03/01/2012

A fidelidade em debate (parte III)



Feliz 2012 a todos! Como as coisas não param nem se o mundo acabar, vamos a mais uma postagem aqui neste blog. Para começar o ano bem, eu acho, continuo com a série de discussões sobre adaptações nos mais variados segmentos artísticos, no intento de problematizar um pouco as famosas afirmações de que "adaptação boa é aquele que é fiel" ou "adaptação boa é a que não é fiel ao texto de origem (doravante chamado texto-fonte, não importando qual a expressão artítica empregada em sua composição".
Para já começar bem, trago algo um tanto incomum: em Mardock Scramble (foto 1) temos a adaptação da série de romances de Tow Ubukata para mangá e, como de praxe no japão, para o anime (em uma série de OVA, para ser mais específico). O destaque aqui não vai apenas para a dificuldade de transposição/ edição do enredo, mas da renderização de personagens e cenários. Como não há atores, o desenvolvimento da ambientação sci-fi/ cyberpunk do série fica por conta da equipe de ilustradores, o que já traz grandes problemas ao ato de adaptar, pois sua produção depende de um grupo muito extenso, tal como no cinema, mas com foco na recriação de tudo em computação gráfica.  


E o que dizer quando a adaptação busca o tom de paródia, como em As patricinhas de Beverly Hills (foto 2)? A paródia buscará outro tipo estilização com relação ao texto-fonte, descarcterizando qualquer premissa deste segundo. Entretanto, o filme foi grande sucesso, tal como o texto fonte, Emma, da Jane Austen. Cá entre nós, o feito não é muito simples, pois o humor, ainda infelizmente, é muito mal visto no mundo das artes - não me aterei aos motivos aqui, pois isto daria uma bíblia de comentários. 



Por fim, pensemos agora o exemplo de Amor em quatro atos (foto 3), que adapta canções do velho Chico (Buarque, não é o Rio São Francisco) para o formato da TV. A combinação, para início de conversa, é bastante incomum, da música, uma obra de curta duração que condesa em breves versos relação com arranjos sonoros diversos, com a TV, que, além de depender de equipes maiores em sua composição, está presa a diversos parâmetros impostos à TV, por exemplo, a censura, a aceitação do público comom àquele segmento, etc. Reparemos que uma música, apesar das diversas relações entre a letra (que nem sempre existe) e os fatores rítmicos/ melódicos/ harmônicos envolvidos, é muito mais curta (em duração física mesmo) do que o de um capítulo de série de TV, geralmente contando meia hora (a não ser que a canção seja um épico progressivo, rs.). Sendo assim, o diretor tem que desdobrar a canção em uma narrativa, o que, de cara, já o tornaria "infiel" ao texto-fonte, já que uma letra/ poema tende a não ser narrativa. Assim, cabe ao diretor fazer recortes e tentar recriar/ dialogar com a ambientação do texto-fonte de outra forma, desprendendo-se ainda mais da noção de que a qualidade está necessariamente vinculada à fidelidade.
E então mais exemplos? Comentários? Sugestões? Vocês com a palavra! 



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