14/04/2012

Desencapetando o riso (parte IV)


Ah, que saudade daquele humor inocente...

Bem, amigos, cá estou para analisarmos um pouquinho mais o que há de certo/errado com o humor, com a comédia, com o riso no mundo das artes. O subtítulo que evocamos aqui hoje é para comentarmos um discurso que tem sido muito famoso nos dias de hoje, visto que estamos seguindo uma tendência um tanto rigorosa para que não sejamos "ofensivos" com aqueles que não nos são iguais. As implicações desse discurso são simples: humor tende a ser rechaçado, pois caçoar dos outros não tem (ou não deveria ter) graça nenhuma. Entretanto, se repararmos direitinho, o chiste se mistura a generalizações e estereótipos desde muito tempo (peço desculpas por não ter dados que nos mostrem desde quando isso acontece). Na piada  acima vemos que há menção a deficientes, fato que pode ser ofensivo. A meu ver, temos de destacar uma expressão aqui: pode ser, não é, necessariamente. Já foi dito uma vez que rimos desse tipo de piada por causa de certo "alívio" que ela nos causa, do tipo "puxa, ainda bem que não foi comigo", de modo semelhante a quando rimos de alguém que tropeça no meio da rua (você riu da mulher de laranja?). Isso necessariamente não implica em repúdio ao alvo da piada, o que acontece desde sempre. Não há, acredito eu, motivos para se sentir saudade daquele tempo do humor "menos apelativo". Não é de hoje, por exemplo, que brincamos com os portugueses, assim como eles brincam conosco, brasileiros. 
Um bom exemplo desse discurso e que já vi em várias redes sociais é gente dizendo que "bom mesmo era na época do Chaves, pois não tinha dessas coisas". Talvez a coisa seja aí mais para "naquele tempo eu não percebia que tinha dessas coisas".
Bullying (todos os personagens são sacaneados; Kiko por ser "burro", Chiquinha por ser baixinha, Chaves por ser pobre, D. Clotilde por ser velha e assim por diante), violência contra a criança (Chaves apanha direto), incitação à inadimplência (Seu Madruga não paga o aluguel, Jaiminho mal entrega as cartas por mera preguiça), são muitas as "acusações" que, se quiséssemos, poderíamos utilizar para dizermos que não gostamos do seriado, mas, no entanto, ele é o ganha-pão do SBT há décadas, repetindo a mesma fórmula. Resumindo: parece que as nossas convicções morais estão confundindo um pouco as coisas. Um humorista que faz piadas com negros, por exemplo, nem sempre será um daqueles racistas que lhe negam um emprego por causa da sua cor; um que faça piada sobre deficientes nem sempre será aquele homem que estaciona na vaga dos cadeirantes ou que finge que está dormindo para não lhe dar lugar no ônibus. Assim, como tudo nessa vida, parece que nossa principal deficiência tem sido a falta de bom senso. Reflitamos. 



 Confira também a parte 1 , a parte 2 e a parte 3.


1 pitacos:

dificilmente há bom humor sem preconceito e generalização e com compaixão
todos nós temos defeitos
e é contra eles que a comédia atua
quem não gostar que vá ser perfeito

aí uns podem dizer que há exageros
e crueldade no humorismo
e eu digo que há muito mais exageros e crueldade fora dele

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