Saudações, amigos de blog. Queria voltar à ativa um pouco mais tarde, mas a necessidade de falar está mais forte do que nunca. Sendo assim, vamos à ela.
Em tempo de catástrofes pipocando mais que bala em festa de Cosme e Damião, uma coisa tem chamado a atenção: não dá para ficar alheio ao que acontece por aí. Não importa quem você seja, as pessoas querem a todo custo te forçar a ter um posicionamento sobre algo e, muitas vezes, para ter o gosto de criticá-lo. Com os últimos acontecimentos envolvendo grupos terroristas não é muito diferente. E eu, para infelicidade de alguns, sou Charlie. Desculpa.
Mas por que diabos se posicionar a favor de uma revista francesa enquanto na Nigéria o Boko Haram faz pilhas de vítimas? Por que se sensibilizar com uma revista francesa enquanto as duas Coreias seguem se estranhando, enquanto a Grécia segue com sua crise econômica, enquanto os interiores do Brasil seguem dominados por coronéis, agiotas, ou simplesmente por qualquer um com um ou dois pontos na perícia peixeira?
A resposta é simples e frustrante para muitos dos críticos da sensibilidade alheia que pululam nos twitters da vida: uma coisa não anula a outra. Também me sensibilizo pelas ocorrências na Nigéria (embora os mesmos que me lembrem dela já tenham esquecido do ebola pintando o sete na Libéria), assim como me sensibilizo por pessoas perseguidas por denunciar ações de milícias Brasil afora. É muito importante que esses eventos sejam lembrados e que tenhamos no mínimo consciência do que eles representam para pensar no que podemos ajudar para evitar que tais tragédias se repitam. Como dá para notar, nem tudo chega a nossos ouvidos, o que engrandece ainda mais o papel das opiniões contrárias de nos alertar para tudo o que mais aconteça que mereça nossa sensibilidade ou indignação.
Je suis Charlie, e também sou as vítimas africanas, asiáticas, bolivianas. Aqui é como coração de mãe. Entretanto, como disse, uma coisa não anula a outra. Saio em defesa especial dos cartunistas franceses não por serem franceses, tampouco por serem cartunistas, mas por que a tragédia que os envolve é diretamente tangente ao que já discutimos tantas vezes por aqui em defesa do humor. Ou seja, ao menos para mim, faz imenso sentido alguém que escreve sobre o direito a fazer humor se posicione a favor de alguém que também o fazia. Simples assim.
A crítica dessa postagem não é exatamente a quem insiste em alertar sobre as demais tragédias deste início de ano, mas aquelas que acham ridículo você se sensibilizar por algo que ela julga pífio, sempre começando seu discurso com "nada justifica, claro, mas...". Me parece bobagem esse tipo de comportamento uma vez que ninguém é mais hipster que ninguém só por chorar a morte de alguém lá no Sri Lanka enquanto olhamos a França ou a Nigéria.
Concordo que muitas pessoas podem abraçar a causa francesa sem saber direito o que lá acontece (talvez nem eu mesmo saiba, quem garante?), mas não podia deixar de manifestar apoio, já que sempre prezamos pelo bom humor e pela liberdade dele. Há quem julgue o comportamento dos cartunistas, talvez para no fundo concluir que eles "fizeram por merecer", mas não vou entrar nessa parte. Quem sabe outro dia. A única reivindicação é para que deixemos de lado uma visão binária das coisas. Je suis Charlie et vous aussi. Abraços.
Para quem nunca viu a série sobre humor (que talvez ganhe mais capítulos mais adiante), confira:
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