Conversei esta semana com a paraibana Anna Apolinário, que lançou recentemente Zarabatana (Patuá, 2016), seu terceiro livro. Batemos um papo sobre poesia, feminismo e muito mais. Confiram!
Wander Shirukaya - Há pouco tempo você lançou Zarabatana, seu terceiro livro de poemas, em uma editora de circulação
nacional. Como tem sido essa experiência e como vem sendo a repercussão do novo trabalho?
Anna Apolinário - Zarabatana
é resultado de um minucioso processo de amadurecimento na escrita,
costumo pensar num livro como um filho amado e esperado, e este, em
particular, veio de uma forma muito especial, quase ritualística. Fiquei
bem satisfeita com o trabalho de edição da Patuá, da capa ao colofão, é
um livro cheio de detalhes que o tornam uma
experiência literária singular. A obra tem sido bem acolhida e tem
conquistado seus leitores, é um processo a longo prazo, e espero
continuar colhendo os bons frutos deste trabalho.
Wander - Percebo (não sei se é equívoco meu) que muitas autoras da contemporaneidade tem escolhido o corpo como
um dos temas de sua poesia, acredito que a sua também siga em partes
essa tendência. Por que a questão do corpo se apresenta tão importante
na sua poesia, na poesia de outras escritoras de sua geração?
Anna - Corpo,
vida, amor, metalinguagem, são temas muito trabalhados em literatura,
por homens e mulheres. Cada autor trabalha conforme sua subjetividade,
seu arcabouço linguístico. Gosto de tratar dos temas de uma maneira
diferente do que já foi feito, tanto já foi escrito, e se for para
fazê-lo, que seja algo minimamente novo, esse é sempre
o grande desafio. E o corpo, naturalmente, está presente em minha obra,
no Zarabatana, por exemplo, os poemas exalam uma força corpórea,
incisiva, carnal, visceral, ali tudo incandesce, é sinestésico, numa
espécie de grimório, que evoca/invoca poderes ancestrais
do sagrado feminino e da poiesis. Acredito que o uso dos temas
nas obras, tem sempre uma intencionalidade, é uma maneira de
fortalecimento do discurso. Mulheres, hoje, escrevem sobre o que quiser,
e é bonito observar que muitas escritoras desenvolveram
seu estilo, e o afirmam sem medo em seus textos.
Wander - Em tempos que o discurso feminista ganha mais espaço, como tem sido a vida de uma autora em um meio
que privilegia a produção artística masculina? Já se sentiu discriminada em alguma ocasião nesse meio?
Anna - O meio literário é predominantemente machista, isso é gritante e lamentável.
Vejo homens exaltando/comentando/ resenhando livros de outros homens, prestigiando os lançamentos, é uma “camaradagem” patética. Aqui na Paraíba, vejo autores
que
organizam eventos e convidam apenas homens (escritores e professores)
para
palestrar e ministrar oficinas, para falar de poesia, resistência
cultural, eles falam, é tudo lindo, mas esquecem que também estão
alimentando a segregação e a cultura misógina. Mulheres escrevem e
querem ser lidas, querem fazer parte do meio, ajudar a formar
leitores, movimentar a cena literária. Muitos criticam o feminismo,
rotulam de histeria, mas o discurso feminista existe por causa das
atitudes e pensamentos dos homens, é uma reação causada por um ação
opressora, temos voz e força para questionar, é preciso
quebrar esse círculo vicioso que se estabeleceu.
Wander - O que sugeriria para suavizar eventuais efeitos negativos desse contexto machista?
Anna - Os
homens precisam consumir mais conteúdo produzido por mulheres, seja
literatura,
música, cinema, muitos tentam ignorar essa produção, talvez por receio
de ter suas próprias obras ofuscadas, o desejo de ser dono do palco é
mais forte, porém é preciso também saber ser plateia, no meio literário
os egos são gigantescos, penso que isso é um
desperdício de tempo e vida. Mas o fato é que há mulheres escrevendo e
publicando, e no fim das contas, o que deveria prevalecer é a arte, a
boa literatura, acima de questões de gênero ou rivalidades fúteis.
Wander - Que autores você admira e que acredita que sejam importantes na sua formação como escritora?
Anna - São muitos, destacaria Herberto Helder, Roberto Piva, Sylvia Plath, Hilda Hilst, Murilo Mendes e Joyce
Mansour, estes me são essenciais.
Wander - Recentemente fizeste tua estreia na prosa com um conto na antologia
organizada por Lizziane Azevedo
e Letícia Palmeira, Ventre Urbano. Achei um projeto muito interessante
para conhecer novas facetas da produção literária paraibana. Você gostou
da experiência? Pretende investir mais no gênero para expandir seu
leque de vivências no campo das artes?
Anna - Sim,
Ventre Urbano é um projeto que admiro, gosto muito de fazer parte dele.
É uma iniciativa pioneira,
de resistência num meio literário predominantemente masculino. É um
livro em que todas escrevemos livremente, sem temas, um importante
registro da produção literária contemporânea das mulheres paraibanas.
Após anos escrevendo poesia, fui convidada a publicar
um conto para a antologia, abracei com alegria o desafio, e o resultado
tem sido positivo. Espero escrever e publicar mais em prosa, no porvir,
é sempre bom se reinventar e se arriscar por outras veredas.
Wander - O que vem por aí? Quais os projetos para esse futuro próximo?
Anna - Um livro em prosa, estou trabalhando para isso, mas não tenho previsão de quando sairá. Por enquanto sigo
divulgando meus livros publicados e escrevendo para o projeto que participo (Escritoras Suicidas).
Wander - Deixe uma mensagem aos seus leitores e leitores aqui do blog. Desde já, agradeço sua participação.
Anna - Agradeço o convite, e a mensagem é:
Fora Temer!
0 pitacos:
Postar um comentário