é gritante e lamentável. Vejo homens exaltando/comentando/resenhando livros de outros homens, prestigiando os lançamentos, é uma “camaradagem” patética.  Aqui na Paraíba, vejo autores
 que organizam eventos e convidam apenas homens (escritores e professores) para palestrar e ministrar oficinas, para falar de poesia, resistência cultural, eles falam, é tudo lindo, mas esquecem que também estão alimentando a segregação e a cultura misógina. Mulheres escrevem e querem ser lidas, querem fazer parte do meio, ajudar a formar leitores, movimentar a cena literária. Muitos criticam o feminismo, rotulam de histeria, mas o discurso feminista existe por causa das atitudes e pensamentos dos homens, é uma reação causada por um ação opressora, temos voz e força para questionar, é preciso quebrar esse círculo vicioso que se estabeleceu.

Wander - O que sugeriria para suavizar eventuais efeitos negativos desse contexto machista?

Anna - Os homens precisam consumir mais conteúdo produzido por mulheres, seja literatura, música, cinema, muitos tentam ignorar essa produção, talvez por receio de ter suas próprias obras ofuscadas, o desejo de ser dono do palco é mais forte, porém é preciso também saber ser plateia, no meio literário os egos são gigantescos, penso que isso é um desperdício de tempo e vida. Mas o fato é que há mulheres escrevendo e publicando, e no fim das contas, o que deveria prevalecer é a arte, a boa literatura, acima de questões de gênero ou rivalidades fúteis.

Wander -  Que autores você admira e que acredita que sejam importantes na sua formação como escritora?

Anna - São muitos, destacaria Herberto Helder, Roberto Piva, Sylvia Plath, Hilda Hilst, Murilo Mendes e Joyce Mansour, estes me são essenciais.

Wander - Recentemente fizeste tua estreia na prosa com um conto na antologia organizada por Lizziane Azevedo e Letícia Palmeira, Ventre Urbano. Achei um projeto muito interessante para conhecer novas facetas da produção literária paraibana. Você gostou da experiência? Pretende investir mais no gênero para expandir seu leque de vivências no campo das artes?

Anna - Sim, Ventre Urbano é um projeto que admiro, gosto muito de fazer parte dele. É uma iniciativa pioneira, de resistência num meio literário predominantemente masculino. É um livro em que todas escrevemos livremente, sem temas, um importante registro da produção literária contemporânea das mulheres paraibanas. Após anos escrevendo poesia, fui convidada a publicar um conto para a antologia, abracei com alegria o desafio, e o resultado tem sido positivo. Espero escrever e publicar mais em prosa, no porvir, é sempre bom se reinventar e se arriscar por outras veredas.

Wander - O que vem por aí? Quais os projetos para esse futuro próximo?

Anna - Um livro em prosa, estou trabalhando para isso, mas não tenho previsão de quando sairá. Por enquanto sigo divulgando meus livros publicados e escrevendo para o projeto que participo (Escritoras Suicidas).

Wander - Deixe uma mensagem aos seus leitores e leitores aqui do blog. Desde já, agradeço sua participação.

Anna - Agradeço o convite, e a mensagem é: Fora Temer!




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