01/02/2012

Entrevistando Letícia Palmeira


Saudações, grandes amigos que aqui me visitam. Rolava o This is my true: tell me yours, dos Manic Street Preachers aqui enquanto, nessa levadinha light, entrevistei a grandiosa escritora e amiga Letícia Palmeira.  Falamos de mulheres, cigarras, poesia, São Paulo, Paraíba...


Wander Shirukaya- Olá, Letícia. Fale um pouquinho sobre você. Apresente-se a quem nos lê.

Letícia Palmeira - Algum tempo atrás eu costumava dizer que Letícia Palmeira era escritora. Hoje prefiro dizer que sou uma mulher, paulista de vida paraibana, alguém que adora observar capas de livros em livrarias, sou complicada na medida extrema e simples (ao mesmo tempo). Nada demais. Uma pessoa. E adoro dormir. Meu reinado pelo silêncio de um quarto escuro.

Wander - Interessante... Paulista e paraibana. Também sou meio assim. O fato de pertencer a dois lugares, digamos assim, causa algum problema?  

Letícia - Não me causa problemas. Passo por situações engraçadas. Quando converso com pessoas daqui (do Nordeste) elas estranham meu sotaque porque, segundo elas, tenho algo de estranho quando falo. E, quando converso com pessoas de outros lugares (do Sul, por exemplo) elas dizem que perdi completamente o sotaque. Bem no início, quando vim morar em João Pessoa sofri um bocado. Eu gostava de São Paulo. Combinava comigo. Mas me acostumei a viver longe. Talvez eu volte um dia. Talvez não. Quem sabe...
Wander -  Você acredita que isso tem alguma influência no que você escreve?

Letícia - Acredito que sim. Não somente pela questão de mudança de cidade. Mas por tudo que vi e pelas experiências que passei com minha família. Em São Paulo eu vi o concreto. E aqui, em João Pessoa, eu ouvia cigarras cantando no fim da tarde. Hoje está tudo muito parecido. João Pessoa se tornou gente grande. Há muito mais concreto que antes. E eu carrego isso tudo quando escrevo: o asfato da infância  e as cigarras das árvores de João Pessoa. Engraçado é que não ouço mais cigarras por aqui. 

Wander - Sendo eu já conhecedor de um pouco da sua obra, percebo também uma certa preocupação nas representações de gênero, em especial, o feminino. O que tenta passar através das mulheres de suas narrativas?

Letícia - Eu gosto de escrever a respeito de mulheres porque me vejo em cada uma delas. Gosto de sentir o que escrevo e por isso crio muitas personagens femininas. Talvez isto seja visto como uma falha de minha parte (por ser escritora e não conseguir me focar em personagens masculinos). Que seja falha. Mas, por enquanto, escreverei  mulheres. Vivo mais quando as escrevo. 

Wander - Também essa "tendência" feminina se reflete em suas influências? Que escritores te inspiram?

Letícia - Eu leio de tudo. Gosto muito do Cortázar. Mais ainda do Edgar Allan Poe. Viciada em Jane Austen. Clarice Lispector. Lygia Fagundes Telles. Mas o Bukowski é sempre a influência mais forte. Embora eu não construa poemas falando de amores e orgias e bebida, sempre que leio Bukowski sinto mais vontade de criar. E, para não fugir de minhas regras, a Virginia Woolf é o meu motivo de inveja.  Mas, na verdade, minha inspiração sempre vem do que estou lendo (no momento). E agora estou seriamente influenciada pela Katherine Mansfield. 

Wander - Legal. E quanto a música? Sempre converso com os entrevistados sobre isso. Ela influi em algo da sua escrita?

Letícia - Completamente. Não escrevo sem música. Não passo o dia sem ouvir música. Não consigo. Eu ouço rock, clássica, mpb. Ouço The Smiths e, no minuto seguinte, ouço Elis Regina. E assim passo os dias. 

Wander - Ouve música até durante o processo de escrita? Uma espécie de ritual? É comum alguns escritores terem uma prática repetida na hora de escrever...

Letícia - Eu tenho esse ritual. Sempre ouço música enquanto escrevo. E uso headphones. Paro apenas quando vou revisar. Prefiro ouvir música a ouvir a voz de meu vizinho. 

Wander - A vizinhança, sempre ela... Bom, percebo que tende mais à prosa. Não te agrada a poesia?

Letícia - Sim. Gosto de poesia. Adélia Prado, Ana Cristina César, Cummings, Fernando Pessoa e seus outros. Eu escrevo algo que não mostro para ninguém. Eu digo que é poesia. Mas, como sei que poesia não é para todos, me guardo. Gosto de escrever prosa poética. Esta é minha forma de dizer que posso, um dia, vir a trabalhar com poesia. 

Wander -  E um possível romance?

Letícia - Eu escrevi algo que tem forma de romance, tem cara de romance e muitas outras características de romance. Talvez eu o publique. Preciso revisar e só. 

Wander - Pode adiantar algo sobre ele? 

Leticia - O romance começou quando eu fazia parte de um blogue coletivo e, na pressão de publicar, comecei a história. Não pensei que fosse continuar. É bem comum. Uma mulher, uma irmã, alguns amores, muitas mentiras e um final. 

Wander - Você faz parte do CAIXA BAIXA, núcleo de jovens escritores paraibanos, junto de pessoas como eu [risos]. Fale um pouco da sua experiência neste grupo.

Letícia - Tenho pouca experiência no Caixa Baixa. Mas já percebi que se trata de um grupo de pessoas que está tentando fazer um trabalho que seja respeitado. Eu costumava fugir de grupos literários porque sempre achei que egos pudessem atrapalhar e também não gosto muito de andar em bandos. Mas mudei de ideia. Hoje gosto de fazer parte. Também participo de outro projeto. Acho válida a troca de experiências. Só não gosto da burocracia. Assinar atas e coisas do tipo. Sou meio desligada quanto a estas coisas.

Wander - Que outro projeto é esse?

Letícia - Caneta, Lente e Pincel. Eu gosto bastante. O grupo trabalha com imagens e textos inspirados nestas imagens. Às vezes perco o prazo de entrega do trabalho e esta é a única parte ruim. 

Wander - Chegando então ao final, deixe aqui uma mensagem aos leitores do blog.

Leticia - Difícil. Nem sei o que dizer. Talvez um olá, ou tchau, ou "leiam autores desconhecidos". Ou "troquem seu cachorro por uma criança pobre" e nunca acreditem em comercias de tevê. 

Wander -  Veleu [risos]. Obrigado.

Letícia - Obrigada. See you. Beijos. 

 


2 pitacos:

muito boas tuas entrevistas, wander.
descontraídas e engraçadas.

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