Olá, amigos que acompanham este blog. Hoje trago para vocês mais uma entrevista. Estava ontem aqui curtindo meu 100 Broken windows do Idlewild com miojo e, nesse ínterim, entrevistei via chat o amigo e escritor Roberto Menezes. Confiramos então o que rolou desta conversa com direito a Tarantino, Emicida, Física e Literatura Paraibana.
Wander Shirukaya - Como é de praxe, sempre peço a meus entrevistados para fazer uma breve apresentação. Fale um pouco de você.
Roberto Menezes - Meu nome é Roberto Menezes, me chame se quiser de Betomenezes. Sou paraibano de Tibiri, escrevo e sou professor universitário.
Wander - Sei que é professor de física. Como é transitar entre o mundo dos
cálculos e a literatura? A sua atuação nas exatas influencia de alguma
forma em sua literatura?
Betomenezes - São duas coisas completamente distintas. Na minha cabeça, coisas
separadas. Porém, há coisas que considero importante para o estudo da
física e a escrita: a primeira é a busca de soluções criativas para
situações diversas; a segunda coisa é o uso indispensável da técnica que
só se consegue com a prática.
Wander - Interessante. Então suas influências se baseiam mais na literatura
mesmo. Que escritores você citaria como referência da sua prosa?
Betomenezes - Eu não colocaria esta pergunta assim. Não posso colocar nenhum escritor
como referência a minha prosa, pois nunca procurei conscientemente por
essa referência. O que acontece é a influência do que eu leio, do que eu
escuto, do que eu vejo, vai somando à escrita sem estilo, que eu de
maneira consciente vou aceitando ou não. Mas indo a sua pergunta:
Stephen king foi o meu grande primeiro influenciador, José Lins e suas
novelas não nordestinas, Saramago e seus últimos romances escorrendo
estética. É dificil descrever nomes assim, de uma tacada só... Ronaldo
Monte, André Ricardo Aguiar, Valéria Rezende, Geraldo Maciel, Dora
Limeira são pessoas escrevem pra caramba.
Wander - Você está com livro na boca do forno, o Despoemas, que traz contos
fortemente influenciados pela poesia. Seus romances anteriores, O gosto
amargo de qualquer coisa e Pirilampos Cegos também, mas, acredito, de modo
diferente. Como você vê a poesia em sua obra e qual sua relação com a
poesia em si?
Betomenezes - A poesia, demorei a perceber isso, não é simplesmente um monte de versos
empilhados, fazendo graça pra gringo ver. A poesia é um recurso crucial
em um poema, apesar de ter muitos poemas por aí sem poesia alguma. Os
meus livros, principalmente Despoemas, tentam inserir elementos usados
em poemas na prosa, sem deixar se esvair o ato de contar. Há quem
escreva romances como oleiro, há quem escreva como poetas. Como eu digo:
tirando a poesia, o resto é olaria.
Wander - Despoemas também é uma compilação de adaptações. Como foi adaptar
poemas de grandes escritores paraibanos? O que você acha que a boa
adaptação deve conter?
Betomenezes - Eu nunca pensei realmente sobre adaptar um texto, eu simplesmente fui
lendo os poemas e procurando um enredo que coubesse o poema. Era a minha
interpretação dos poemas, bem mais que adaptação.
Wander - A intersemiose entre gêneros anda cada vez mais em evidência. A que você atribui esta situação?
Betomenezes - Eu acho que é a tarantinização das artes.
Wander - Tarantinização [risos]? Tell me more!
Betomenezes - Eu acho que é a tarantinização das artes, onde a influência não se busca
nas mesmas fontes... Um escritor não é feito apenas de ler clássicos,
ele tem que saber o nome da mais nova sub-celebridade da semana passada,
tem que saber o nome do padroeiro de Teresina, tem que saber o barato
que dá a pedra de crack, tem que saber as letras das músicas que
enlouquecem os marmanjos e as meninas. Quando se vai escrever, os
clássicos serão sempre os clássicos, mas a maneira de dizer é outra, é
um mash-up disso tudo.
Wander - Além de lançar livro novo logo mais, você acaba de ser congratulado com o
Prêmio José Lins do Rego. Fale um pouco sobre sua gratificação em
receber tal prêmio e sobre o livro premiado.
Betomenezes - Fico muito feliz, ainda estou digerindo a notícia, foi um livro que me
deu muito trabalho. É um livro de 70 páginas em A4 em um único
parágrafo, todo em caixa baixa, escrito em segunda pessoa, bem ao estilo
Caio Fernando Abreu, porém a choradeira da narradora serve para além do
simples chororô, conta uma narrativa. Esta narrativa se passa em João
Pessoa e entre os vários temas, aborda a política canina e ex-esposa
ferina.
Wander - O que você tem lido ultimamente? Que recomendaria a quem nos lê agora?
Betomenezes - Ultimamente, 80% do que leio é de amigos que me passam textos ou coisa
assim, faço parte do Clube do Conto e do CAIXA BAIXA, logo tenho
material bastante para me entreter por muito tempo. Fora isso, li o
último de Saramago, Caim, e vou começar a ler Levantado do Chão. Contudo
confesso que não sou um leitor veloz, eu estudo muito os livros que
leio. Levei 3 meses pra ler Caim, seis pra ler O Cu de Judas. Quando
leio sou mais que leitor, eu releio frases inteiras pra comprovar o
motivo de este cara ser tão bom, em suma, leio como escritor.
Wander - E quanto à música? Qual sua relação com ela? O que anda ouvindo e recomenda?
Betomenezes - Eu gosto muito de música. Já participei de banda e rock pra mim é a
melhor coisa que tem pra descarregar as preocupações. Gosto de letras
boas, mas não é uma exigência, a música vai além de letra. Mas quem
escreve hoje (e não é rock) letra boa são duas pessoas Siba e Emicida.
Wander - Anteriormente você citou o Clube do Conto e o CAIXA BAIXA, dois
movimentos literários paraibanos. Como você tem visto a "cena" literária da Paraíba?
Betomenezes - Eu acho que a cena literária paraibana está começando a ir além dos
poetas, o Clube do Conto veio desde 2004 pra trazer a prosa com mais
intensidade ao cenário paraibano. Não digo que isso não acontecia, mas
não com tanta intensidade, hoje existem muitos contistas espalhados pela Paraíba inteira. Estes com influências e estilos diversos, não se
restringindo a João Pessoa. O CAIXA BAIXA é um movimento de jovens
escritores que se dividem entre os diversos estilos literários,
geralmente executando vários, que é o que o mais interessante.
Wander - O que podemos esperar de seus projetos futuros e quais são eles?
Betomenezes - Eu tenho um cacetada de conto pronto, faltando lapidação. Um romance
escrito procurando quem publique, três em construção, e um monte na
fila. Espero que daqui pro final de 2019 eu tenha escrito a continuação
de Crônicas de uma Morte Anunciada 2, em castellano.
Wander - Deixe uma mensagem aos leitores do blog.
Betomenezes - Que tipo de mensagem [risos]? Não leia porque dizem que é legal ler, leia o que você gosta de ler.
Wander - Obrigado
Betomenezes - De nada.